24 de abril de 2024
Colunistas Priscila Chapaval

A luta da invisibilidade dos catadores de lixo

Foto: Google Imagens – Raizes Fm 98.7
Paro o carro no sinal. Do meu lado param 2 moto boys.

– Boa tarde, nos cumprimentamos.

Olho para frente vejo um homem magro carregando um carrinho de carga contendo papelão.

Vejo a dificuldade dele de carregar o peso da carga e de como ele deveria atravessar a avenida.

Olho para os garotos da moto e falo:

– Vocês acham que isso é possível nos dias de hoje? Um homem usando sandália de dedo, com bermuda e camiseta velha, carregando uma carga de papelão debaixo da garoa? Não seria um serviço para um burro de carga, um animal forte e que se presta para isso? Aliás nem burro porque sou defensora dos animais.

Os garotos confirmam e o sinal abre.

Não me conformo de ver tal cena. Começo a guiar e resolvo abordar esse homem. Buzino e abro o vidro da janela do carona. Ele me olha desconfiado e corre para colocar a máscara.

Começo a falar com ele que não entende nada. Imagino o que deva estar pensando, uma mulher o aborda e quer saber da sua vida.

Digo palavras amáveis.

– Parabéns pelo seu trabalho, o senhor merece todo meu respeito! Não deve ser fácil, falei.

Ele me olha e vejo lágrimas nos olhos dele.

Abro a carteira e tiro a única nota que tinha. Uma merreca de 50 reais que estava lá. Entrego a nota para ele.

– Meu Deus, não acredito! Muito obrigado, diz ele. Para ganhar o que a senhora me deu teria que carregar 200 kgs de papelão!!!

Penso na miséria que habita esse país. Do meu lado uma oficina de carros importados. Do outro lado está ele, o invisível catador de lixo, com o rosto encharcado de lágrimas. Que tristeza…

– Obrigada mais uma vez pela ajuda. Vou ver minha filha no Natal e poderei fazer a barba e cortar o meu cabelo. Foi o melhor presente que ganhei, disse ele.

Sorri para ele e dei um adeus.

E quem começou a chorar fui eu.

Vi pelo retrovisor que ele parou os carros para eu poder sair.

Senti vergonha de reclamar da vida, da pandemia, disso e daquilo. Ora bolas, pensei, vá te catar Priscila! Me senti um lixo.

Cenas como essa, de um homem trabalhador e bom, carregando carga de material reciclado para poder ganhar um dinheirinho, se vê nos noticiários internacionais em países do 3o Mundo como Índia e África. Agora já está implantada aqui. Pobreza total. Muito triste.

E agora?
Priscila Chapaval

Jornalista... amo publicar colunas sobre meu dia a dia...

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