29 de abril de 2024
Editorial

Prates está “prestigiado”

A metáfora futebolística, tão ao agrado dos nossos últimos presidentes, serve bem como mote para falarmos sobre a fritura de Jean Paul Prates, atual presidente da Petrobras. No futebol, quando um técnico está prestigiado, significa que ele será demitido em breve. Pule de 10, na linguagem do turfe!

Só para compararmos, as maiores empresas de petróleo do mundo têm o mesmo CEO há 6, 7, 9 e 11 anos. Como exemplo, a Shell trocou seu presidente (CEO) no ano passado, mas o anterior estava no cargo há 8 anos. A Saudi Aramco, da Arábia Saudita, tem seu presidente no cargo há 9 anos. A SINOPEC, empresa chinesa de petróleo, está há 13 anos. O da ExxonMobil, está há 7 anos.

No Brasil, desde 2003, as empresas estatais – todas – fogem totalmente deste perfil: como exemplo, a CEF está no 10o presidente; Banco do Brasil e Petrobras, no 11o.

É óbvio, até para quem não quer ver, que há alguma coisa errada. A Petrobras produz, pesquisa e refina petróleo igual às demais empresas petrolíferas, mas no entanto, em função de o Estado ser seu maior acionista, os CEOs são trocados, no mínimo a cada mandato presidencial. Entretanto há trocas eventuais por conveniência política e, no mesmo governo, 2 ou 3 CEOs podem presidir a nossa maior estatal.

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Agora estamos vendo a possibilidade de uma nova troca de presidente. Prates foi escolhido por Lula, mas já não serve às suas intenções. Brigou e gritou pelo impedimento de distribuir dividendos extraordinários, que Lula/Haddad mandaram segurar para investir em educação e politicagem. Ocorre que estes dividendos, por estatuto, só podem ser usados para investimentos em pesquisa, distribuição e refino de petróleo, impedindo a pretensão de Lula em fazer política com este lucro, inclusive investir na indústria naval.

Prates tem passado por uma fritura em setores do governo que o querem fora do cargo. No ano passado, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) começaram a fazer críticas à sua gestão.

A demissão do CEO já é dada como certa dentro do governo de Lula. Já começaram a circular rumores sobre a troca no comando da empresa, que passaria a ser comandada pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, um queridinho de Lula.

Prates se encontra insatisfeito com a falta de apoio de Lula, principalmente com os ataques de Alexandre Silveira. O ministro, em conversa com Lula disse que espera que o atual presidente da Petrobras mude seu comportamento, principalmente quando se trata dos objetivos do governo.

Enfim, por eu ter trabalhado em uma empresa de economia mista (Banerj) durante 30 anos, sei muito bem que quando se troca o presidente, automaticamente, trocam-se os diretores, superintendentes e os gerentes e, quem chega, não sabe nem onde é o banheiro. Logo, como eles encontrarão respostas imediatas de sua empresa?

O problema é a razão pela qual a mudança de presidente acontece. Prates está com seu pescocinho na guilhotina e, aparentemente, ele vai cair.

Estas mudanças prejudicam a empresa. Prejudicam a economia. Depreciam o valor da ação e deixa os investidores nervosos e o governo excitado: “vamos mexer de novo?”

O ministro da Minas e Energia e o da Casa Civil não deveriam se meter na Petrobras. Indicam o CEO, o Conselho aprova e pronto. Deixa a empresa tocar sua vida, mas não é assim que as coisas funcionam por aqui. Eles supõem que o CEO da Petrobras é uma marionete nas mãos dos “gênios” do setor de petróleo, que são os governantes. Eles querem que a Petrobras invista na indústria naval, que nada tem a ver com o objetivo desta empresa, salvo se for para pesquisa de petróleo.

A Petrobras tem uma equipe da melhor qualidade, reconhecida no mundo inteiro. Ela foi, e está sendo, massacrada. Os governantes que passaram por lá fizeram o diabo. Não podemos esquecer o que Dilma fez na Petrobras. Ela destruiu a Petrobras, mas ganhou de presente o Banco Mundial. É surpreendente que a Petrobras tenha conseguido sair do buraco em que o governo petista a colocou.

O corpo de funcionários da Petrobras conseguiu superar isso tudo até aqui, mas tudo tem limite, menos o apetite do governo, que pretende fazer da Petrobras um “departamento experimental” de cientistas “malucos”.

Bom para o Brasil que a Petrobras exista, economia mista ou privada (como eu preferia), mas exista.

Sua competência é reconhecida mundialmente. Os Presidentes da República acham que “eles” descobriram petróleo. Gritam isso aos quatro ventos. Sujam a mão de petróleo e posam para fotos. Nada disso, foi a Petrobras com sua expertise e seus técnicos. Foi ela quem descobriu o pré-sal.

Daí vem o governo Lula dizendo que foi ele que descobriu pré-sal. Lula usou sua varinha mágica e indicou onde tinha petróleo? “Fura aqui que tem petróleo”. É assim? Óbvio que não!

A Petrobras não pode ser tratada da forma irresponsável que vem sendo tratada há muitos mandatos. Todos querem baixar o preço da gasolina e diesel “à fórceps”.

Não é assim que funciona. Não podemos substituir um profissional do ramo, que conhece petróleo, por um político, como Mercadante, cotado para o cargo.

Corrupção e risco são os problemas em pauta. Já vimos este filme e precisamos fugir disso!

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

1 Comentário

  • Rute Abreu de Oliveira Silveira 15 de abril de 2024

    Sim, amigo Valter, já vimos esse filme antes e o final não foi nada feliz.
    Belo editorial, retrato de um momento crucial em que vivemos. Até quando, Senhor??!!
    Rute Silveira

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