Hoje, pensava em pegar mais leve. Mas surgiu essa crise da prisão do deputado Daniel Silveira. Ela é um pouco mais séria do que parece.
O ideal seria uma solução negociada na qual a Câmara o punia pelos crimes contidos em sua fala. Não seria necessário nenhum tipo de confronto com o STF. Mas a Câmara é muito lenta em punir. O caso da deputado Flordelis é um exemplo: até hoje não aconteceu nada e ela é acusada de assassinato.
A crise é seria porque o deputado é um provocador. Ele sabia precisamente que iria indignar o STF e usou os termos mais grosseiros possíveis.
Mas há uma lógica na provocação, lógica que escapou aos comentaristas da tevê: o objetivo dele era ampliar as divergências entre o Supremo e militares.
A base do texto é uma provocação desafiando Fachin a prender o general Villas Boas, ou mesmo a prender um general.
Ele aproveita a conjuntura em que Villas Boas deu uma entrevista confessando sua pressão sobre o Supremo, em 2018, e Fachin o criticou por isso.
Se você abstrair as grosserias de Silveira, verá que no fundo ele quer a reprodução do AI-5 com cassação de ministros do supremo.
Teoricamente, isso não deveria incomodar. Afinal, 13 de dezembro de 1968 está distante.
Mas nem tanto. Existe uma certa tensão entre militares e o STF e o bolsonarismo radical está jogando com ela.
No meu entender, sem deixar de .punir, tudo tem ser feito com a maior habilidade para que Silveira não atinja seu objetivo.
Infelizmente no Brasil de hoje o termo negociação, no sentido político, não é mais tão utilizado.
É difícil para a Câmara salvar Silveira e se indispor com o Supremo. Mas também é difícil internamente aceitar a prisão de um deputado, pois muitos acham que o termo “em flagrante” não se aplica no caso.
Ainda há alguma chance de se atenuar a crise. Mas a decisão do STF de confirmar a prisão não deixa outro caminho a não ser a confirmação ou negação do plenário da Câmara.
A única saída é prolongar alguns dias a decisão e negociar nesse período.
Amanhã volto ao tema, que deverá estar ainda no topo da agenda. O topo da agenda para mim, no jornal da manhã, foi tentar convencer o governo que é preciso uma estratégia diante da nova variante do coronavírus. O problema é que negaram o próprio coronavírus, para negar a variante é apenas um passo.
Fonte: Blog do Gabeira