Os bares se abriram no Rio e todas as virtudes se negaram. O oposto do verso de Drummond: há uma hora em que os bares se fecham e todas as virtudes se negam.
Realmente foi uma operação perigosa. No Michigan, Estados Unidos, num único bar quase cem pessoas foram contaminadas.
Vi as imagens da volta dos bares em Paris, havia também uma certa euforia ao ar livre. Mas lá a reabertura foi feita num momento de queda na curva da pandemia, situação confortável em número de UTIs, enfim.
Também em Nova York, ao contrário do que se esperava, as manifestações após a morte de George Floyd não trouxeram um nível maior de contaminação.
O Rio não está numa curva descendente. Não atravessamos ainda a pior fase da pandemia. Mesmo se o tivéssemos feito, o comportamento deveria ser diferente.
As normas para a reabertura não foram respeitadas. Ninguém fiscalizou e as noites do Leblon parecem ter sido um grande culto à morte.
Não necessariamente culto à morte dos que saíram as ruas.
Mas eles, pelo seu nível social, não lavam, não passam roupa, nem arrumam suas casas. Podem transmitir a doença para seus empregados que dependem das rede pública. Muitos deles convivem com idosos em suas casas e podem estar determinando o futuro dos mais velhos.
Muito difícil conseguir um comportamento mais uniforme no Brasil. O próprio presidente Bolsonaro vetou a obrigatoriedade do uso de máscaras em fábricas, lojas e templos. Argumentou com a tese da inviolabilidade do lar.
Argumento fake, como o programa fake que ele encenou usando personagens fake. Enfim, Bolsonaro parece não ter compromisso com a verdade.
Dentro de 48 horas, a governo terá de responder sobre sua política em relação aos índios em tempos de covid19. Cerca de 12.270 índios foram contaminados, 420 morreram, 122 povos foram atingidos.
O mundo pergunta por eles. A campanha do fotógrafo Sebastião Salgado pedindo que fossem protegidos teve grande alcance internacional. Eles figuram também na carta dos 29 fundos de pensão que ameaçam deixar de investir no país por causa da política ambiental de Bolsonaro.
No momento, vigora, como política oficial, a expressão inesquecível de Weintraub: odeio a expressão povos indígenas. No fundo, quer dizer: odeio a diversidade, temos de nos fundir num povo único. Expressões do fascismo Tabajara.
Fonte: Blog do Gabeira