Evito falar de futuro, sem levar em conta o coronavírus. Acho que ele determina nosso futuro imediato e marcará também, de certa maneira, os novos tempos.
Estamos no auge da pandemia no Brasil. Não custa nada, entretanto, observar como os países estão fazendo a transição para a nova normalidade, uma vez superado o pico da doença.
Tenho muito medo desse processo no Brasil. Eu o desejo muito porque todos, de alguma maneira, temos de retomar as atividades.
Mas o nível de planejamento que alguns países utilizam é muito superior ao que estamos acostumados a fazer aqui. Tenho medo de passarmos a uma nova fase, sem o preparo adequado, expondo-nos a recaídas e novos isolamentos sociais.
As escolas na Europa estão sendo fisicamente redesenhadas. Angela Merkel convocou uma reunião nacional para debater os passos em cada região.
No Brasil, por exemplo, há um mapa de São Paulo indicando um grande número de cidades onde o vírus não chegou. Essas cidades têm condições se bem assistidas de não apenas de evitar que ele chegue mas principalmente de não deixar que se espalhe, rastreando rigorosamente os primeiros casos.
Restaurantes terão de ser redesenhados, casas de espetáculo, o próprio campeonato de futebol, quando voltar, terá de ser disputado com as arquibancadas vazias.
O que me espanta nas pessoas que são contra o isolamento é que não se importam com a hora precisa de voltar às atividades. Muito menos se interessam por um planejamento adequado para isso.
Bolsonaro tem espasmos: vamos trazer de novo o futebol. O Governador de Brasília quer que a decisão do do campeonato carioca aconteça num estádio onde há um hospital de campanha.
As pessoas que acham que a quarentena que salvou milhares de vidas não deveria ser decretada, acham que a volta deveria pura e simplesmente se dar como se nada tivesse acontecido, como se o vírus fosse mesmo apenas uma gripezinha.
O problema é que, por outro lado, as pessoas que decretaram a quarentena estão ainda tão envolvidas com a pandemia que ainda não tiveram tempo de planejar a volta.
Sei que estou pedindo muito: enfrentar a pandemia e planejar a volta, simultaneamente. Mas deveria haver pelo menos um debate sobre as condições necessárias. Uma delas é o avanço na testagem. Em muitos lugares da Europa e até na própria Brasília, é possível fazer o teste no sistema drivethru.
Vai ser preciso ter muito teste acessível ao longo de todo o período duro, e é um longo período que só termina com a vacina, ponto final do planejamento.
Fonte: Blog do Gabeira