28 de abril de 2024
Editorial

Rio de Janeiro ao Deus-dará

Catástrofes se repetindo ano após ano. Foto: Google – Brasil Metrópole

Chuvas no Rio com vítimas é fato recorrente, e a cada ano pioram; e os governantes, não importando o lado político, continuam ignorando. Como dizia meu avô: “obra para esgoto e águas pluviais não são feitas porque são subterrâneas e não podem ser usadas para demonstrar a “competência” deles”. Eles só aparecem, depois das catástrofes, para dar “apoio” às famílias desalojadas, removidas por risco ou àquelas que perderam tudo.
A população não faz nada pra mudar isso, com infraestrutura capaz de atender uma cidade que viu dobrar nos últimos 50 anos o número de habitantes. Nesse período, aumentou em muito a quantidade de favelas e de residências em locais de risco, sob o olhar de governantes que nada fizeram, por medo de contrariar eleitores.
Cabe ao poder público oferecer condições de habitação com dignidade e fiscalizar para coibir construção de moradias em áreas perigosas. A população tem sua parcela de culpa, sim, ao poluir redes e rios com lixo. Mas, enquanto não houver serviços públicos eficientes e educação/fiscalização dos moradores, as águas de março não conseguirão trazer promessa de vida em nossos corações, conforme dizia Tom Jobim em suas Águas de Março, mas somente sofrimento, morte e tristeza.
O descaso da prefeitura, que não fiscaliza nem inibe o número crescente de construções irregulares, somado à má-educação da população que despeja seu lixo e esgoto em locais indevidos, rios e próximos a bueiros que, entupidos, não conseguem vazar as águas pluviais.
Para o primeiro problema, o descaso e a incompetência da Prefeitura, o plano é simples. Basta sobrevoar, com drones, as comunidades para verificar o que está sendo construído e extirpar a irregularidade no início. Mas não, deixa construir, ocupar, deixa crescer e lava as mãos. Incompetência vergonhosa. Daí, diz ao povo, não podemos desalojar as pessoas que estão morando ali por necessidade… Só a Justiça pode fazer isso…
Para o segundo item, a deseducação do povo é a principal causa e a solução, infelizmente, acho que esta consciência terá que vir das novas gerações, de nossas crianças, filhos, netos, da escola, porque a nossa já não tem mais jeito. Nos países desenvolvidos, jogar lixo na rua é crime sério, multa alta, mas trabalha-se, principalmente nas escolas e na mídia campanhas contra isso. Como foi feito, aqui no Brasil, em 1972, em plena ditadura com uma campanha muito bem feita, que muitos vão se lembrar. O Sugismundo, lembram? Vejam o vídeo abaixo (há vários no YouTube)

Lamentáveis as declarações do prefeito Crivella sobre as enchentes, dizendo que a culpa é da população que prefere morar em comunidade porque o custo de vida é mais barato, o que não é verdade. A população mora onde pode pagar. Ele só consegue causar ranço e raiva na população, que vê suas casas submersas, barrancos desmoronando, enchentes e perda de vidas e bens. Como não se indignar e não se emocionar com as pessoas sem rumo e sem saber o dia seguinte? A incerteza de saber como será o amanhã?
Claro que não serei hipócrita, como o Prefeito, em colocar a culpa só no prefeito, pois há lixo excessivo descartado de maneira irregular. Mas, se fosse recolhido com frequência e houvesse campanhas de conscientização, não teríamos tanto lixo em encostas, rios, bueiros e calçadas.
Construir em várzeas, morros e margens de rios é a única opção para a maioria da população pobre. Esses são os únicos lugares que não interessam às grandes construtoras e incorporadoras imobiliárias. Sem falar na total e completa ausência de políticas públicas para atacar esse problema. Estudos mostram que, para cada R$ 1 gasto em prevenção, gastam-se R$ 6 na remediação das tragédias. Mas ainda estamos no estágio de culpar as vítimas. E tome gasto de dinheiro público.
As chuvas dos últimos dias desalojaram milhares de famílias. Não há nada tão triste quanto a perda de seu teto, e mais ainda de parentes, por causa de desmoronamentos e alagamentos. No momento, as providências devem ser ajudar as famílias afetadas e impedir novas construções em locais proibidos. Para isso, os legisladores devem ter a consciência de reduzir suas mordomias, pois assim sobraria mais dinheiro. É preciso legislar voltado para a segurança do cidadão, e não em função das próximas eleições.
Ciente disso, cabe ao povo fazer sua parte para cobrar atitudes. Não é jogando lixo nas ruas. Precisamos também de uma coisa chamada consciência para, em outubro, votar certo, não só para Prefeito, mas principalmente para vereadores.
Muita coisa só o estado e a prefeitura podem resolver, e não o fazem, e sabemos que só “Jesus na causa”, como costumam dizer os evangélicos.
O Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, está ao Deus-dará, sem ação nem prevenção, aliás como muitas outras cidades do país.
A incompetência é democrática, isto é atinge a todas as classes sociais e locais do estado, quiçá do país, é claro que as classes menos favorecidas sofrem muito mais.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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