Durante os anos da Ditadura, de 2000 até 2008, mais ou menos, quando fechou as portas de vidro, frequentei amiúde e quase que diariamente a Livraria da Travessa, na Savassi. Era o meu bar favorito.
Lá fiz boas amizades e mulheres bem regadas.
Um dos amigos que, infelizmente, não vejo há muito, é o George Borten.
Cara seríssimo, educadíssimo, cultíssimo, cavalheiríssimo. Qualidades certamente herdadas do pai norueguês, que foi aviador durante a 2ª Guerra Mundial.
Seu pai deve ter tido muito trabalho e muita coragem porque a Noruega – o verdadeiro Berço do Bacalhau, e não Portugal – foi o país que resistiu por mais tempo a um ataque dos nazistas, 62 dias, atrás apenas da União Soviética, Putinlândia para os íntimos.
Pois bem. Durante estes sete, oito ou nove anos de agradáveis tertúlias na Travessa, apenas uma vez testemunhei o seríssimo, educadíssimo, cultíssimo e cavalheiríssimo George sair do sério e me levar às gargalhadas.
Falávamos do Afeganistão e ele começou solene: “Puxa vida, neste lugar faz um calor miserável, de deserto, no verão; um frio de rachar a Sibéria no inverno; já foi invadido mil vezes; está cheio de talibãs; sobrevive na miséria e se a pessoa não tiver cuidado, ao sair de casa, pode pisar numa mina terrestre e se explodir. Puta que pariu! Que país mais fodido! ”.
Ainda rio ao me lembrar do discurso norueguês e da conclusão brasileira. Por isso, até ontem, eu achava que o país mais fodido do mundo era o Afeganistão que, agora, também é valhacouto do Estado Islâmico. Como dizia meu pai, “desgraça pouca é bobagem”.
Porém, o país mais infeliz do mundo está prestes a ser a Nova Zelândia.
O que é a Nova Zelândia?
Como o Afeganistão, a Nova Zelândia não está nem no mapa do jogo WAR. Lá a Oceania é representada pela Austrália, Nova Guiné, Bornéu e Sumatra…. Isso, porque a Nova Zelândia fica perto do longe, do outro lado da gigante Austrália.
Realmente é depois do fim do mundo: “A Nova Zelândia é notável por seu isolamento geográfico: está situada a cerca de 2 000 km a sudeste da Austrália, separados através do mar da Tasmânia…”.
Tasmânia, pode? Por isso o diabo rima com o vampiro da Transilvânia! Prefiro a Lapônia, à tarde.
Sabiam que a Nova Zelândia tem até uma rainha?
É a Isabel II que não é outra senão a boa e velha Elizabeth II…
Interessante é que a Nova Zelândia não é apenas a terra do kiwi, aquele pequi verde azedo; é sim um dos países mais desenvolvidos e industrializados do mundo e está bem na foto em comparações internacionais sobre desenvolvimento humano, qualidade e esperança de vida, alfabetização, educação pública, paz, prosperidade, liberdade econômica, facilidade de fazer negócios, falta de corrupção, liberdade de imprensa, democracia e proteção das liberdades civis e de direitos políticos. Suas cidades também estão entre as mais habitáveis do mundo”.
A Nova Zelândia ERA e TINHA tudo isso, até ontem, quando li esta infâmia: “José de Abreu anunciou nas redes sociais que resolveu morar na Nova Zelândia, e só deve voltar ao Brasil quando for escalado para uma telenovela”.
Ou seja, nunca mais vai voltar. Deus é grande, pai e criador!
Puta que pariu! O que a Nova Zelândia fez para merecer isso? José de Abreu é o verdadeiro Coronavírus. Como pode a Nova Zelândia, aquele paraíso, aceitar isso impunemente?
A Nova Zelândia não tem serviço de inteligência? Não tem o número da Interpol?
Ninguém vai contar à rainha o perigo que a monarquia está correndo?
Desde quando José de Abreu combina com desenvolvimento, trabalho, industrialização, desenvolvimento humano, qualidade e esperança de vida, alfabetização, educação pública, paz, prosperidade, liberdade econômica, facilidade de fazer negócios, FALTA DE CORRUPÇÃO, liberdade de imprensa, DEMOCRACIA e proteção das liberdades civis e de direitos políticos?
Pai! Misericórdia! Por que abandonastes a Nova Zelândia?
Poucos amigos meus conheceram, moraram ou vivem na Nova Zelândia. Um deles, cúmplice de 40 anos atrás, em Campinas, é o Eduardo Bernardi.
Hoje pela manhã, enganando o fuso horário, mandei-lhe a péssima notícia que respondeu, antes de dormir ou fugir do país, como se foge de um vulcão em erupção – coisa muito comum naquelas plagas: “Conheço uns ‘ativistas de lareira’ que vão receber esse bosta no aeroporto. Agora… como assim? Ele acha que é fácil? Quem vai querer ele lá? ”.
PS: Sacaram o detalhe do “ele lá”? Pelo jeito, Eduardo já está no Afeganistão.
Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.