Não deixa de ser muito curioso vermos o que ontem era o óbvio do óbvio do óbvio sendo transformado em textões que, de tão grandes, ninguém lê em rede social e que passarão de hashtags para teses literalmente acadêmicas. Não é outra coisa senão uma ressignificação do que antes já foi óbvio a chuva de elogios ao clipe da funkeira carioca Anitta, chamada por alguns de a funkeira adestrada, cujo lançamento quebrou a internet, não pela música, mas pela estética do clipe e pela performance corporal da cantora.
Na década de 90, se dava o debut de Carla Perez rebolando na tela do Fantástico e ela transformava-se em um ícone da gostosura da mulher brasileira. A coreografia e as curvas de Carla eram elogiadíssimas na época, mas quase que exclusivamente pelos homens. Para a época, seu rebolado e sua bunda eram tidos pelas feministas como uma típica alienação ao machismo e ao patriarcado. Agora, Anitta entra em 2018 como a diva do pop brasileiro que lacra contra o machismo branco e opressor, por ser dona do seu corpo e ter o direito de fazer dele o que quiser, incluindo usar a bunda para sensualizar. E todo mundo aplaude a mulher empoderada.
Celulites
Traduzindo em realidade, vamos combinar que, na prática, entre Carla Perez e Anitta, pouca coisa mudou na forma como os homens brasileiros tratam suas mulheres. Os últimos episódios de homens, namorados, maridos ou ex-qualquer dessas coisas que mataram mulheres, aqui bem perto ou país afora, infelizmente só comprovam a manutenção do machismo, apesar das novas teorias e dos novos conceitos, apesar da instituição do feminicídio como tipologia de crime, apesar de todo o empoderamento feminino. Já quanto à linguagem e aos modos de nomeação dos fenômenos, a mudança entre os anos 90 e hoje foi radical.
E é exatamente essa mudança nos modos de nomeação dos fenômenos que explica o fato de feministas com currículo acadêmico do tamanho do velho testamento escreverem textos laudatórios e cheios de palavras desconhecidas até há pouco dizendo o quanto Anitta é feminista. Ressaltam o quanto o clipe bombado “Vai Malandra” é um hino feminista, o quanto a bunda rebolativa de Anitta representa o leite derramado na cara dos caretas e o quanto suas celulites são o triunfo do corpo natural feminino contra o machismo branco opressor que exige obediência a padrões de beleza corporal inatingíveis.
Plástica
Como apostos, dois detalhes a serem reiterados quanto a Anitta e à estética de “Vai malandra”. O primeiro: se há alguém que não empunha bandeira alguma contra corpo natural é Anitta. Ao contrário: com pouco mais de incríveis 20 anos nunca escondeu de ninguém as intervenções cirúrgicas que já fez para mudar de aparência. Seus lábios e seu nariz são clássicos da cirurgia plástica precoce. O segundo: que o machismo é opressor ao ponto de matar, ninguém duvida. Mas quando se trata de celulite no corpo feminino, a ausência dela costuma ser uma cobrança muito mais manifestada pelas mulheres que pelos homens. Mas, como marketing, dizer que rebolar a bunda exibindo celulite é vanguardista, inovador e feminista cola que é uma beleza. E, se é assim, não vamos negar o valor político do derrière de Carla Perez. Ok, diferentemente dela, Anitta canta. Mas quem presta atenção a esse detalhe no clipe?
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.