Vou iniciar este meu artigo citando uma estrofe da canção “Cio da terra” composta por Milton Nascimento (Melodia) e com letra de Chico Buarque lançada em 1977, que diz: “ afagar a terra, conhecer os desejos da terra, cio da terra profunda estação, e fecundar o chão”.
Segundo Chico, é “uma canção de trabalho agrário” que Milton compôs inspirado no canto das mulheres camponesas na colheita do algodão do Vale do Rio Doce.
Inspirado nessa ideia de Chico e Milton, me veio a ideia de escrever sobre o tema: “Agricultores e pecuaristas tem que apreender com aterra, e não apenas dela”.
Afagar a terra é mais do que um gesto físico! É um ato de conexão com a essência do mundo natural.
A terra, esse manto vital que sustenta nossas vidas, é muito mais do que um simples recurso. Ela é um organismo vivo, pulsante, que carrega em si a memória das eras e a promessa do futuro. Ao tocá-la com respeito e cuidado, nos conectamos com sua sabedoria ancestral e seus desejos ocultos.
Conhecer os desejos da terra exige sensibilidade e atenção. A terra não fala com palavras, mas com sinais. Ela sussurra através do vento, se manifesta nas mudanças das estações e revela sua necessidade em cada rachadura, cada folha caída, cada grão de areia.
É no cio da terra, nessa profunda estação de fertilidade, que ela clama por cuidado, amor e reciprocidade. É quando ela nos lembra que não somos apenas seus habitantes, mas seus parceiros em um ciclo eterno de dar e receber.
O cio da terra é uma metáfora poderosa para sua capacidade de regeneração. Assim como em qualquer ser vivo, há momentos de repouso e momentos de criação. Quando a terra está pronta para receber a semente, ela se abre em generosidade, oferecendo sua energia para alimentar a vida. Fecundar o chão, então, é mais do que plantar; é participar de um ato sagrado. É reconhecer que ao depositarmos algo na terra, também devolvemos a ela parte do que nos foi dado.
Neste gesto de afagar, conhecer e fecundar, há um chamado para a responsabilidade. Vivemos em um mundo onde o solo é frequentemente explorado sem consideração. Esquecemos que, ao ferir a terra, ferimos a nós mesmos. Mas quando a tratamos com o respeito que merece, ela nos recompensa com abundância, equilíbrio e harmonia.
Portanto, ao tocar a terra, devemos fazê-lo com reverência. Que nossas mãos sejam instrumentos de cuidado e nossas ações, e de sustentabilidade.
O cio da terra nos convida a essa parceria criativa, um pacto silencioso que garante a continuidade da vida. Afinal, afagar a terra é, no fundo, afagar a própria existência. Que possamos sempre lembrar disso, em cada semente que plantamos e em cada passo que damos sobre ela.
A terra é fundamental para o desenvolvimento sustentável e para a preservação dos recursos naturais. Vivemos uma realidade em que o solo, a água e a biodiversidade são finitas e essenciais, mas, ainda assim, a exploração excessiva muitas vezes degrada esses recursos, comprometendo a produção no longo prazo e afetando a saúde dos ecossistemas.
A frase “viver com a terra, e não apenas nela” resume a ideia de um convívio harmônico e equilibrado, em que a terra não é apenas um meio de produção, mas sim um parceiro que merece cuidado e respeito.
Quando os agricultores e pecuaristas passam a “viver com a terra”, eles assumem a responsabilidade de observar e respeitar os ciclos naturais, além de buscar práticas que preservem o solo, a água e a biodiversidade local. Isso significa adotar técnicas que conservem e melhorem as condições do solo, como a rotação de culturas, o uso de adubos orgânicos e a manutenção de cobertura vegetal.
Essas práticas, além de protegerem o solo, aumentam a produtividade a longo prazo e reduzem a dependência de insumos químicos, que podem causar poluição e erosão.
Além disso, para os pecuaristas, viver com a terra implica em adotar uma abordagem de manejo sustentável do pasto, como a rotatividade de áreas para evitar o sobre-pastoreio. O uso sustentável das pastagens permite que a vegetação se recupere, o que é fundamental para evitar a degradação do solo e o esgotamento dos nutrientes. Com isso, o gado também se torna mais saudável, e a qualidade da produção de carne e leite melhora.
A água é outro recurso crítico. A proteção de nascentes e a adoção de sistemas de irrigação eficiente são exemplos de medidas que mostram o cuidado com o uso desse recurso. Quando os agricultores e pecuaristas entendem a importância de preservar a água, não apenas para suas plantações e rebanhos, mas para toda a comunidade, eles se tornam agentes de uma mudança que beneficia tanto o meio ambiente quanto a sociedade.
No entanto, é preciso lembrar que essas mudanças exigem conhecimento e apoio. A capacitação para o uso de técnicas de agricultura regenerativa e a criação de políticas de incentivo ao manejo sustentável são essenciais para que os produtores possam se adaptar e prosperar.
O acesso a tecnologias e a recursos financeiros também são elementos-chave para possibilitar essa transição.
Viver com a terra, e não apenas nela, exige uma mudança de mentalidade e um compromisso com o futuro.
Ao cuidarem da terra como um bem valioso, agricultores e pecuaristas garantem não só a continuidade de suas atividades, mas também a qualidade de vida das próximas gerações. Trata-se de um caminho que combina economia e ecologia, em que os ganhos não são apenas individuais, mas coletivos e duradouros.
Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade do Estado da Bahia (1987)-UNEB e graduação em bacharelado em administração de empresa – FACAPE pela FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS DE PETROLINA (1985). Pós-Graduado em PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL. Licenciatura em Matemática pela UNIVASF – Universidade Federal do São Francisco . Atualmente é proprietário e redator – chefe do blog o ProfessorTM