29 de abril de 2024
Vinhos

Degustar ou “entornar”?

Numa das oficinas de degustação que organizamos, um dos presentes avaliava cada vinho apresentado, que lhe agradava, com o seguinte comentário: “altamente entornável”!

Isto nos deixava com um misto de satisfação, pelo vinho escolhido, e tristeza, por conta do baixo aproveitamento de tudo que havia sido exposto na parte teórica da oficina.

Cada bebida alcoólica tem seus ritos de degustação que deveriam ser seguidos por seus admiradores. O vinho não é exceção e talvez seja a bebida que mais ritos exige para dar, ao seu aficionado, um título de expert, enófilo ou de grande conhecedor.

Vinhos são pensados e elaborados para nos proporcionar uma série de pequenos encantos que começam quando o líquido é vertido numa taça e terminam algum tempo depois do último gole, ao fim da garrafa.

A capacidade de apreciar tudo isto exige algum conhecimento e muito treino. Não é algo que se adquire da uma hora para outra e nem tem um preço fixado que pode ser pago em suaves prestações.

Uma das primeiras lições é como identificar se um vinho tem qualidades acima da média. Um ótimo indicador já está bem delineado nos parágrafos anteriores: permanência. Um vinho de boa origem e vinificado com todos os cuidados, vai se manter no nosso palato por algum tempo. Não é aquela coisa do bebeu e passou. Esta qualidade é fundamental para que a harmonização com alimentos funcione.

Não podemos deixar de lado o conhecido trio: cor, aroma e sabor. Este primeiro contato tem muito a nos dizer sobre o que vamos provar. É tão importante que Sommeliers são avaliados por sua capacidade de identificar diferentes vinhos a partir destes três elementos, o que não é fácil.

Apesar do rito ser o mesmo para profissionais ou para simples apreciadores, é na conclusão do que se observou que surgem as diferenças. Enquanto eles procuram pistas sobre as origens do que estão degustando, nós devemos olhar para outros parâmetros. O mais importante deles é o equilíbrio.

Fruta, acidez, taninos e teor alcoólico devem estar em harmonia, um não deve ser mais evidente que os outros. Um importante reflexo disto é observar que, na hora de acompanhar uma refeição, a intensidade de sabor do vinho deve acompanhar a do prato servido.

Vinhos se destacam por sua capacidade de nos oferecer uma ampla gama de aromas e sabores que, ao final, se traduzem em satisfação. Ao olhar a cor, sentir os diversos aromas e sabores, procurem identificar e associar com as suas referências – não vamos conseguir identificar algo que nunca provamos antes.

Um exemplo clássico é o alcaçuz, uma presença fácil de ser identificada nos tintos que passaram por barricas de carvalho. Infelizmente, esta raiz adocicada deixou de fazer parte do nosso dia a dia. Antigamente, era comum balas de alcaçuz serem vendidas por baleiros ambulantes. Hoje, este marcante sabor só é identificado em algum xarope para tosse, mesmo assim, se formos avisados que ele está ali.

O conselho final é: trabalhem com o conhecimento que vocês têm. Para enriquecer sua base de dados, participem de degustações, viajem e façam cursos e oficinas e, sobretudo, não “entornem” …

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Foto de abertura por Freepik

Tuty

Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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Engenheiro, Sommelier, Barista e Queijeiro. Atualiza seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Organiza cursos, oficinas, palestras, cartas de vinho além de almoços ou jantares harmonizados.

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