De: Mark Rydell, EUA, 1981


(Disponível no Oldflix com o título de A Casa do Lago.)
É a história de um casal de idosos, ele chegando aos 80 anos, a cada dia temendo a perda da memória e da vida, ela forte, firme, ágil. E da relação conflituosa, não resolvida, dele com a filha única, o encontro com o novo namorado dela e o filho dele, um adolescente de 13 anos – e como a convivência entre o idoso ranzinza, sempre mal-humorado, um chato de galocha, e o garoto boca suja, irreverente, que tinha tudo para ser um horror, acaba se transformando numa experiência enriquecedora tanto para um quanto para outro.
Num Lago Dourado/On Golden Pond é um belo, sensibilíssimo drama familiar – e já estaria pra lá de bom se fosse “apenas” isso. Mas, com Katharine Hepburn como a fortalezas Ethel, Henry Fonda como o casca-grossa antipático Norman e Jane Fonda como Chelsea, a filha que tem problemas com o pai desde a infância até a meia-idade, é uma obra marcante, um filmaço.
São três monstros sagrados ali na tela, diante da gente, três dos melhores atores do cinema mundial. Meu, é talento demais da conta, é uma coisa fora de jeito.
Para pegar apenas um símbolo, algo que dá para contar, somar: juntos, os três tiveram 23 indicações ao Oscar – e levaram para suas casas 7 estatuetas!
Entre os Oscars que Katharine e Henry ganharam estão os de melhor atriz e melhor ator por suas interpretações de Ethel e Norman Thayer. Jane também foi indicada, mas não ganhou. No total, o filme teve 10 indicações ao Oscar, e venceu três. (Falo dos prêmios do filme mais adiante.)
Então tá: Num Lago Dourado é um belo, sensibilíssimo drama familiar, que, graças a esses três atores extraordinários, é um filmaço.
Agora, quando a gente pensa que, neste primeiro e único filme em que contracenaram, o grande Henry e essa absurdamente fantástica Jane estão encenando algo bastante parecido com o que viveram na vida real… Ah, meu… Num Lago Dourado é um filme que excede!
Registro necessário antes de chegar ao primeiro intertítulo: que figura o garoto Doug McKeon, intérprete de Billy Ray, o adolescente que o pai e sua namorada Chelsea simplesmente abandonam aos cuidados dos pais dela durante um mês inteiro, para poderem curtir uma viagenzinha à Europa. Tinha 15 anos em 1981, o ano de lançamento do filme, e, diabo, o garoto enfrenta Henry Fonda de igual para igual, Davizinho contra Golias. Como se fosse um Lee J. Cobb em 12 Homens e uma Sentença, um Jason Robards, Jr. em Era Uma Vez no Oeste. Fantástico!


On Golden Pond existe porque Jane Fonda quis fazer um filme para seu pai – um filme para seu pai finalmente ganhar um Oscar, e um filme em que ela e ele pudessem trabalhar juntos.
E tinha pressa. Sabia que o pai estava doente, e não viveria muito mais.
Este viria a ser o último filme do gigante Henry Fonda – e daria a ele seu primeiro Oscar. E foi também o primeiro e único filme em que ele e Kate Hepburn contracenaram. Na verdade, embora fossem colegas de profissão havia décadas, jamais tinham se encontrado pessoalmente até pouco antes do início das filmagens.
Quando revi o filme agora, para escrever sobre ele para o site, não me lembrava de nenhuma dessas informações, se é que um dia já tenha sabido…
“Há boa probabilidade de que a geração de jovens frequentadores de cinema dos dias de hoje poderia se lembrar de Henry Fonda como ‘o pai de Jane’, se não fosse pela sua última atuação.” Assim começa o texto sobre On Golden Pond no livro Box Office Hits, de Susan Sackett – e é preciso registrar que “os dias de hoje” dela hoje já são antigos. O livro é de 1990, e traz relatos sobre os cinco filmes de maior bilheteria, ano a ano, de 1939 a 1988.
“O ator vinha fazendo filmes em Hollywood por 45 anos, filmes memoráveis como Jesse James, The Grapes of Wrath, Mister Roberts e 12 Angry Men. (No Brasil, Jesse James, As Vinhas da Ira, Mister Roberts, 12 Homens e uma Sentença.) Ainda assim, surpreendentemente, com mais de 60 filmes a seu crédito, Henry Fonda jamais havia sido honrado com um Prêmio da Academia como Melhor Ator.”
O livro informa que a Academia havia dado ao ator um prêmio Honorário em 1980, “em reconhecimento a suas brilhantes realizações e contribuição duradoura para a arte dos filmes”. Oscars honorários, como se sabe, são dados para os artistas que a Academia havia desprezado durante as décadas anteriores.
Prossegue o livro de Susan Sackett: “A empresa de Jane Fonda havia comprado os direitos de On Golden Pond, a peça de Ernest Thompson sobre o trauma de enfrentar a velhice, como um veículo para seu pai estrelar, mas também para o que seria certamente sua única oportunidade de aparecer junto com ele em um filme. Com a combinação Katharine Hepburn/Henry Fonda, a empresa acertou em cheio. Os dois veneráveis atores somavam 95 anos de atuação em 129 filmes, mais incontáveis atuações no palco e na televisão.
“On Golden Pond será sempre lembrado por várias razões. Surpreendentemente, Hepburn e Fonda, Sr. nunca haviam trabalhado juntos em todos os anos de profissão na mesma indústria. Ela havia feito nove filmes com Spencer Tracy, mas não havia sequer encontrado Hank Fonda. No primeiro dia de filmagens, Kate presenteou Hank com o chapéu ‘da sorte’ de Spence, que ele passou a usar como parte de seu figurino em On Golden Pond.”
Eis alguns fatos e datas. As filmagens foram junto de um lago chamado Squam, em New Hampshire, entre 15 de julho e 23 de setembro de 1980. A première foi em Los Angeles em 18 de novembro de 1981, e a cerimônia do Oscar, em 29 de março de 1982. Já doente, com problemas respiratórios, Henry Fonda não estava presente ao Dorothy Chandler Pavillon, e Jane Fonda recebeu a estatueta por ele. Morreria menos de cinco meses depois, em 12 de agosto, aos 77 anos, de parada cardiorrespiratória.


On Golden Pond, a peça, de autoria de um estreante, Ernest Thompson, foi encenada em 1978, off-Broadway, ou seja, em teatro pequeno, distante das grandes, principais salas de Nova York, com Tom Aldredge e Frances Sternhagen nos papéis de Norman e Ethel Thayer. Encenada logo em seguida no Kennedy Center, em Washington, fez um grande sucesso, o que levou a uma nova estréia em Nova York, em fevereiro de 1979, dessa vez no New Apollo Theater, na Broadway, e depois no Century Theatre. Foram 400 apresentações – e uma delas foi vista por Bruce Gilbert, grande amigo e sócio de Jane Fonda na companhia produtora que a atriz havia criado.
“Quando Bruce viu a peça Num Lago Dourado, em Nova York, ele quis comprá-la imediatamente, já que o tempo era essencial: papai entrava e saía de hospitais com mais frequência, por seu problema cardíaco e uma infinidade de complicações resultantes deste, e eu sabia que não restava muito tempo para trabalharmos juntos. (…) Eu acreditava que no papel de Norman Thayer papai fosse ganhar o Oscar que lhe escapara por tanto tempo. Eu queria fazer isso acontecer para ele. Mark Rydell concordara em dirigir o filme e Ernest Thompson, o jovem autor da peça, a reformularia para a tela grande.”
O relato está na maravilhosa autobiografia que Jane Fonda lançou em 2005, aos 68 anos, Minha Vida Até Agora, editada no Brasil pela Record, com tradução de Alice Klesk. O 18º capítulo da segunda das três partes da autobiografia se chama “Num Lago Dourado”, e tem 22 páginas fascinantes, cheias de histórias e observações da atriz sobre a produção do filme.
Ela fala muito, muito, muito de Kate Hepburn, por quem, obviamente, tinha imensa admiração, respeito. Começa contando que cometeu um grande erro por não estar presente no dia em que finalmente Kate e Hank Fonda se conheceram. A gigantesca estrela tomou a ausência da moça – na época mais apelo na bilheteria do que ela própria, e, afinal, a produtora do filme – como uma falta de respeito. Jane só percebeu isso quando foi visitar Kate na casa dela, alguns dias depois, e foi recebida com uma declaração irada da velha dama, que apontava o dedo em riste para ela: – “Eu não gosto de você!”
“Foi um momento terrível”, narra Jane no seu livro. “Não apenas porque alguém quase divino estavam me amaldiçoando, mas também porque em menos de duas semanas ela viajaria a New Hampshire, para começar os ensaios de Num Lago Dourado com meu pai e eu. Katharine Hepburn era essencial para o financiamento desse filme. Nenhum estúdio americano achava que alguém ia querer ver um filme sobre dois velhos e uma criança. Para completar, meu pai estava sofrendo do coração, o que era grave o bastante para nos impedir de conseguir um seguro para o filme. Tudo dependia de que todos trabalhássemos por muito menos que de costume e, se perdêssemos Katharine Hepburn, o projeto estava condenado.”
Ao longo daquele encontro, a atriz exatamente 30 anos mais jovem que a outra foi percebendo que Kate Hepburn queria, sim, e muito, fazer o filme – mas tinha receio de que Jane, no auge da fama, com a vantagem de ser a produtora, quisesse prejudicá-la, deixá-la em um segundo plano. Kate chegou a perguntar com todas as letras como seria o “billing”, a ordem do nome dos atores nos créditos e nos cartazes, algo importantíssimo para os grandes astros de Hollywood.
O relato de Jane sobre sua relação com Kate é respeitoso, sempre – no texto, sempre se refere a ela como Ms. Hepburn, Sra. Hepburn. Mas a velha gigantesca estrela que ela desenha é uma mulher egocêntrica, que exige que todos ao redor a tratem como se fosse a Rainha da Inglaterra (ou de Hollywood, o que, para os velhos atores, creio que era a mesma coisa), enquanto ao mesmo tempo teme não ser tratada com a reverência que sabe que merece. Sequer ser mais baixa do que os outros atores do elenco ela suportava – usou “seu par de plataformas dos anos 1930, que aumentavam sua altura em pelo menos 5 cm”.
Kate quis ler trechos dos diálogos junto com Jane. Tipo assim: garota, olha só como você deve falar seus diálogos…
Mas no fim – é o que Jane Fonda escreve em seu livro – ficou tudo bem entre as duas. Até o ponto de Kate ter demonstrado que compreendia perfeitamente as dificuldades de relacionamento entre Jane e o pai.


Essa questão – as dificuldades de relacionamento da atriz com seu pai – é para mim, fã absoluto de Jane Seymour Fonda que sou, o cerne do filme. E em Minha Vida Até Aqui ela fala abertamente sobre a questão.
Há no filme um detalhe emblemático sobre a relação pai e filha. Chelsea nunca havia conseguido pular no lago dando uma cambalhota para trás. Norman demonstrara sempre que achava aquilo uma prova de que a filha não era digna de admiração, respeito. Quando a narrativa se aproxima do fim, e Chelsea está de volta à casa do lago, após um mês na Europa com Bill, há uma sequência em que ela resolve dar o tal pulo com cambalhota para trás.
Jane não havia pensado em fazer ela mesma a tal cambalhota – aquilo ficaria com alguma dublê. Mas Kate Hepburn quis saber como ela estava quanto àquela sequência – e, a partir daí, Jane começou a treinar… Quando, depois de muito ensaio, conseguiu a proeza, percebeu que Kate estivera a observá-la o tempo todo. “Você me ensinou a respeitá-la, Jane. Você encarou seu medo”, disse a veterana estrela para ela, segundo conta em suas memórias. “Todos deveriam experimentar a sensação de superar o medo e dominar alguma coisa. As pessoas que não são ensinadas a fazer isso se tornam molengas!”
“Obrigada, Senhor! (O itálico é do livro.) Eu havia sido redimida. Deus sabe que a última coisa do mundo que eu queria era ser molenga, certamente não aos olhos da sra. Hepburn, uma prova viva do anti molenga. Era estranho. No filme, a pirueta era para eu me afirmar para meu pai. Na vida real, eu me afirmara para a sra. Hepburn. Meu pai provavelmente não ligaria nem um pouco se eu mesma desse a cambalhota ou usasse uma dublê.”


Jane Fonda descreve detalhada, detalhadamente, como foi rodar uma outra sequência do filme, em que há um duro diálogo entre pai e filha. Norman, Ethel e também Bill, o noivo, estão jogando um jogo de tabuleiro, um tal Parcheesi; Chelsea está sentada em um sofá, folheando uma revista. O pai faz um comentário tipo ah, ela não quer jogar porque tem medo de perder. A filha reage furiosa: – “Você parece gostar de derrotar as pessoas. Eu me pergunto por quê”.
Na hora, Jane interferiu na iluminação da cena – queria ver bem o rosto do pai para poder falar a frase de Chelsea com muita raiva em reação à fala dele. E pediu que houvesse iluminação suficiente para que o pai visse o seu rosto: – “Está bom, papai? Você pode ver meus olhos?”
“Eu não preciso ver seus olhos”, ele respondeu. “Não sou esse tipo de ator.”
“Nossa! Suas palavras me atravessaram. Tive uma imensa sensação de menosprezo. Esqueça o fato de eu ter feito esse projeto por ele. Esqueça meus dois prêmios da Academia, eu ser mãe de dois filhos, esqueça tudo isso. Subitamente, fui reduzida a uma garota gorda, trêmula e insegura, como meu personagem. Como Chelsea diz a sua mãe, em outra cena: ‘Eu ajo como uma pessoa grande, em todos os outros lugares. Na Califórnia, eu mando nas coisas… no entanto, volto aqui e o encontro e sou como uma garotinha, novamente!’ Eu podia me identificar com aquilo.”
A história de como foi filmado On Golden Pond daria um filme,
como A Sombra do Vampiro/Shadow of the Vampire (2000), que reconstitui as filmagens do Nosferatu de F.W. Murnau (1920) ou uma minissérie, como Feud, sobre as filmagens de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, em que os egos de Bette Davis e Joan Crawford se enfrentam num duelo de titãs.
Jane Fonda escreveu:
“Quando a cena terminou e todos estavam prontos para ir para casa, no fim do dia, eu continuei no sofá, incapaz de me mover, mas certa de que ninguém percebera o quanto as palavras de meu pai haviam me ferido. Para minha surpresa, a sra. Hepburn se aproximou e sentou ao meu lado, pôs os braços ao meu redor e cochichou em meu ouvido: ‘Eu sei exatamente como você se sente, Jane. Spence costumava fazer essas coisas comigo o tempo todo. Ele me dizia para ir embora depois que eu havia feito as minhas cenas de close, que não precisava que eu ficasse por perto, que podia dizer suas falas da mesma forma para a garota do roteiro. Por favor, não se sinta mal. Seu pai não tem a menor ideia de que as palavras dele a magoaram. Ele não teve a intenção. Ele é como Spence.”
Ah, meu…


É fascinante saber que essa história sobre um casal de idosos foi escrita por um sujeito, esse Ernest Thompson pinta de galã, que estava com apenas 28 anos de idade.
As idades, ah, as idades. Henry Fonda, que interpreta um homem chegando aos 80 anos, estava com 75 em 1980, o ano das filmagens. Kate Hepburn, de 1907, dois anos mais nova que ele (e dois anos mais velha que minha mãe), estava portanto com 73. Jane, de 1937, estava em 43.
Mas… Em 1981, aos 44 anos, em que encarnação estava Jane Fonda, essa fantástica mulher de tantas encarnações?
Taí… Acho que nunca tentei fazer uma síntese das encarnações de Jane Fonda. Vou tentar:
- Baby Jane. 1960-1963. De Até os Fortes Vacilam/Tall Story (1960) até Um Domingo em Nova York/Sunday in New York (1963).
- Young Jane. 1964-1967. Os primeiros filmes europeus, Jaula Amorosa e La Ronde (1964), o western-gozação Dívida de Sangue/Cat Ballou (1965), os dois primeiros da parceria com Robert Redford, Caçada Humana (1966) e Descalços no Parque (1967).
- Sex-symbol Jane. 1968. Dois filmes sob a direção do marido Roger Vadim, um episódio de Histórias Extraordinárias e a louca ficção Barbarella.
- Hanoi Jane. 1969-1981. Meu Deus, quanto filme bom fez a ativista contra a guerra do Vietnã! A Noite dos Desesperados (1969), Klute, O Passado Condena (1971), A Casa das Bonecas (1973), Júlia (1977), Síndrome da China (1979), O Cavaleiro Elétrico (1979). Este Num Lago Dourado aqui, creio, vendo as datas agora, foi o último da fase Hanoi Jane…
- Fitness Jane. 1982-1991.
- Billionaire Jane, senhora Ted Turner.1991-2001.
- Lady Jane. Desde sempre, até os dias de hoje.


Jane Fonda não figura nos créditos como uma das produtoras do filme. Quem aparece como produtor é seu amigo e sócio Bruce Gilbert, e as empresas produtoras são Incorporated Television Company (ITC), IPC Films e Polyphony Digital. Essa ITC, conta Jane Fonda em suas memórias, era uma pequena empresa independente britânica. Nenhum dos grandes estúdios de Hollywood topou financiar essa, como diz Jane, história sobre dois velhos e um garoto. Mesmo que os atores fossem Katharine Hepburn, Henry Fonda e Jane Fonda.
Eventualmente, a Universal fez a distribuição do filme que, afinal, foi uma produção independente.
Em sua autobiografia, a atriz diz que o filme foi a maior bilheteria do ano de lançamento. O livro Box Office Hits, já citado, diz que foi o terceiro lugar, depois de Caçadores da Arca Perdida (meu Deus do céu…) e Superman II. E usa a cifra US$ 61 bilhões. Bem, já foi dito que o livro é de 1990. O IMDb registra que o filme teve um faturamento bruto nos Estados Unidos e Canadá de US$ 119 milhões. Imagino que a cifra tenha sido atualizada de acordo com a inflação.
Algumas poucas informações, curiosidades, coincidências a mais:
- Entre as dez indicações ao Oscar estavam as duas categorias mais importantes, melhor filme e melhor diretor, além de melhor fotografia para Billy Williams e melhor trilha sonora para Dave Grusin. Henry Fonda e Katharine Hepburn levaram os prêmios de melhor atriz e melhor ator, e Ernest Thompson ficou com a estatueta de melhor roteiro adaptado.
- Duas pessoas assinam o casting, a escolha dos atores do filme – Dianne Crittenden e Barry Primus. Eta trabalhinho bom o deste casal. Como Katherine, Henry e Jane foram escolha dos realizadores – o diretor Mark Rydell e os produtores Bruce Gilbert e Jane Fonda – os dois encarregados do casting tiveram a trabalheira gigantesca, insana, de escolher três atores. Os que fariam o namorado de Chelsea-Jane Fonda, Bill Ray, o filho dele, Billy Ray, e Charlie, o carteiro, amigo da família, que visita o casal de velhinhos e, no passado, tinha sonhado em namorar Chelsea. (O carteiro é o papel de William Lanteau.)
São apenas e tão somente seis personagens!
- Mas Dianne Crittenden e Barry Primus fizeram um grande gol: se é que foi deles a escolha de Doug McKeon para o fundamental papel do garoto merecem todos os parabéns. O garoto demonstrou imenso talento.
- Não era um estreante o garoto Doug McKeon, nascido em 1966 e que estava portanto, como já foi dito, com 15 anos em 1981, no lançamento do filme. Antes, havia já trabalhado em oito títulos – filmes e séries para a TV.
Manteve-se ativo na profissão, diferentemente de tantos atores mirins que se perdem ao longo da estrada. Em 2019, participou de uma série de TV, o 42º título de sua carreira como ator.
- Dabney Colman (1932-2024) foi escolhido por Jane Fonda para o papel de Bill, o noivo de Chelsea. Os dois haviam acabado de trabalhar juntos em Nine to Five, no Brasil Como Eliminar Seu Chefe. Naquela comédia gostosa, Dabney Colman faz o chefe das três personagens interpretadas por Jane Fonda, Lily Tomlin e Dolly Parton.


Não me lembrava de que este foi o último filme de Henry Fonda, nem de que ele jamais havia levado para casa um Oscar, nem de que ele e Kate Hepburn jamais haviam trabalhado juntos. Também não me lembrava de que a crítica meteu o pau no filme.
Leonard Maltin deu ao filme 3 estrelas em 4: “Fonda, em seu último longa-metragem, está não menos que brilhante como o excêntrico professor aposentado Norman Thayer, Jr., com raiva de ter 80 anos e medo de perder suas faculdades mentais. Hepburn está ótima como sua esposa devotada, que sabe tudo, que compartilha com ele os verões em sua casa de frente para um lago; Jane é a filha alienada deles. Às vezes uma comédia-drama simplista, com roteiro de Ernest Thompson, baseado em sua peça, tem uma dose forte de Qualidade de Astros. Fonda, Hepburn e o roteirista Thomson venceram os prêmios da Academia por seu trabalho. Refeito para a TV em 2001.”
Pauline Kael, a prima donna da crítica americana, detestou. Começa assim: “Aquela tagarelice edificante que trafica pesadamente com símbolos mais ou menos elementares: a luz dourada sobre o lago representa o ocaso da vida, e assim por diante. Dirigido por Mark Rydell, a partir da adaptação de Ernest Thompson de sua própria peça de 1978, o filme é um namoro caduco em que o papaizinho Norman (Henry Fonda) está comemorando seu octogésimo aniversário, e a mamãezinha Ethel (Katharine Hepburn), próxima do septuagésimo, contam piadas, resistem a crises domésticas e nos mostram a força dos sólidos valores ianques.”
Dona Kael prossegue, mas eu paro por aqui.
O Guide des Films de Jean Tulard é ainda mais duro do que Pauline Kael, se é que isso é possível. Pego apenas duas frases. “O difícil, com esse tipo de filme, é que é inatacável. Bem interpretado, bem filmado, bem fotografado, com um tema que vale um outro. Mas, irremediavelmente, exala de tudo isso uma terrível impressão de tédio.”
Com que então a crítica não gostou do filme! Bem… Seria mesmo de se esperar. O filme tem um tom positivo, até mesmo otimista – as coisas podem se resolver, é o que ele parece dizer. Crítico de cinema não gosta desse tipo de coisa. Pode ser bem interpretado, bem filmado, bem fotografado, mas se tem um tom positivo, esperançoso, então não presta.
Os seres humanos normais, os que não empinam o nariz para dizer que gostam de “filmes de arte”, estes gostam muito.
Anotação em agosto de 2024
Num Lago Dourado/On Golden Pond
De Mark Rydell, EUA, 1981
Com Katharine Hepburn (Ethel Thayer),
Henry Fonda (Norman Thayer Jr.),
Jane Fonda (Chelsea Thayer Wayne), Doug McKeon (Billy Ray) Dabney Coleman (Bill Ray, o namorado de Chelsea), William Lanteau (Charly, o carteiro)
Roteiro Ernest Thompson, baseado em sua peça teatral
Fotografia Billy Williams
Música Dave Grusin
Montagem Robert L. Wolfe
Casting Dianne Crittenden, Barry Primus
Desenho de produção Stephen B. Grimes
Figurinos Dorothy Jeakins
Produção Bruce Gilbert, Incorporated Television Company (ITC), IPC Films, Polyphony Digital.
Cor, 109 min (1h49)
Fonte: 50 anos de filmes


Jornalista, ex-editor-executivo do Jornal O Estado de S. Paulo e apreciador de filmes e editor do site 50 anos de filmes.