Enfim, um texto abalizado e esclarecedor que contribui para desfazer a cortina de fumaça que intoxica as “cabecinhas” aficionadas, massa de manobra da politicagem rasteira.
Amazônia
Texto de Adelino Mendes
A destruição da floresta amazônica não se iniciou em janeiro. Mas sabíamos que o discurso do presidente eleito inflamaria rapidamente as frentes localizadas nas fronteiras agrícolas, onde a floresta em pé, não necessariamente simboliza “bons negócios”.
Todas as imagens de satélite apontam para índices de desmatamento nas mesmas regiões onde há o maior número de focos de incêndio nos últimos quarenta e cinco anos, em especial Rondônia e, isso inclui terras indígenas, onde existe o costume de queimar as roças para o plantio. Não excluo o aparecimento de novas fronteiras de expansão, com novos focos de incêndio, ou mesmo o aumento dos mesmos em relação à períodos anteriores.
Sobrevoei a floresta por mais de vinte anos, todos os anos, e continuo. O faço por conta própria, sem verbas de governo, apenas interesse científico na produção de documentos antropológicos sobre povos indígenas. Testemunhei áreas do tamanho de cidades desaparecem em seis meses, e isso faz tempo. Vi pequenos produtores atearem fogo em grandes matas de terra firme, onde estão concentrados os gigantes da floresta. Os próprios índios do Xingu, que ateavam fogo em suas roças vem mudando hábitos milenares na busca de conter o empobrecimento da terra e a destruição do cerrado/mata, mas ainda hoje combatem o fogo produzido pelos próprios indígenas.
A Amazônia está enfraquecendo, suas áreas contínuas não representam mais “infinitos” bolsões de terras desconhecidas ou inalcançáveis. Romantismos sobre a floresta a parte, a maior selva equatorial úmida da terra é um lugar de forte presença humana. Forte não significa numerosa. Porém, intensa o bastante para alterar o funcionamento do bioma amazônico.
Não devemos nos calar diante do discurso arrogante e de desconhecimento do novo governo, que aponta e fomenta implicitamente uma postura pouco convencional e agressiva em relação ao meio ambiente. O momento é grave, mas não podemos nos reduzir a críticos situacionais. O que desejo dizer é que passemos então a ter uma postura protetora definitiva, independe, não ideológica e muito menos romantizada.
O governo do PT foi o realizador da obra mais cruel e inútil que a Amazônia conheceu, Belo Monte. Seus efeitos negativos serão sentidos e replicados por décadas ou mesmo séculos, tanto nos povos indígenas atingidos indelevelmente, quanto no ecossistema das florestas próximas e do rio Xingu.
Portanto sejamos mais Amazônia e menos, políticos.
Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial “Em Busca da Essência” Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.