Hoje vou sair da minha zona de conforto para falar um pouco da crise do Afeganistão. Não costumo falar de problemas externos, já que os internos são tantos que me deixam com uma quantidade absurda de assuntos…
Após o ataque da Al-Qaeda às Torres Gêmeas, em 2001, o governo dos Estados Unidos, em conjunto com outros países, invadiu o Afeganistão, dando início à chamada “Guerra ao Terror”. Acusavam o país, controlado então pelo Talibã, de estar escondendo o terrorista Osama Bin-Laden, da Al Qaeda. A ofensiva foi intensa e, em cerca de dois meses, o governo do Talibã havia sido deposto.
A retomada – digamos assim – do poder pelos talibãs mergulhou o Afeganistão nas trevas. As principais vítimas são as mulheres, os dissidentes políticos e as minorias que hão de ser cerceadas dos seus mais básicos e inalienáveis direitos.
O talibã é o exemplo maior do fanatismo religioso, do ódio a tudo que considera oposto à sua fé, da convicção de ter direito a impor sua visão primitiva
de mundo. Mas o Ocidente também tem seus fanáticos que adorariam impor seus dogmas religiosos. Para eles, o Estado laico é um pecado. Assim como o Talibã, creem ter a missão de converter o mundo. Deus nos livre dessa gente.
Uma horda incontrolável toma o poder e delimita os espaços das mulheres, dos negros e dos gays, impondo-lhes uma discriminação nunca antes vista.
Os símbolos culturais são destruídos, e todos que tentam viver das artes recebem o desprezo do Estado. Bandos de ignorantes andam pelas ruas bradando palavras de ordem de selvageria e atraso.
A população do Afeganistão já exibe sinais de apreensão após o Talibã tomar o palácio presidencial, em Cabul, nesse domingo (15). Imagens de mulheres já foram apagadas de muros em locais públicos em seguida à entrada do novo regime.
Muito cômoda a posição do presidente Joe Biden a respeito da tragédia que se abateu sobre o Afeganistão após a saída dos americanos daquele país:
“Não vou repetir os erros que cometemos no passado, como o erro de ficar indefinidamente num conflito que não é do interesse dos EUA”.
O interessante é que essa “guerra” era do interesse dos EUA há 20 anos, quando ali chegou com tropas para combater o grupo Talibã, em mais uma aventura que custou ao contribuinte americano a bagatela de US$ 1 trilhão. Somando a essa, o que não faltam são exemplos de outras desastradas e fracassadas intervenções dos Estados Unidos pelo mundo afora. Até quando?
A retirada das tropas americanas do Afeganistão foi uma mudança de paradigma. Nada será como antes.
Biden deixou claro que não irá arriscar a vida dos soldados americanos em guerras que não interessam aos EUA. Segundo ele, a missão foi encerrada, Osama Bin Laden foi liquidado, e os americanos não têm a menor pretensão de passar o resto da vida tutelando o governo do Afeganistão.
Biden deixou muito claro também que qualquer agressão do Talibã aos interesses americanos sofrerá retaliação severa. Com isso, o mundo presenciou uma mudança muito grande na postura da potência hegemônica: os Estados Unidos não estão mais dispostos a entrar em todas as guerras do mundo, em defesa dos fracos e oprimidos.
Os fortes e opressores devem ter gostado da novidade. Os desdobramentos dessa mudança de paradigma são completamente imprevisíveis no momento.
Lamento a situação dos cidadãos que precisam – e querem – sair do país, mas espero que o Brasil não receba qualquer deles. Normalmente são refugiados que não se dispõem a aprender a língua do país que os recebeu e não querem trabalhar, só querem “dar um tempo” para depois voltar para sua terra… Não concordo com isso! A proteção da OTAN ou da ONU tem que ser feita no país e não enviando estas pessoas para serem parasitas em outros países…
Ignorem a “promessa talibã” de querer ser democrático. A definição e o entendimento deste termo pra eles são incompatíveis com as democracias mundiais, mesmo aquelas mais disfarçadas… dois exemplos:
1 – Centenas de afegãos decidiram ‘testar’ a promessa, tipo campanha eleitoral dos Talibãs, de fazer um governo moderado. Talvez, alguns afegãos, leitores dos “especialistas brasileiros em crises galácticas” que divulgam a nova tendência moderada do Talibã, deram crédito aos nossos “analistas” e saíram às ruas para protestar. Três acabaram mortos”. Adriano de Aquino.
2 – Os Talibãs, a título de provocação, mudaram o nome do país de Afeganistão para Emirados Unidos do Afeganistão. Isso mesmo, o nome que em 1996, antes da invasão americana.
Já dá pra ver que o “espírito moderador” ou “Talibã Paz e Amor” era só da boca pra fora…