18 de abril de 2024
Sylvia Belinky

Patriotismo


Ouço no rádio a discussão: Educação Moral e Cívica deve voltar para as escolas? Dentre os muitos saudosistas, um, que é contra a volta, justifica: “E quem será professor dessa matéria?” Dúvida séria e muito pertinente. E outro que diz: “era muito chato; isso não é necessário”.
A primeira objeção é extremamente válida: quem estará capacitado para ministrar essas aulas? De fato, como aquilatar a capacidade dos professores de hoje da rede pública – sim, pois da rede privada, conversa-se com os pais antes de bater o martelo. Ou se a conversa não tiver lugar antes, em breve os pais, através dos filhos, terão notícias “da novidade”.
Quem dentre nós ainda sabe o Hino à Bandeira, ou canta o Hino Nacional sem gaguejar em estrofe alguma? É, talvez consigamos suscitar nos jovens algum patriotismo, algum ufanismo: “Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste; criança, não verás país algum como este” – versos de Olavo Bilac, por nós declamados antigamente…
Nas escolas públicas, os professores terão mais dificuldade com essa nova tarefa. Como explicar que o hasteamento da nossa bandeira deveria nos arrepiar ou, pelo menos, nos calar? Estudei em colégio particular até o colegial e lá aprendi, entre outros, o Hino Oficial da Marinha Brasileira. Será que me serviu para alguma coisa? Bom, de prático, nada… Mas repasso na memória e reconsidero – serviu sim, o hino é lindo e merece ser aprendido, o tão famoso “cisne branco”…
Ainda hoje, toca o Hino Nacional em competições esportivas e só de ouvi-lo meus olhos se enchem de lágrimas e me vem um nó na garganta; mal consigo cantá-lo. Pois é, é o nosso país, e desenvolver apreço por tudo que nos remeta a ele seria de grande utilidade – em um momento em que, até no dicionário, será difícil encontrar sentido na palavra “patriota”.
Vejo todos esses velhos caquéticos da política e fico me perguntando se eles não foram à escola, se nosso hino ou o nosso pavilhão os emociona. Não me enxergo como patriota, tenho defeitos demais para me encarar dessa forma. Se eu sou assim e ainda me emociono com nosso pavilhão, com nosso hino, o que se pode dizer desses escroques da Pátria?
Não há o que dizer, eles teriam que voltar às aulas de EMC – e seriam sumariamente reprovados…
Seria difícil também, catequizar os professores para que dessem importância a esses “detalhes” de um patriotismo do qual ninguém mais se lembra, a não ser quando cantado à capela em um Maracanã lotado, por um povo que nem sequer imagina a razão de se sentir tão envolvido por esta Pátria mãe gentil, que nos acolhe, tanto aqui como também a quem já a tenha abandonado para ir viver fora, tentando oferecer um aprendizado melhor a seus filhos.
Acabo de ouvir agora, que há por volta de 11.000 brasileiros morando na França. Eles também se preparam para votar e fico me perguntando: será que eles se lembram que seus filhos não irão aprender o nosso Hino Nacional, o Hino à Bandeira… será que eles acham que isso tem alguma importância? Será que eles conhecem as letras? Talvez achem que não têm a menor importância – eu sigo pensando que será mesmo muito difícil ensinar Educação Moral e Cívica, aqui…

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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