28 de março de 2024
Ligia Cruz

2016 vade retro

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O que mais se ouve e se lê nesse apagar das luzes de 2016 é que foi o pior ano da história para muitos. Difícil eleger anos felizes quando a humanidade continua dizimando a si mesma por suas diferenças e a outras espécies do planeta por julgarem-nas menores em importância.
O que dizer do pobre povo sírio jogado de um lado a outro porque ninguém o quer. Aliás, quem quer quem naquele pedaço sangrento do mapa? O povo migra carregando seus filhos e o pouco que sobrou do que um dia foi um lar. São vítimas três vezes: da guerra, do terrorismo e do descaso do resto do mundo. Como entender o intrincado jogo de poder em que estão metidas? Escolher um lado em meio à guerra é o mesmo que eleger quem vai te deixar viver um pouco mais. É o caso do cristão sírio, que ora se coloca sob a guarda do sanguinário Assad e amanhã não se sabe.
E, tristemente, em meio ao próprio povo, diferenças étnicas põem em lados opostos vítimas amputadas a se entreolharem sobre sorte tão comum, naqueles centros de despojos humanos que nem mais se parecem com hospitais de campanha. Ninguém tem mais nada lá. Quiçá um pouco de fé de que suas meninas não sejam sequestradas como escravas sexuais, quando a infância nem mesmo acabou, pela escória humana que se intitula Estado Islâmico.
E não é só na Síria. A versão africana do Estado Islâmico, o Boko Haram, também promove uma escalada covarde sobre meninas de inúmeras tribos. E meninos também. Todos com sonhos extirpados por facínoras armados que se acobertam sobre o véu da religiosidade.
Agora mesmo, continua o infanticídio e abuso de crianças na República Centro Africana e também no Sudão do Sul, países que vivem o genocídio de diferentes etnias. São órfãos da miséria humana, da falta de respeito e de amor ao próximo.
Por aqui a nossa guerra é de fazer escárnio, de sangrar a alma. A corrupção avança em escalada inimaginável e faz milhares de vítimas todos os dias. O algoz é a corrupção. Deputados, senadores, prefeitos, vereadores, cônjuges e apaniguados de todos os níveis respiram em poucos metros quadrados, pela primeira vez.  E tomar conhecimento de uma nova acusação a cada dia é como matar o brasileiro em agonizante asfixia. Nossas vítimas ainda não estão em estatísticas, porque teríamos que somar quem morre em hospitais decadentes, pela angústia do desemprego, pela falta de infraestrutura, pelo preconceito de gênero e muitas razões mais. Dá medo fazer essa conta. E só está no começo. Chega 2016!

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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