20 de abril de 2024
Veículos

Maio amarelo 2022: menos fiscalização, mais acidentes

Estamos entrando no Maio Amarelo, mês e cor que, desde 2014, são dedicados aqui no Brasil a uma campanha nacional de conscientização no trânsito. Tudo começou com uma resolução da ONU, de 2010, que definiu que os dez anos seguintes seriam considerados como a “Década de Ações para a Segurança no Trânsito”, sendo ampliada, em 2020, para o decênio 2021-2030, com a meta de reduzir globalmente em pelo menos 50% as lesões e mortes no trânsito. A justificativa é meio óbvia: no mundo, morrem nas estradas e ruas mais de 3.500 pessoas todos os dias por conta de acidentes, e outras 50 milhões sofrem ferimentos. Números de vítimas maiores que os das guerras.

Tudo isso, porém, parece não impressionar ou motivar as autoridades brasileiras nos últimos anos. De 2019 para cá, o número de ações de fiscalização nas estradas vem sendo reduzido expressivamente. Enquanto isso – que surpresa –, depois de um longo período de queda, a quantidade de vítimas de acidentes tem aumentado. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informa, por exemplo, que, em 2021, motoristas que haviam ingerido álcool e drogas foram os causadores diretos de 8,4% das mortes nas estradas federais brasileiras, com 452 ocorrências. E, no total, foram registrados 4.532 desastres que tiveram o álcool como causa no ano passado.

Estou usando essas infrações especificamente porque foi a respeito delas que recebi dados, gentilmente enviados pela da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra). Mas vale lembrar que, ao fiscalizar os veículos nas estradas, a Polícia Rodoviária também verifica outros itens que podem ser responsáveis por um número até maior de acidentes, como as condições mecânicas e de segurança e a velocidade com que esses veículos estão circulando.

Como comparação, em 2019, a PRF realizou 17.274 fiscalizações, com 19.966 infrações por direção sob efeito de álcool e de substâncias psicoativas registradas, numa média de 115 infrações anotadas para cada 100 fiscalizações. No ano seguinte, foram apenas 6.787 operações de fiscalização e 13.724 infrações registradas, com a média subindo para 202 infrações para cada 100. E, em 2021, quando apenas 5.329 ações aconteceram nas estradas, registraram 12.116 infrações, com uma média de 227 para cada 100 fiscalizações.

Para deixar bem claro: a redução no número de infrações de trânsito por consumo de bebida só “diminuiu” porque não houve fiscalização. Proporcionalmente, porém, o número de motoristas autuados por estarem dirigindo alcoolizados ou drogados aumentou. Entre 2020 e 2021, por exemplo, dois anos em que estávamos sob os mesmos efeitos da pandemia de Covid 19, a quantidade total de acidentes nas estradas cresceu em mil casos, chegando a 63.447 registros. Somente no último feriado de Carnaval, houve um aumento de 18% no número de mortes e de 16% no de acidentes graves nas estradas em relação ao ano passado.

A redução da fiscalização faz com que muitos motoristas achem que estão liberados para usar as estradas como quiserem, sem precisarem respeitar nenhum tipo de limite, bom senso ou respeito ao próximo. E, no fundo, mais do que qualquer lei, são esses os princípios básicos que deveriam ser naturalmente adotados por todos nós.

No calendário, esse Maio Amarelo acaba meio diluído entre tantos outros temas e cores, que nos chamam a atenção sobre a prevenção de doenças e condições de saúde. Mas, diferentemente da maioria desses outros temas, para diminuir as mortes no trânsito, não precisamos de nenhum médico ou laboratório para fazer os exames preventivos e tratamentos necessários. Basta prestar mais atenção em como dirigimos, todos os dias, como interagimos com os outros – motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres – quando estamos ao volante, em vez de seguir por estradas e ruas de forma quase automática. As leis e normas, os limites e restrições, não existem “contra nós”, não são feitos para “cercear a nossa liberdade”, e sim para proteger os outros e a nós mesmos. Entender isso já faz uma enorme diferença.

Fonte: Blog Rebimboca

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *