Sábado cheio. Pela manhã recebi a segunda dose da vacina Oxford-Astrazeneca. Preciso de apenas alguns dias, para me comportar como se estivesse vacinado completamente. Isso quer dizer que voltarei ao trabalho externo, mas sem descuidar das precauções necessárias.
Nunca se pode dizer que sua história com o vírus está encerrada. Contraí o vírus uma vez, na primeira semana de dezembro, fui vacinado em fevereiro e agora completo o ciclo em fim de maio.
Ninguém sabe o futuro. Qual a eficácia real das vacinas, quanto tempo duram, até que ponto surgirão novas variantes que driblam o sistema defensivo acionado por elas.
Fiz uma livre pela manhã, no aniversário da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Foi uma conversa com o deputado Marcelo Freixo.
Um caminhão parou na minha rua e seu ruído vazou no áudio. Isso acontece. Na América Latina é preciso contar também com o latido dos cachorros. Minha experiência com televisão pelo Brasil me preparou para tudo.
À tarde, outra livre, desta vez com o programa Fronteiras do Pensamento. É um programa de debates que trouxe inúmeros intelectuais estrangeiros ao Brasil. Debati com alguns e participei sozinho de outras edições. Tenho um grande reconhecimento pelo trabalho deles, pois permitiram ao longo desses anos que sistematize meu pensamento.
Nunca fizemos entretanto um encontro pós pandemia. Creio que isso tomará boa parte da conversa, embora o título seja uma lembrança pelos meus 80 anos.
No encontro político da manhã, fui questionado sobre o encontro FHC-Lula. Já havia falado dele na tevê. Acho normal que duas pessoas no mesmo campo da oposição ao governo conversem cordialmente e troquem ideias sobre a conjuntura. Falaram da democracia e da condenável política de Bolsonaro em relação ao coronavírus.
A fotografia serve para enfraquecer um pouco uma alternativa do tipo nenhum nem outro,nem Bolsonaro nem PT.
Mas Fernando Henrique já demonstrou, em recente entrevista, um certo ceticismo em relação a essa terceira via
Mas isso não significa que devam criticá-lo. Quem quiser construir uma terceira via tem muito trabalho pela frente. O fato de um dos diretores do clube não acreditar na vitória, não significa que o time, necessariamente, vá perder.
Mesmo porque Bolsonaro pode se desgastar mais ainda. Ninguém domina o futuro.
Com tanta conversa de CPI e também com a operação policial contra Ricardo Salles e funcionários do Ibama, tive que me concentrar no trabalho.
Mas consegui tomar contato com uma conferência de Max Weber, proferida em 1919 em Munique. Nela, ele fala do alcance e da limitação da política e da ciência. A célebre pergunta de Tolstoi (como devemos viver) não pode ser respondida por nenhuma delas, sem o risco de cair no charlatanismo.
Já escrevi sobre esse tema, repercutindo o pensamento de John Gray, que também faz uma crítica à visão missionária da política, aquelas correntes que querem determinar o comportamento dos outros.
Num dia desses, volto ao tema, apenas registrando que essa palestra de Max Weber foi o que mais me provocou nesta semana.
As mentiras na CPI são uma decorrência da desonestidade intrínseca que tomou conta da política, quando correntes radicalizadas decidiram que de nada valem as evidências mas apenas as versões partidárias.
Vamos para o domingo, que o sábado valeu a pena.
Fonte: Blog do Gabeira