Logo após as chuvas diluvianas devastarem a cidade de Petrópolis, o mundo acordou com ameaça de uma possível guerra mundial, quiçá com os terrificantes cogumelos nucleares, numa prova cabal da insensatez do homem na sua desvairada ambição de poder.
Se a Região Serrana do Rio de Janeiro sofreu a fúria dos céus, a Ucrânia enfrentou a invasão russa, condenada por 147 países, incluído o Brasil, em que mísseis destruíram as cidades de Kharkiv e Kiev.
A avalanche petropolitana de 15 de fevereiro, a pior de sua história, afundou a cidade na lama com um índice recorde de óbitos. desaparecidos e desabrigados.
A cidade serrana desencadeou um gigantesco movimento de solidariedade humana, que só dignifica o sentimento de fraternidade que o povo brasileiro cultiva em seu coração e mente.
O Presidente Bolsonaro sobrevoou a cidade devastada pela terrível destruição.
Comovido com o triste cenário, logo o comparou ao “quase que de guerra” da Ucrânia, invadida pela loucura de um ditador obcecado em reconstruir o antigo império do terror soviético.
O Presidente da República liberou o repasse emergencial de R$ 2,3 milhões para Petrópolis.
As tragédias da cidade, castigada por fortes chuvas, desde 1922, expõem a permanente má execução dos recursos públicos e encobrem o terrível descaso dos gestores públicos eleitos na missão humanitária de reduzir os efeitos das catástrofes.
O plano de habitação de 2017 registrou 30 mil casas em áreas de risco de deslizamentos de terra, em Petrópolis, um número que hoje deve beirar 50 mil casas.
Infelizmente, as medidas preventivas, eleitoralmente prometidas, nunca saíram do papel.
Além das omissas obras de contenção das encostas, faltou o trabalho de limpeza dos canais que serpenteiam a cidade e a construção de bueiros para a água represada não inundar as ruas.
A única prevenção foi a instalação de sirenes. Mesmo assim, somente 18!
O atual Governador do RJ declarou que não é a primeira vez que o município fica debaixo d’água e da lama.
Admitiu a negligência histórica, sem o seu mea culpa por somente investir 47% do orçamento para o Programa de Prevenção e Respostas a Desastres. Tenta se justificar:
“O que a gente tem que entender é que há uma dívida histórica desde outras tragédias que tiveram…Foi a maior chuva desde 1932. Unir uma tragédia histórica com um déficit que realmente existe causou esse estrago todo”.
Não basta se enaltecer o sentimento de solidariedade: é preciso agir e reivindicar a imediata implantação de medidas preventivas: um planejamento urbano consistente com a construção de sistemas eficientes de drenagem, a desocupação de áreas de risco, a criação de reservas florestais nas margens dos rios, a fiscalização da geração de lixo e a inadiável construção de casas populares em áreas seguras.
O ano de 2022 é o bem-vindo ano eleitoral.
Os habitantes irão às urnas para decidir o destino da cidade.
Exigir pelo voto o direito de sobrevivência numa cidade abandonada pelos gestores públicos e pelos imorais políticos, que aviltam a democracia.
A tragédia humanitária de Petrópolis teria sido evitada ou contido o seu impacto destrutivo, se as justas reivindicações socioambientais tivessem sido postas em prática, a tempo.
É hora de salvar Petrópolis do abandono do passado e da gestão ineficiente.
Que Deus proteja a cidade de Petrópolis e os seus habitantes da tóxica política.
Advogado da Petrobras, jornalista, Master of Compatível Law pela Georgetown University, Washington.