28 de março de 2024
Colunistas Sylvia Belinky

Grupos, agendas e influencers

Faço parte de muitos grupos, alguns por livre escolha, outros porque lá fui colocada e, como não me incomoda, deixo quietos.

Com essa (relativamente) nova moda do Facebook de apresentar um “trailer” (como se dizia antigamente, ou uma pré-estreia) do que aquelas pessoas, que o algoritmo chegou à conclusão que interessam a você, estão fazendo da vida naquele momento (além de serem e estarem imensamente felizes), sou colocada em contato com todos os amigos e os desconhecidos dos grupos dos quais faço parte.

Então, perco algum tempo vendo o que o algoritmo acha que me interessa. E tomo cada susto com a quantidade de gente sem noção que pulula neles todos… e também me divirto bastante  com coisas que parecem invenção, mas que, obviamente, não são…

Aí vão alguns exemplos, comprovando que esse filme, “Não olhe para cima!”, que agora está “bombando” infelizmente é um retrato fidelíssimo de nossa sociedade atual: gente sem desconfiômetro (objeto antiquíssimo, hoje em desuso que evitava que a toda hora tivéssemos “VA”).

Para os não iniciados, “VA” é Vergonha Alheia que, como se pode imaginar, é a ausência total de um mínimo de polimento social.

Senão, vejamos primeiro um exemplo disso:

A moça, bem nascida, escreve numa agenda, na qual muitos gostariam de estar inseridos, que ela viajou para a Itália e lá comprou uma bolsa Gucci, MA-RA-VI-LHO-SA, e saiu se pavoneando com ela para, em determinada altura do campeonato, descobrir que o logo da GUCCI, lindo, de metal, flamejante, deve ter enganchado em algum lugar e… DESAPARECEU!!! Gente, vocês podem imaginar o tamanho do desgosto da moça?!

Ela então, pede aos outros membros da agenda uma ajuda “pelo amor de Deus”: onde, que lhe digam onde ela pode encontrar um outro logo idêntico àquele?

Gente, por favor, onde? Será que alguma loja venderia esse logo separado da bolsa? E meu estoque de “VA” imediatamente se pôs à disposição dela. Mas, como não era exatamente o que ela estava procurando, foi um tremendo desperdício da minha parte!

Mais um outro exemplo do quanto nossa plebe é informada e bem intencionada: nesta mesma agenda, absolutamente brilhante, fantástica, uma pessoa diz que, morando perto de uma área verde, surgiu no jardim da casa dela um bichinho que, tirada uma foto, foi identificado como um saruê (para quem nunca ouviu falar, uma espécie de gambá silvestre, do tamanho aproximado de um gato, que é protegido por lei e que, uma vez tendo sido avistado, deve-se chamar os bombeiros para um resgate).

Como eu também vivo perto de uma área verde e tenho um saruê, que, de vez em quando, visita meu muro, forneci essas informações.

Muitas outras pessoas também fizeram isso, e como a que estava com o saruê no jardim tivesse informado que deu frutas e leite para o animal, uma outra apressou-se em esclarecer:

– Mas leite SEM LACTOSE!…

Como a Meta também nos permite tentar localizar pessoas de quem não temos notícias há tempos, eu resolvi saber de uma ex-prima por afinidade, uma socialite admiradíssima; descubro que ela estava comemorando o centenário do pai que, no Facebook, era um sujeito fantástico, de reputação ilibada, que teria inclusive recebido uma menção por atos heroicos, durante a Segunda Guerra.

Ocorre que esse sujeito abandonou a mãe dessa socialite para ir viver no exterior com a secretária, lesou um sem-número de sócios e de compradores de imóveis de sua construtora porque, à secretária interessava algo mais, digamos, “sólido” do que apenas a menção de atos heroicos…

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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