28 de março de 2024
Adriano de Aquino

"DMenor"


‘DMenor’, alcunha do marmanjo Pablo Martins Silva(18), foi preso hoje. Ele é apontado (‘suspeito’ na tabulação midiática) como o assassino que executou, friamente, com tiros na cabeça, dois funcionários da empresa de energia elétrica do Maranhão. ‘DMenor’ não precisou esperar o decreto para exibir sua prevalência sobre a sociedade em geral no tocante não apenas à posse, mas ao porte e ao uso indiscriminado das armas de fogo. Será que a oportuna alcunha do assassino permite que seus advogados solicitem seu enquadramento no Estatuto da Criança e do Adolescente? Tudo é possível!
Mesmo ciente de que as interpretações de texto são aleatórias e, maior parte das vezes, distorcidas do foco da argumentação inicial, volto ao tema – ‘banalização da violência associada a criminosa camuflagem da usina clandestina que distribui armas e munições a rodo para disseminação de execuções sumárias nas ruas, cidades e aldeias – para esclarecer alguns aspectos dos meus comentários.
Antes de tudo é bom acentuar que sou terminantemente contra a selvageria policial para deter a escalada da violência. Não é finalidade das polícias matar desvairadamente. Até porque, a polícia, não está isenta dos vícios da corrupção e da impunidade que se alastrou de alto a baixo em toda estrutura institucional do país. Ela atravessa de ponta a ponta, os órgãos mais altos da república até os grotões dos municípios e aldeias longínquas, cuja as populações estão abandonadas a própria sorte.
Quanto à Educação ‘salvacionista’ é recomendável que se informem dos planos, projetos pedagógicos e investimentos dos governos anteriores para tecerem considerações plausíveis, não apenas hipóteses e slogans oportunistas. Lembro aqui que o último projeto de educação popular de grande monta, com concreta possibilidade de êxito foi tocado por Darcy Ribeiro nos idos dos anos 80. Sintomaticamente, esse projeto foi destruído logo em seguida, com o voto do eleitor que elegeu Moreira Franco para o governo fluminense e que, sintomaticamente também, o elevou a ministérios nos governos petistas e temerista. É tudo muito sintomático parta meu sentido de razão.
Também não me alinho com as justificativas que apontam as tendências ideológicas da esquerda, centro ou direita como responsáveis pelo caos que se instalou no país. Até porque é público, evidente e notório que o arco ideológico brasileiro é frouxo, só é oportunamente tensionado quando a perspectiva de perder ou ganhar o poder aproxima os grupos políticos partidários que fazem as mais esdrúxulas coligações.
Até a ideologia é, na cultura dominante no país, alvo de negociações espúrias, o que torna simples e elementar entender porque e que interesses levam Renan Calheiros se aliar ao Haddad e vice e versa. Esse exemplo serve para situar todas as legendas partidárias, imiscuídas na barganha pelo poder.
No meu entender a cultura que se instalou fortemente nas últimas 3 décadas no país é refratária e tem ojeriza a perguntas. Até profissionais da imprensa adotaram o hábito de perguntar respondendo. Todas as autoridades e milhares de cidadãos, jornalistas, professores, artistas, teólogos, ativistas e socialites são uníssonos em dar respostas para todos impasses da vida social.
Poucos brasileiros, até mesmo os coletivos sindicais, corporativos ou estéticos manifestam humildade em perguntar: Onde erramos? O que levou a sociedade brasileira a tamanha degradação? O que podemos fazer para reduzir a velocidade da decadência social e salvar alguns valores que venham a ser úteis para as futuras gerações?
Nada disso! Quando os ‘letrados’ se manifestam é para apresentar respostas, professar teorias, afirmar verdades, sofismar sobre o alcance destrutivo das armas de fogo e outras tolices óbvias, catadas nos manuais de orientação nos seus nichos de classe e nos tatibitates dos parceiros de status cultural econômico e social, mas, evitam perguntar: por que se mata tanto no país, usando todo tipo de arma?
Uma sociedade que não se questiona, assim como um indivíduo que se nega a penetrar nas questões mais íntimas da sua individualidade, são sujeitos apáticos, vítimas das ocorrências que desabam sobre a frágil estrutura sociocultural e política, infectada pela corrupção e a impunidade à qual se sujeitam e afundam, abraçados em calhamaços de respostas para tudo.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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