3 de outubro de 2024
Veículos

Espaço, a fronteira final: test-drive do Citroën C3 Aircross

Experimentamos a versão Shine de cinco lugares, que custa R$ 130 mil*, e esbanja espaço interno. Será que vale a pena?

No começo de setembro, tive a oportunidade de fazer um test-drive de uma semana com o Citroën C3 Aircross, na versão Shine de cinco lugares que você vê nas fotos. Ele é a opção mais familiar da atual linha nacional da Citroën e, com versões que partem de R$ 115 mil*, entrou este ano no mercado com apetite para abocanhar uma fatia do concorrido segmento dos SUVs compactos. Se tem atributos suficientes para isso? Procuro ajudar a responder essa pergunta neste post.

Em minha semana de avaliação deste C3 Aircross, só não tive oportunidade de viajar com ele. De resto, usei o carro em praticamente todas as situações pelas quais alguém passa em sua rotina urbana, com ou sem a família. Do uso básico diário – no percurso de pouco mais de 4 km de casa para o trabalho, e na volta – a compras no supermercado, passeio no fim de semana e até o transporte de grandes objetos para ajudar um filho na mudança. Rodei sozinho e em até cinco pessoas a bordo, no trânsito pesado e em vias expressas, no plano e em subidas beeeem íngremes.

Os pontos altos do Citroën C3 Aircross

Comecemos pelo maior dos destaques: relativamente compacto por fora – são 4,3m (veja a ficha técnica completa no final do texto) –, esse Aircross tem um espaço bem generoso por dentro. Como comparação, seu entre-eixos, de 2,67m, é praticamente o mesmo de um Renault Duster (que é apenas 2 mm menor) e nele viajam, com folga, cinco adultos. Com o banco do motorista regulado para meus 1,87m, dava até para um adulto sentado atrás cruzar suas pernas.

E, no porta-malas, a capacidade declarada é de 493 litros. O acesso é fácil e cheguei a colocar ali, sem maiores problemas, uma cadeira de escritório grande, daquelas com rodinhas, deitada. Isso e mais uma boa quantidade de sacolas e bolsas. Além do espaço, contribuem para o conforto geral bancos com boa densidade, que acomodam bem os passageiros.

Outra coisa que vale destacar é o acerto de suspensão desse Aircross. Tenho a impressão de que ele é o carro mais macio que guiei este ano. Em si, o conjunto não tem nada demais – uma banal combinação do sistema McPherson na dianteira e barra de torção na traseira, rodas (aro 17) e pneus (215/60). Mas ele consegue absorver boa parte das imperfeições do caminho, trazendo suavidade para bordo. E, ainda assim, mesmo com seus 20 cm de altura em relação ao solo, a estabilidade do carro é boa para sua categoria, e passa bastante confiança, mesmo em curvas de maior velocidade, ou manobras mais bruscas.

E aí chegamos ao terceiro ponto alto do C3 Aircross: seu conjunto mecânico. Ele usa o motor 1.0 Turbo 200 de três cilindros da Stellantis – que também equipa versões dos Fiat Pulse, Fastback e Strada; dos Peugeot 208 e 2008 e do “maninho” C3. São até 130cv de potência (com etanol) e 20,4 kgfm de torque (gasolina ou etanol), gerenciados por um câmbio CVT (continuamente variável) que simula 7 marchas.

Assim como na suspensão, o pessoal da Citroën foi muito feliz no ajustes desse pacote, e com ele o SUV é um carro ágil, com respostas rápidas e, ao mesmo tempo, suaves para todas as situações, mesmo sem a escondidinha tecla “sport”, que eleva um pouco os giros do motor, acionada. E, rodando com álcool – ou etanol, se preferirem –, naquelas condições que mencionei lá no segundo parágrafo, em ciclo quase que exclusivamente urbano, obtive uma boa média geral de 7,5 km/litro. E, embora esteja longe de ser um “carro esporte”, tudo isso junto faz com que o C3 Aircross seja um carro gostoso de se guiar.

O que não gostei no Citroën C3 Aircross

O desenho da carroceria desse Aircross merece estar nos parágrafos anteriores, pois é elegante, jovial, original e passa uma ótima impressão. Por isso mesmo, seu acabamento interno, todo em plástico rígido e de aparência simples, destoa bastante do que se vê por fora. Mesmo nesta versão Shine, que é mais equipada, não há partes emborrachadas nos painéis. As únicas “bossas” estão em parte do painel diante do carona, que como no mano menor C3 hatch, tem um tom azul metálico, com textura diferente, e nas saídas da ventilação/ar-condicionado que têm um desenho interessante. O painel de instrumentos (que conta com indicação de velocidade e conta-giros digitais ao centro, e pouco mais que isso) e os itens restantes do espaço dianteiro também são mesmos do hatch de entrada, quase espartanos de tão básicos.

A multimídia também é a mesma, mas essa tem bom padrão, tanto estético quando de usabilidade. Já os botões de acionamento dos vidros das portas traseiras, que ficam no console entre os bancos dianteiros, não são muito práticos. Menos ainda é o já mencionado botão “sport”, que eleva os giros do motor, retardando a evolução do câmbio e torna o carro um pouco mais nervoso. Ele fica escondido em um conjunto atrás e abaixo do volante, à esquerda, entre outros comandos (como as travas de vidros e portas), e é virtualmente invisível, a menos que você se se contorça um pouco – algo não muito recomendável de se fazer com o carro em movimento. E, pra complicar um pouco mais, não há indicação de acionamento desse recurso no painel do carro.

Outro ponto baixo é a chave do Aircross. Vá lá que não seja do tipo presencial com partida por botão, mas poderia ser pelo menos do tipo canivete. Não, é rígida, pontuda, daquelas que acabam furando os bolsos das calças. E, no capítulo de “ficou faltando”, entram também itens como espelho retrovisor interno com ação antiofuscante (fotocrômico) e alguns recursos básicos de segurança passiva autônoma – pelo menos o aviso de objetos no ponto cego.

Fecho meu pacote de críticas com o nível de ruído interno – que, assim como o acabamento, destoa da “boa pinta” desse C3 Aircross. Parado num sinal vermelho, com o motor em marcha lenta, dá para escutar um tilintar metálico vindo do motor, e até alguma vibração. E, em velocidades mais altas, especialmente quando os giros estão mais elevados, o barulho é considerável e, novamente, destoa do grande conforto geral. Como a suspensão é ótima no amortecimento e filtragem das imperfeições do caminho, concluo que a questão seja mesmo falta de isolamento acústico.

E então, o Citroën C3 Aircross Shine vale a pena?

Como já comentei em outros posts e test-drives, acho que uma das missões mais difíceis do mundo deve ser definir o equilíbrio entre “recheio e preço” dos automóveis. As reuniões entre o marketing de mercado, o financeiro e a engenharia das montadoras devem ser mais tensas que final de campeonato de futebol. No caso desse Citroën C3 Aircross, acho que essas contas todas levaram a um SUV com um dos melhores (se não o melhor) “custo-espaço” do mercado, e também um dos consequentes mais altos índices de conforto. E, agregou ainda, um ótimo conjunto mecânico.

Por outro lado, essa ginástica técnico financeira também foi responsável pela criação de um dos modelos mais simples em termos de acabamento e recursos. Ele traz, sim, o básico, mas fica devendo alguns detalhes que podem decepcionar e o deixam, sob esse aspecto, um pouco atrás de seus concorrentes mais diretos.

Na ponta do lápis, porém, a estratégia faz com que seu custo seja muito competitivo. Numa apuração de 5 minutos, nos sites de algumas outras marcas, busquei algumas versões que, penso, competem mais diretamente com esse Citroën C3 Aircross Shine de cinco lugares e seus R$ 130 mil*:

Renault Duster Intense Plus manual, como motor 1.6 aspirado (o mais em conta da linha): R$ 127.990 (o Duster automático mais barato, também 1.6 aspirado, sai por R$ 136.890);

O VW T-Cross 200 TSI 2025, por R$ 146.990; O Chevrolet Tracker LT AT Turbo, por R$ 144.490 (a versão mais simples sai por R$ 119.900);

Fiat Pulse Audace T200 (o mais barato da gama com o mesmo motor), por R$ 122.990.

Na prática, o Citroën C3 Aircross é uma das melhores opções de carro familiar no segmento, e se destaca em sua faixa de preço. A decisão de compra acaba se resumindo ao que se valoriza (ou do que se necessita) mais: espaço ou recursos e padrão de acabamento.

Qual seria a sua escolha?

(*) O preço sugerido no site da Citroën é de R$ 114.990 para a versão de entrada Feel e de R$ 129.990 para a Shine deste teste, mas este colunista não acredita que R$ 10 tenham algum significado prático nessa ordem de grandeza numérica. Um Aircross idêntico ao das fotos, com pintura especial, sai por R$ 132.390,00.

Ficha técnica – Novo Citroën C3 Aircross Shine Turbo 200 (dados do fabricante)

Motor

Posição: Dianteiro, transversal, com turbocompressor e wastegate elétrica

Número de cilindros: 3 em linha

Diâmetro x curso: 70,0 x 86,5 mm

Cilindrada total: 999 cm³

Taxa de compressão: 10,5:1

Nº de válvulas por cilindro: 4

Comando de válvulas: no cabeçote, com sistema eletrohidráulico MultiAir III, com um eixo para as válvulas de escape

Injeção: direta

Combustível: Gasolina/etanol

Potência: 125 cv (gasolina) / 130 cv (etanol) a 5.750 rpm

Torque: 20,4 kgfm a 1.750 rpm (gasolina/etanol)

Transmissão

Câmbio automático, CVT (Continuamente Variável), com (simulação de) 7 marchas

Relações de transmissão:

1ª: 2,270

2ª: 1,600

3ª: 1,200

4ª: 0,940

5ª: 0,740

6ª: 0,580

7ª: 0,460

Ré: 2,604 a 0,416

Diferencial: 5,698

Tração: dianteira

Sistema de freios

Dianteiro: Disco ventilado (diâmetro de 284 x 22 mm) com pinça flutuante

Traseiro: Tambor (diâmetro de 228 mm), autoajustável

Suspensão

Dianteira tipo Independente, McPherson com barra estabilizadora

Amortecedores: Hidráulicos e pressurizados com stop hidráulico

Elemento elástico: Molas helicoidais

Traseira tipo dependente, Eixo de torção

Amortecedores: Hidráulicos e pressurizados

Elemento elástico: Molas helicoidais

Direção

Assistência: Elétrica

Diâmetro de giro: 10,8 metros

Rodas

Medidas: 17” – liga-leve

Pneus: 215/60 R17

Dimensões externas/capacidades

Comprimento: 4.320 mm

Largura da carroceria: 1.796 mm (s/espelhos) / 2.019 mm (c/espelhos)

Altura do veículo: 1.651 mm (sem barras) / 1.673 mm (c/barras no teto)

Distância entre eixos: 2.675 mm

Altura mínima do solo: 200 mm

Ângulo de entrada: 23,8°

Ângulo de saída: 32º

Volume do porta-malas: 493 litros (VDA)

Tanque de combustível: 47 litros

Peso do veículo em ordem de marcha: 1.216 kg

Capacidade de carga: 400 kg

Performance

Aceleração de 0 a 100 km/h: 9,9 s (gasolina) / 9,7 s (etanol)

Velocidade máxima: 191 km/h (gasolina/etanol)

Consumo PBEV

Urbano: 10,6 km/l (gasolina) / 7,4 km/l (etanol)

Estrada: 12,0 km/l (gasolina) / 8,6 km/l (etanol)

fotos de Henrique Koifman

Fonte: Rebimboca Comunicação

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

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