6 de outubro de 2024
Ricardo Noblat

Do mal que se torna irreparável

Desafio ao Supremo

RUÍDO – Dallagnol, chefe da força-tarefa em Curitiba: “Tem como sondar se absolverão assad?”
(Theo Marques/Folhapress)

Dará em nada a notícia-crime protocolada no Supremo Tribunal Federal pelas bancadas do PT na Câmara e no Senado que pede a punição dos procuradores da Lava Jato em Curitiba e do ex-juiz Sérgio Moro pelo modo como conduziram o processo que resultou na condenação de Lula no caso do tríplex do Guarujá.
Se punição houvesse, a Justiça estaria reconhecendo que errou, o processo teria de ser anulado e Lula solto, pronto para ser beatificado por seus seguidores e talvez apto a concorrer à eleição de 2022. Isso dificilmente ocorrerá. A esperança do PT é que Lula possa pelo menos cumprir em casa o resto de sua pena.
O clima dentro do Supremo, hoje, é favorável a Lula. Cresce ali o número de ministros convencidos de que a revelação pelo site The Intercept de diálogos entre os procuradores, e de alguns deles com Moro, já provou à exaustão que eles estavam mais preocupados em fazer política do que em fazer justiça.
Como, por sinal, ficou claramente demonstrado no que disse o procurador Deltan Dallagnol ao seu colega Andrey Borges de Mendonça em 9 de março de 2016:
– Mas a questão jurídica é filigrana dentro do contexto maior que é político.
Moro autorizara a divulgação de uma conversa entre a presidente Dilma Rousseff e Lula que fora convidado por ela para ser ministro da Casa Civil. Entre as 22 conversas grampeadas de Lula naquele dia, Moro escolheu a que poderia dar a impressão de que ele só aceitara o convite de Dilma para escapar de ser preso.
Como ministro, Lula só deveria satisfações ao Supremo, saindo da jurisdição de Moro. As demais conversas grampeadas naquele dia mostravam que ora Lula hesitava em virar ministro, ora procedia como se ministro fosse, preocupado com a estabilidade do governo e empenhado em tentar salvar o mandato de Dilma.
O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, censurou Moro pelo que ele fez. O juiz foi obrigado a se desculpar e a remeter ao Supremo o processo do tríplex. Mas o estrago estava feito. O país pegou fogo. Milhares de pessoas saíram às ruas a pedir as cabeças de Lula e de Dilma. O resto é história conhecida.
Está para se conhecer o que a mais alta Corte do país fará para limpar parte da sujeira que maculou as instâncias inferiores de justiça que lhe devem obediência. O mal por completo feito por Moro e seus garotos de Curitiba à história política do país jamais será reparado.
Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *