As notícias não são animadoras. Aquele avião para Mumbai que iria trazer 2 milhões de doses da vacina Oxford AstraZeneca nao voará mais tão cedo para lá.
Era uma ilusão do governo supor que a Índia cujo projeto era vacinar inicialmente 300 milhões de pessoas, tinha estoque para exportar no dia de iniciar seu processo de imunização.
A Índia tem 1 bilhão e 353 milhões de habitantes. Além do Brasil, alguns países asiáticos mais próximos também esperam sua vez.
É razoável, esperar algumas semanas por essas vacinas. O próprio insumo que a Fiocruz receberia no princípio de janeiro talvez leve mais tempo. O princípio de janeiro já acabou, entramos no meio para o fim. Amanhã a Anvisa decide a concessão de licenças emergencial. Só temos a Coronavac e teremos de iniciar com ela. Se a Anvisa colocar algum obstáculo, ai então não teremos nenhuma.
A situação de Manaus continua complicada, embora tenha chegado oxigênio. Felizmente levaram em conta o caminho fluvial e as balsas trouxeram 70 mil metros cúbicos de Belém. Dá para um dia de consumo pleno.
Em Rondônia já há indícios de uma grave crise, inclusive com falta de oxigênio. Se tiverem aprendido a lição de Manaus, ainda dá tempo para salvar vidas.
O governador do Amazonas, Wilson Lima, declarou que não tomará nenhuma medida para conter a variante do coronavírus.
Isto significa que ela poderá se expandir pelo Brasil.
Estamos dando ao tema, um tratamento diferente dado pelos ingleses ao constatarem uma variante mais propagável. Eles mesmo decretaram lockdown e muitos países suspenderam os voos para lá.
Aqui, uma constatação científica não tem repercussão nas decisões políticas. Tudo indica que as variantes novas apresentam mudanças na proteína Spike e isso as torna mais capazes de penetrar nas células humanas.
Sinceramente, com os dados que existem, nem posso dizer que sejam mais letais. A tendência do vírus é mudar para sobreviver e isso o torna mais brando.
Acontece que um número muito maior de contaminados resultará também num número maior de gente precisando de hospital e mesmo de UTI.
Estamos em pleno verão. Lembro-me dos verões passados, como era possível até se divertir um pouco com o calor e esportes aquáticos.
Temos sol mas é quase impossível superar essa sensação de dias cinzentos, provocada pela incompetência.
Lembro-me que no passado, bem ou mal tínhamos governo. Quando houve o apagão criou-se um grupo de crise, eu próprio, ainda como deputado, discutia quase sempre com os responsáveis.
Nos períodos dominados pelo PT, a tendência também era criar comitês de crise que, de uma certa forma, representavam o governo e articulavam vários setores dele.
Bolsonaro não chegou a aceitar o coronavírus como um grande problema. Demitiu dois ministros da saúde que pensavam em articular recursos federais e estaduais. Colocou no seu lugar um general que não entende de saúde. Tudo que conseguiu é prometer a vacinação para o dia D e a hora H. Vamos ter que avançar para o dia Y e a hora L. Ou aceitar a Coronavac que não é melhor vacina do mundo, mas vai melhorar a situação.
No momento, há mais uma estúpida disputa. O Ministério da Saúde quer todas as vacinas do Butantan para distribuí-las. Mas seria um absurdo mandar as vacinas do Butantan para Brasília e voltar com elas de novo para suprir a cota de São Paulo. É muito mais inteligente deixar em São Paulo o que tocará a São Paulo.
Escrevi uma artigo e ainda não o publiquei sobre o realismo fantástico que tomou conta do país. O titulo é Cem Anos de Ilusão.
Quando tiver um tempo falarei do assunto, a partir daquele frase de Bolsonaro que fala sobre pessoas virando jacaré, depois de vacinadas.
Fonte: Blog do Gabeira