O Ministro Pazuello foi ao Senado explicar a política contra a Covid-19, falou quase cinco horas mas não convenceu.
Tudo indica que as assinaturas para a CPI serão mantidas, apesar da pressão do governo. Tudo indica, mas não se pode garantir pois pressão de governo é sempre muito eficaz por ali.
Pazuello prometeu vacinar metade da população ate o meio do ano e toda a populaçao que deve ser vacinada até o fim de 2021.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, convocou uma entrevista para dizer que acreditava na promessa de Pazuello. Infelizmente, não é o meu caso.
O processo de vacinação está em ritmo lento, não há um cronograma confiável nem um fluxo garantido de vacinas para apoiar esta promessa.
O próprio diretor do Butantan, onde se fabrica a vacina mais usada, a Coronavac, contesta esta possibilidade de se vacinar todo mundo até o fim do ano. Todo mundo que deva ser vacinado, crianças e adolescentes, por exemplo, estão fora dessa conta.
O outro tema de urgência, o auxilio emergencial parece que finalmente vai sair, deverá ser por quatro meses e alcançar R$250.
A negociação destravou com porque será incluída uma cláusula de calamidade pública, ou uma PEC da guerra, conciliando, segundo o governo, os gastos com a responsabilidade fiscal.
Se a solução era apenas essa, uma cláusula a ser aprovada num projeto do Congresso, não entendi ainda porque tanta demora.
Minha impressão é de que Bolsonaro decidiu pelo auxílio e determinou que Guedes encontrasse uma saída rápida.
Na verdade, todo o tempo usado para resolver o problema foi consumido sem solução. Se era para apelar para uma PEC de guerra, talvez nem fosse preciso quebrar tanto a cabeça.
Essa notícia é muito recente. Vou examiná-la melhor. Mas desde logo, acho que o auxílio emergencial é um dos pontos decisivos do momento, ao lado da vacinação em massa.
A vacinação em massa é uma saída estratégica mas, por incrível que pareça, até hoje Bolsonaro ainda duvida dessa alternativa e não se conforma com a ausência de um remédio que seja a bala de prata contra a Covid-19.
Agora diz que vai buscar aquele remédio em Israel que está sendo testado para evitar mortes. Já falei sobre ele, quando foi divulgado por lá; o remédio impede que o sistema de defesa do corpo não se volte contra si mesmo, agravando a doença.
Na verdade, só é usado em casos graves. Não há saída mais eficaz do que a vacinação em massa. Bolsonaro precisar dar o braço a torcer, embora jamais dará o braço para receber a vacina.
Aumento em 5 por cento o número de assassinatos no país, apesar da pandemia. Parece que o aumento maior foi no Nordeste. Outra estatística que terá de ser estudada. O governo Bolsonaro, inclusive o próprio Moro, herdou um processo em declínio. No Nordeste, por exemplo, foi criado um centro de inteligência, que aliás visitei no Ceará. Será que está funcionando? É importante no combate ao crime organizado que atua na região, que é rota de exportação de droga.
Muitas dessas coisas, vou ficar sabendo mesmo quando voltar a viajar. Por enquanto, tudo indica que a vacinação empacou no dia dedicado aos idosos de 85 anos.
Lauro Jardim fez uma entrevista comigo para rodar na terça dia do nosso podcast. Perguntou sobre a luta identitária suas consequências ao longo desses anos.
Confessei minha participação em tudo isso. A luta identitária me alcançou ainda no exílio e fiz tudo para incluí-la no universo da esquerda, paralisada no foco de uma única contradição: burguesia e proletariado.
Quando Cohn Bandit assumiu a secretaria de diversidade cultural em Frankfurt, a questão da identidade era muito voltada para o respeito às culturas dos imigrantes.
Rapidamente o tema se expandiu para a questão feminina, negra e orientações sexuais.
Lembrei a ele que escrevi um artigo sobre o tema, baseado no livro de Mark Lilla comentando a vitória de Trump nos EUA. Concordei com ele que a luta identitária não pode ser a bandeira de uma eleição nacional, é preciso de um projeto que envolva todo mundo.
Creio que no balanço dos 80 anos, uma visão crítica da luta identitária talvez seja a mais recente uma vez que a critica da resistência armada já a fiz em O que é Isso Companheiro, e do processo de redemocratização no livro Democracia Tropical.
Com mais tempo, voltarei ao tema.
Soube que é muito presente no BBB, sobre o qual todo mundo fala mas não me arrisco a acompanhar pelas razões que também há descrevi aqui.
Fonte: Blog do Gabeira