26 de abril de 2024
Walter Navarro

Me arrependi-me-me-me de votar em Bolsonaro


Nunca mais voto no Jair! Juro! Palavra de Tigrão!
Foi a última chance que dei a um político.
Joguei a toalha. Prefiro voltar pra Paris e ser coveiro de novo. Ou, agora, vestir um Colete Amarelo e levar porrada da polícia, como levou aquela militante de 76 anos, internada com fratura no crânio.
Prefiro trabalhar, de novo, em Londres, fazendo pizza com baguete e recolher louça em restaurante russo; no inverno e voltando de madrugada a pé pra casa.
Prefiro vender meu corpinho, de novo, na Via Veneto, em Roma.
Prefiro ser traficante, no Bairro Alto, em Lisboa.
Logo quando, pela primeira vez consigo eleger um presidente, elejo justamente esse Bolsonaro.
Onde já se viu, depois de três meses, como disse FHC, o cara mandando, usando e lambuzando e fazer nada que preste por mim.
Chega! Basta!
Prefiro sair do Brasil e voltar pra Barbacena.
Desculpem o desabafo. Eu deveria ter votado no Haddad. O cara é professor, meu!
Até o Ciro e o Amoedo seriam melhores.
Que vontade louca de chamar o Meirelles!
Valha-me Boulos!
Mil perdões, Alckmin e Marina.
Mifu!
Muito decepcionado com este Bolsonaro. Continuo na mesma merda.
Eu não ia contar, mas foda-se!
Ano passado, eu estava abrindo uma ONG: “Salvem o Walter”.
Aí, preparei tudo. Até sede arrumei, em Roraima, onde meu primo, Hélio Campos, foi o primeiro governador biônico do Estado. Duvidam? Podem ir lá… A Assembleia Legislativa tem o nome dele. Meu primo assim, era casado com minha prima, Beatriz Navarro, 90 e tantos anos, mora na Prudente de Morais, Rio…
Tava tudo certo, cheio de carimbo, nada consta, a porra toda. Na hora de inscrever minha ONG, “Salvem o Walter”, a menina do caixa disse assim: “Aqui, meu, acabou. Tem mais este negócio de ONG não… Ordens do Bolsonaro. Vai trabalhar, vagabundo”.
Chorei, bebi gin, chorei, bebi mais gin, até ficar com dó de mim.
Mas, sou brasileiro e desisto nunca. Resolvi fazer um projeto cultural: filme, livro, teatro, cordel, o escambau. Pra entrar na Lei Rouanet. O título? “Walter, o Filho do Brasil”.
Bom né? Original. Tema interessantíssimo, sem glúten e fins lucrativos. Mais ou menos.
Levei mais de dois dias pra fazer, trabalhando mais de uma hora por dia!
Tava tudo certo, cheio de carimbo, nada consta, a porra toda. Na hora de inscrever meu projeto, quase fui preso. Ainda bem que era 1º de Abril e a moça do caixa achou que era brincadeira. Ordens de cima, do “homem”, do Capitão… “Vai se fuder, vagabundo, acabou a mamata…”.
Sem dinheiro pro gin, chorei, chorei, chorei e bebi pinga até ficar com dó de minga.
Que Bolsonaro mais filho da puta! Nunca mais!
E o foda é que as boquinhas também acabaram. Meus amigos ricos, são todos petistas e ficam me seguindo na rua, apontando o dedo e gritando: “Canalha, bem feito, te avisei, seu torturador”.
Olha, sério, Bolsonaro, nunca mais! Nem em 2022.
Se arrependimento matasse, pelo menos no cemitério não precisaria pagar IPTU, condomínio e Netflix!
Eu bobo, crente que ganharia o Ministério da Cultura, a embaixada em Paris…
Nada. Este Bolsonaro é um ingrato.
Bom era antes! Todos os meus amigos que cantavam “Lula Lá” estão lá. Não em Curitiba, mas na boa, de boa.
E eu aqui, na lama, no limbo, roubando do cachorro o pão que o diabo amassou.
Nunca mais! Bolsonaro, Aqui Ó! Biltre!
E agora? O que faço com a bandeira do Brasil que comprei na Havan, promoção, em 10 vezes? Troco por uma camiseta do “Lula Livre”?
Sinceramente, eu achava que seria conselheiro ou consultor de alguma estatal… R$ 30 mil por reunião, com cafezinho e tudo.
Não tenho mais idade pra entrar no Exército, merda! E pensar que escapei do serviço militar, me alistando fora da cidade onde eu morava, Campinas. Me alistei em Paulínia, onde não tinha quartel… Malandro eu… Excesso de Contingente, nem jurar a bandeira eu fui. Exame de sangue? Fiz num laboratório particular e “mandei entregar”… O negócio é levar vantagem, certo? Mané!
Ah! Se eu pego este Bolsonaro na saída!
Ah! Se eu encontro com ele num avião… Vou xingar de Gilmar Mendes para cima.
Me cansei de lero-lero, vou sair do sério. Vou é cuidar mais de mim.
Será que entro pra política? Primeiro Barbacena, depois o Mundo?
Acho que vou começar a xingar o Paulo Guedes e o Moro. O Mourão não, morro de medo dele!
O que faço pra enganar o Bolsonaro e sua estranha mania de ser honesto? Coisa mais cafona, fora de moda…
Logo agora, que aprendi ame locupletar.
Ah! Se eu tivesse me filiado ao PT, em 1982! Agora, eu estaria em Madrid, pegando umas espanholas, bebendo Rioja e gritando “Viva a Venezuela!”.
Mas, não. O bobo aqui foi votar num cara que, em vez de ação entre amigos, valoriza meritocracia. Eu mereço!
Agora, fico assim, sábado à noite, em BH, ouvindo Gonzaguinha, sem NET e Internet.
Feliz é o Adélio… Famoso, hóspede do Estado…
E se eu cantar o Hino Nacional, o “Bonde do Tigrão”, no sinal fechado, ali na Savassi?
Adiantou nada eu fingir que era machista, misógino, homofóbico, racista, genocida, fascista. Virei dentista em Tiradentes.
Logo eu que já ia me acostumando.
PS: Saudade do Haddad não tem idade. Aquilo sim é que era mulher.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *