28 de março de 2024
Sergio Vaz

O país vai ter saudade do governo Temer

Os números mostram um país muito melhor que há 2 anos e meio.
A economia do país que Michel Temer vai entregar para o próximo presidente está – sem sombra de dúvida – muito, mas muitíssimo melhor do que a que ele recebeu em maio de 2016, após 12 anos, 4 meses e alguns dias de governos lulo-petistas.
Em 2 anos e 7 meses de governo – embora bombardeado incessantemente como “golpista” pela máquina de propaganda do lulo-petismo, e, depois de execrado quase unanimemente pela imprensa e pela opinião pública por causa de uma conversa esquisita com um bandido –, Michel Temer e a equipe econômica escolhida por ele conseguiram retirar o país da mais profunda recessão da História.
A recuperação da economia teria sido seguramente muito maior, e mais rápida, se não fossem os problemas políticos em que o governo se enredou, em especial depois da divulgação bombástica, exagerada, sensacionalista, do tal diálogo entre o presidente e o empresário a quem o PT favoreceu com empréstimos de milhões e milhões de reais do BNDES.
Mas a História não é feita com o uso da preposição “se” – e o que importa é que todos os números da economia brasileira são hoje bem melhores do que eram quando o país se viu livre daquele estrupício chamado Dilma Rousseff e de seus asseclas da área econômica, Guido Mantega et caterva.
Esta é a mais límpida verdade dos fatos – embora, por um conjunto de circunstâncias que os cientistas ainda vão ter que estudar muito, Michel Temer seja o presidente mais mal avaliado da História, com níveis de desaprovação inimagináveis.

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O país estava engolfado na disputa eleitoral entre dois movimentos populistas, um de esquerda, outro de extrema direita, e por isso pouca gente parece ter dado atenção aos números, divulgados na segunda-feira, 22/10, do Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho.
O mercado de trabalho brasileiro criou 137.336 empregos com carteira assinada em setembro. Foi o melhor resultado para o mês desde setembro de 2013, quando foram gerados 211.068 empregos formais.
No acumulado de janeiro a setembro, foram criados 719 mil empregos formais.
O desemprego – resultado da retração da economia provocada pelos governos lulo-petistas – ainda é altíssimo. Mas, com a mudança completa, de 180 graus, na forma de condução da política econômica a partir de maio de 2016, os números têm melhorado nos últimos meses. Em ritmo lento, infelizmente: é mais do que sabido que o nível de emprego é o último fator a ser alterado ao final de uma recessão econômica.
Entre as tolices recitadas por Fernando Haddad e os absurdos ditos por Jair Bolsonaro, pelos bolsonarinhos e pelos bolsonarianos, seguramente não foram levados em consideração dois editoriais sobre economia publicados agora pelo Globo e pelo Estadão, mostrando os avanços obtidos nos últimos meses pelo governo mais menosprezado da História.
Faço questão de transcrevê-los aqui.
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Economia projeta uma perspectiva mais favorável ao novo governo
Editorial, O Globo, 24/10/2018.
A economia continua em lenta recuperação, diante de tantos obstáculos. Nenhuma surpresa, dadas as incertezas econômicas propriamente ditas — déficit público estrutural sem perspectiva de solução, por exemplo —, relacionadas também ao quadro eleitoral.
Neste campo, embora seja grande a probabilidade de vitória de Jair Bolsonaro (PSL) nas urnas do segundo turno, no domingo, a falta de clareza e de detalhamento no que deverá ser a política econômica do candidato, elaborada pelo economista Paulo Guedes, ainda garante algum suspense sobre o que poderá vir por aí.
Fator positivo sobre as expectativas é a alta probabilidade de derrota do candidato do PT, que em nenhum momento, mesmo ao fazer revisões de propostas, na confirmação como candidato em lugar de Lula, conseguiu passar confiança ao eleitorado de que não tentaria repetir as heterodoxias de Lula e Dilma responsáveis por levarem o país, no biênio 2015-16, a mergulhar em funda recessão (mais de 7%). E da qual ainda não consegue se recuperar na velocidade desejada.
Sem isso, não se reduz de forma necessária o drama do elevado contingente de desempregados, ainda acima dos 12 milhões de pessoas.
O animador é que, ao menos, há sinais de que, mesmo débil, a recuperação econômica se mantém. Cabe mencionar aqui como responsável por isso o melhor do governo Temer, que foi conter a debacle, com uma administração eficiente no Banco Central, capaz de reverter uma inflação ascendente e, com isso, permitir o corte da taxa básica de juros (Selic) até seu ponto histórico mais baixo, os atuais 6,5%.
Outro êxito indiscutível é o teto constitucional dos gastos, erroneamente considerado “congelamento” de despesas. Afinal, ao contrário do que se diz, o total dos gastos é corrigido anualmente pela inflação, e não se impede que despesas aumentem em alguma rubrica, mas desde que seja compensada em outras. Igual ao que acontece em economias maduras.
O teto conseguiu conter o crescimento descontrolado das despesas, porém precisa ser complementado por reformas. Mas a simples existência desta barreira constitucional ajudou a melhorar as perspectivas.
Um dos resultados é a criação, em setembro, de 137.336 empregos formais no país, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o que permite que se vislumbre um terreno menos desfavorável ao novo governo. Caberá a ele emitir os sinais corretos aos mercados.
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Devagar, mas avançando
Editorial, O Estado de S. Paulo, 23/10/2018
Se ninguém atrapalhar demais, a economia poderá funcionar, embora com desempenho modesto, como continuam provando empresários e consumidores brasileiros. Apesar das indefinições políticas, do governo travado e da polarização eleitoral, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,2% em agosto e superou por 1,9% o de igual mês de 2017, segundo o Monitor do PIB-FGV, indicador mensal da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os números são mais pobres que os do índice do nível de atividade publicado na semana anterior pelo Banco Central (BC). De acordo com esse indicador, a atividade aumentou 0,47% entre julho e agosto e atingiu patamar 2,50% mais alto que o de um ano antes. As duas séries coincidem, no entanto, em três informações muito importantes: a economia continua em movimento, com resultados melhores que os do ano passado e, portanto, se distanciando pouco a pouco da recessão iniciada no fim de 2014 e superada só no começo de 2017.
Não basta, no entanto, deixar de atrapalhar ou apenas atrapalhar o mínimo possível. Esse primeiro mandamento é fundamental, mas é preciso ir muito além, removendo entraves e criando condições favoráveis a um maior dinamismo. É necessário, por exemplo, estimular o investimento na capacidade produtiva. Sem isso, o Brasil estará condenado a um crescimento medíocre ainda por muitos anos. Apesar das dificuldades e do pouco estímulo, no entanto, o Monitor trouxe dados positivos sobre essa questão. No trimestre móvel terminado em agosto, o investimento, medido como formação bruta de capital fixo, foi 3,7% maior que no período correspondente do ano passado.
A decomposição desse número mostra aumento de 3,3 pontos porcentuais no item máquinas e equipamentos, 0,3 ponto em construção e 0,1 ponto em outros elementos. O dado sobre a construção, embora modesto, tem significado especial: depois de 50 trimestres móveis com taxas negativas, o investimento em obras voltou a crescer. Essa evolução, ainda insuficiente, é bem-vinda por mais de uma razão. A construção gera demanda para um amplo conjunto de setores – indústrias de cimento, aço, outros tipos de metais, tintas, vidros, máquinas, derivados de petróleo, etc. – e é uma grande geradora de empregos. Este último efeito é particularmente relevante numa economia com mais de 12 milhões de desempregados.
Se confirmada por dados mais completos, a retomada da construção terá sido muito discreta. Ainda será preciso reocupar um enorme espaço nas obras de habitação e de instalações civis de vários tipos, como hospitais, escolas, fábricas, escritórios e construções comerciais. Também será necessário retomar milhares de obras públicas paralisadas e implantar novos projetos de infraestrutura, indispensáveis para o aumento da eficiência econômica do País.
Com as contas públicas em condições muito precárias, o investimento em infraestrutura dependerá da mobilização de capitais privados, nacionais e de fora. Capitais estrangeiros têm sustentado 70% do valor investido em petróleo, gás, eletricidade, água, transporte e comunicações, segundo informou o Estado na edição de segunda-feira. Durante os quatro anos do próximo governo o Tesouro ainda terá muita dificuldade para investir. Na melhor hipótese, suas contas primárias (sem juros) poderão equilibrar-se até 2022 ou 2023.
Segundo o Monitor, houve avanço, em agosto, em todos os grandes grupos de atividades. A recuperação, embora vagarosa, está bem espalhada. Com muita capacidade ociosa, a economia poderá expandir-se no próximo ano sem grandes pressões inflacionárias. Há ociosidade no parque de máquinas e equipamentos e também na mão de obra.
O PIB cresceu 1,5% nos 12 meses até agosto, segundo o Monitor. Para o ano, a mediana das projeções do mercado estava em 1,34% na última semana. Se todo o potencial produtivo for utilizado, a economia poderá crescer entre 2,5% e 3% nos próximos anos. Será preciso investir muito para elevar o potencial. Isso dependerá de confiança e a confiança, da competência do novo governo.

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