Fazia ao menos um par de horas que caminhava naquela paisagem paradisíaca das praias do sul da Bahia. Sem me dar conta, afastei-me demais da pousada e a fome e a sede, já então, me atormentavam sob aquele sol escaldante.
Olhava aquele horizonte que, quanto mais eu me movia, mais distante ele me parecia, e continuava a marcha pensando onde naquele infinito areal e mar, eu poderia aplacar minha sede.
Como num deserto, já batendo o desespero, vi poucos metros adiante, o que parecia àquela altura, ser uma miragem.
Um casebre de pau a pique com uma placa que dizia: “Peixi fritu e cocu”.
Me belisquei, me acerquei da miragem e tive o prazer de me dar conta que não era uma alucinação. Entrei, e lá dentro, havia uma tábua apoiada sobre sobre dois pilares de madeira, o que configurava um balcão e mais atrás, uma grande rede de dormir. Não consegui perceber nenhum sinal de vida que não fosse alguns gatos preguiçosamente deitados, espalhados pelo recinto. Aflito, me viro saindo dali, quando escuto uma voz:
– Ô meu rei, vai aonde?
Olho me dando uma segunda chance pra ser feliz e me deparo com um sujeito de tão magro, parecia ter apenas voz. ele se levanta da rede, onde parecia estar camuflado ou mimetizado com ela e com aquele jeito baiano de ser, emenda:
Meu rei, vai querê u que?
Um coco, respondo. É pra já, meu rei! E saiu em busca do meu objeto de desejo.
Já mais tranquilo, começo a reparar em volta daquele ambiente e me deparo com um poster de uma bela mulher semi nua, e que parecia me mirar atentamente onde quer que eu estivesse.
Como num filme de Woody Allen, onde os personagens saiam da tela pra viver o mundo real, eu imaginei aquela bela figura feminina, ganhando vida e me acompanhando nesse mundo real e bucólico. Aos poucos, fui a experimentando dos pés à cabeça e a saboreando feito um ilusionista concentrado em sua mágica, fui desperto por aquela voz, verdadeira porta voz da indolência, me perguntando:
– Meu rei, ôcê me pidiu u que mesmu? Foi um cocu?
– Sim, já sem paciência, lhe disse, foi um coco!!!
O sujeito toma rumo de novo porta adentro, naquele ritmo peculiar baiano me diz: é pra já, meu rei, e some.
Dessa vez, já abandonado pela minha musa virtual, me encaminho para a porta e passo a vislumbrar aquele infinito eterno de mar e areia, com milhares de coqueiros com seus cocos adornando suas folhagens.
De novo, o cinema me toma e me torno subitamente um naufrago na pele de Tom Hanks, sedento, à beira de um colapso térmico, com a boca seca feito chão de agreste.
Que ironia, tanta água, e eu ali, morrendo por inanição.
Graças a Deus, escuto passos se aproximando e penso, chegou o fim do meu pesar, vou beber minha sonhada água de coco.
O cabra da peste chega de mãos vazias e dispara:
Meu rei, ôcê num dissi si é um cocu geladu o não. É geladu, num é?
Respirei fundo e com a voz já embargada de secura, apenas fiz um gesto afirmativo. Ele se volta e de novo, outra vez, mais uma vez: É pra já, meu rei.
Resolvi me atirar ao mar num gesto de desespero para hidratar o que ali fosse possível. Mergulhava com a boca aberta e até o sal, parecia ser melhor do que aquela sensação de sertão na boca.
Ao retornar, vejo o coco sobre o balcão, e num ataque preciso e certeiro, me engalfinhei com aquele coco e pra meu desespero total, noto que o baiano não abrira o coco pra que eu pudesse beber.
Rudemente, lhe perguntei:
– Ô cabra, tu tá de sacanagem comigo?
– Purque, meu rei?
– PORRA!!!! Tu não abriu o coco?
– AH!!! Não? Era pra abrir? É pra já meu rei.
Paisagista bailarino e amante da natureza. Carioca da gema, botafoguense antes do Big Bang.