Há algumas complicações ainda no campo da vacina. Mas os episódios de Manaus nos remetem a algo mais urgente, uma segunda onda mais devastadora que a primeira.
Nos Estados Unidos, a projeção é de que a partir de março e forma dominante da propagação será dessa nova cepa que se expande mais rápida.
Aqui no Brasil, uma das reflexões autorizadas pela crise de Manaus é esta: vem aí um ciclo mais forte de contaminações, independente até de muitas pessoas já terem contraído o vírus há alguns meses.
Desde a semana passada, tenho tentado colocar esta questão: como reduzir o impacto dessa nova variante presente na Amazônia e detetada pelos japoneses?
Não houve por parte do governo uma reflexão sobre o tema. Alguns estados como Roraima e Pará estão tentando timidamente tomar algumas precauções.
A crise dos hospitais de Manaus pode acontecer em outros lugares do Brasil. A crise do oxigênio encontrará uma outra situação pois o isolamento da capital do Amazonas é maior.
Ainda assim, temos diante de nós alguns temas urgentes: como ajudar Manaus e atenuar a crise, injetando oxigênio e tirando pacientes de lá; como evitar os mesmos problemas em outros lugares do Brasil; e também a discussão inescapável sobre a responsabilidade de Bolsonaro, a incompetência de Pazuello.
O mais urgente dos debates é como salvar as vidas que ainda podem ser salvas em Manaus. O alarme sobre a falta de oxigênio tem uma semana. Perdeu-se muito tempo.
No momento, a única saída é montar uma ponte aérea de oxigênio. Dentro dos limites, está sendo feita. Acontece que a White Martins produz apenas 30 mil metros cúbicos e a demanda diária tem sido de 70 mil metros cúbicos.
É preciso montar também um transporte pelo Rio. A White Martins de Belém tem excedentes mas nem todos os barcos conseguem transportar uma carga grande.
Hoje, Jovier Vilar lembrou daquele grande esforço que a Inglaterra fez para salvar os seus soldados na Normandia. Mobilizaram-se todos os barcos válidos do país.
Acontece que por trás daquilo havia o sentimento nacional e a grande liderança de Churchill. O temor é de uma grande quantidade de barcos possa levar oxigênio mas também trazer a nova variante do vírus.
O melhor caminho é contar com a Marinha brasileira que tem corvetas e fragatas que podem talvez resolver parcialmente o problema.
Creio que o oxigênio da Venezuela virá por terra, via Roraima. Também uma variável importante.
Retirar doentes, injetar oxigênio, não vejo outra saída no momento.
Mas, ao mesmo tempo, será preciso conversar sobre a nova onda e o restante do país.
Muitas cidades viveram as festas de fim do ano de forma liberal. As que tentaram controlar foram atropeladas por manifestações públicas e apoio nacional do bolsonarismo, como foi o caso de Búzios.
Búzios fica no estado do Rio onde os hospitais estão cheios e, além disso, já se detetou a presença da nova variante do coronavírus.
Estamos num caminho estreito e as vacinas que devem vir esta semana ainda estão carregadas de interrogação. O governo da Índia vai liberar o carregamento de dois milhões de doses? Não é o que diz o porta voz do Ministério do Exterior. A Anvisa vai liberar a Coronavac no domingo?
Vamos por etapas porque as coisas estão difíceis.
Fonte: Blog do Gabeira