19 de abril de 2024
Editorial

As tão questionadas pesquisas eleitorais

Imagem: Google imagens – Inteligência Financeira

Sou – sempre fui e sempre serei – totalmente contrário às pesquisas eleitorais, venham de onde vierem. Não tenho qualquer Instituto de Pesquisa favorito, muito pelo contrário!

Acho que as pesquisas influenciam demais os votos dos eleitores, sejam eles indecisos ou não. A divulgação delas só serve para estimular os indecisos a votarem em um dos dois candidatos que disputam a primazia dos votos, já que os demais que ficam com menos de 10% ou < 1% não são considerados. Vejam que o percentual destes últimos nunca se altera.

Os Institutos de Pesquisas são vistos pela mídia como se fossem oráculos. Seus resultados – eu diria até “sentenças” – para o Consórcio da Mídia, ganham aura de infalibilidade, e admitem erros maiores que 2% para cima ou para baixo. Como deuses, indicam os eleitos para os quais as portas do céu se abrirão. Se assim fosse, poderíamos dispensar os quase 150 milhões de eleitores nas urnas, não é?

Só que não!!! Já vimos, por muitas e muitas vezes as pesquisas serem desmentidas pelas urnas. Lembro-me da eleição da Erundina para a prefeitura de Sampa. Ela estava próximo de traço nas pesquisas e ganhou em 2o turno contra Maluf, até então “eleito” pelas pesquisas. Em várias outras eleições, os oráculos erraram feio também… na última, em 2018, erraram feio com Bolsonaro (para Presidente) e com Witzel (para governador do RJ). Só isso pra mim já bastaria para desacreditá-los… as bocas de urnas destas eleições acima desmentiram as pesquisas pré-eleitorais.

Com as eleições se aproximando, as pesquisas se tornam cada vez mais comuns. São várias, semanalmente divulgadas.

Na realidade, os levantamentos dos institutos de pesquisas, porém, vão muito além da disputa pela Presidência da República ou quaisquer outros cargos majoritários; são usados também para conhecer as tendências de opinião das pessoas sobre determinados temas e para planejar estratégias de marketing das empresas.

São vários os candidatos em condições de disputar a Presidência, mas somente depois de abertas as urnas será conhecido o eleito. Para sorte dos oráculos, seus enganos serão esquecidos e, daqui a quatro anos, serão novamente críveis. E já erraram… e MUITO!!!

Uma boa analogia foi feita pela BBC News/Brasil: “uma pessoa adulta tem entre cinco e seis litros de sangue. Mesmo assim, os médicos conseguem descobrir doenças extraindo alguns poucos mililitros de um paciente – em um exame como o hemograma”. Verdade, mas esta analogia se aplicaria às pesquisas eleitorais?

É possível conhecer o pensamento e as tendências de um grupo tão grande quanto os eleitores brasileiros (>150 milhões de pessoas, segundo o TSE) a partir de entrevistas – presenciais ou não – com uma pequena parte deste contingente – amostras de pouco mais de 2 mil pessoas ou até menos?

Em eleições acirradas, é comum que candidatos e militantes ataquem o resultado de pesquisas eleitorais (especialmente quando se saem mal). Mas não se deixem enganar: políticos, marqueteiros e partidos conhecem o valor das pesquisas para entender e para se posicionarem da melhor forma durante a disputa, e muitas vezes encomendam suas próprias pesquisas antes de tomar decisões.

Para os partidos políticos e candidatos, os resultados das pesquisas são fundamentais para as decisões estratégicas de suas campanhas eleitorais, desde a definição do melhor candidato pelo partido ou pela melhor coligação partidária, ou até mesmo a avaliação da forma de se comunicar com o eleitor.

As pesquisas permitem várias interpretações. Nesse aspecto, somos geniais. As mais curiosas abordam possíveis cenários de embates num possível segundo turno, com base em “rejeições” divulgadas parcialmente. Como imaginar uma cenário que pode não acontecer? Vai entender…

A propósito, nunca fui solicitado a participar de qualquer pesquisa. Não conheço sequer uma pessoa de meu ciclo de amizade, ou mesmo de “amigos” no Facebook e Instagram, que tenha participado. Onde essas pesquisas são realizadas? Será que são realmente feitas? Só dizem que aconteceram em “x” municípios, e com “y” pessoas… só! Confiar como?

Tive um colega, na faculdade, que fazia pesquisas para o Ibope. Ele sentava num botequim e preenchia os formulários a seu bel prazer, tomando cerveja…

A maioria das pesquisas dizem que entrevistaram (presencial ou remotamente). Por exemplo – em ordem de grandeza – 2.847 pessoas em 160 municípios… Desta forma teriam sido entrevistadas cerca de 18 pessoas em cada município.

Sou um ignorante em termos de metodologia de pesquisa e divulgação de resultados. Uso apenas o senso comum, o velho bom senso. Uma quantidade tão ínfima de eleitores (supondo que eles entrevistem eleitores e não habitantes) em cada um dos municípios integrantes do rol do respectivo Instituto, representaria a tendência de todo o município?

Talvez sim em municípios longínquos, com <3mil eleitores (não habitantes), mas nas capitais, duvido que usando qualquer metodologia, esta quantidade represente a tendência daquele município.

Como eu disse, com qualquer metodologia que usem, o resultado não corresponderá à realidade… mas é este que é divulgado e explorado pela mídia. E, que fique bem claro, não estou me referindo a esta eleição que está em curso, mas a todas as demais já ocorridas até hoje.

Outra coisa importante!

Além disso, alguém acha que se eu contratar alguma pesquisa, com qualquer instituto que seja, esta virá com um resultado diferente do que eu estou esperando, ou seja, desagradável para mim, contratante? Claro que não! O resultado virá conforme eu estou esperando, seja ou não a expressão da realidade…

Já temos tantas proibições decretadas pelo TSE, por que não mais uma? Já não podemos questionar o sistema eleitoral e também não podemos criticar os membros do TSE, nem do STF. Por que mais não uma proibição?

Que tal proibirmos as pesquisas em tempos eleitorais? Esta é a minha sugestão após este longo Editorial.

Pesquisas eleitorais, pra mim só as “de boca de urna”… esta mostra aos eleitores o retrato do dia da votação, e não tendências, e por isso são divulgadas próximas ou após o encerramento do horário de votação.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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