Foto: Google Imagens – Raizes Fm 98.7
Paro o carro no sinal. Do meu lado param 2 moto boys.
– Boa tarde, nos cumprimentamos.
Olho para frente vejo um homem magro carregando um carrinho de carga contendo papelão.
Vejo a dificuldade dele de carregar o peso da carga e de como ele deveria atravessar a avenida.
Olho para os garotos da moto e falo:
– Vocês acham que isso é possível nos dias de hoje? Um homem usando sandália de dedo, com bermuda e camiseta velha, carregando uma carga de papelão debaixo da garoa? Não seria um serviço para um burro de carga, um animal forte e que se presta para isso? Aliás nem burro porque sou defensora dos animais.
Os garotos confirmam e o sinal abre.
Não me conformo de ver tal cena. Começo a guiar e resolvo abordar esse homem. Buzino e abro o vidro da janela do carona. Ele me olha desconfiado e corre para colocar a máscara.
Começo a falar com ele que não entende nada. Imagino o que deva estar pensando, uma mulher o aborda e quer saber da sua vida.
Digo palavras amáveis.
– Parabéns pelo seu trabalho, o senhor merece todo meu respeito! Não deve ser fácil, falei.
Ele me olha e vejo lágrimas nos olhos dele.
Abro a carteira e tiro a única nota que tinha. Uma merreca de 50 reais que estava lá. Entrego a nota para ele.
– Meu Deus, não acredito! Muito obrigado, diz ele. Para ganhar o que a senhora me deu teria que carregar 200 kgs de papelão!!!
Penso na miséria que habita esse país. Do meu lado uma oficina de carros importados. Do outro lado está ele, o invisível catador de lixo, com o rosto encharcado de lágrimas. Que tristeza…
– Obrigada mais uma vez pela ajuda. Vou ver minha filha no Natal e poderei fazer a barba e cortar o meu cabelo. Foi o melhor presente que ganhei, disse ele.
Sorri para ele e dei um adeus.
E quem começou a chorar fui eu.
Vi pelo retrovisor que ele parou os carros para eu poder sair.
Senti vergonha de reclamar da vida, da pandemia, disso e daquilo. Ora bolas, pensei, vá te catar Priscila! Me senti um lixo.
Cenas como essa, de um homem trabalhador e bom, carregando carga de material reciclado para poder ganhar um dinheirinho, se vê nos noticiários internacionais em países do 3o Mundo como Índia e África. Agora já está implantada aqui. Pobreza total. Muito triste.
E agora?

Jornalista… amo publicar colunas sobre meu dia a dia…