29 de março de 2024
Colunistas Sergio Vaz

A mentira como política de governo

Foto: Google – Seu Dinheiro

59% ainda não perceberam, mas é preciso tirar Bolsonaro da Presidência (9).
Diante de um pedido de explicação feito pelo STF, a Presidência da República, por meio da Advocacia Geral da União (AGU), afirmou que os atos de Jair Bolsonaro estão de acordo com “as políticas adotadas no mundo e com as recomendações científicas, sanitárias e epidemiológicas”.
As medidas adotadas pelo presidente, diz o documento da AGU, ‘visam garantir as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde’ e, além disso, “o isolamento social necessário para evitar a rápida disseminação do novo coronavírus’.
Como todos sabemos, isso é mentira. Falsidade. Balela. Engodo. Falsificação.
Chamada à chincha, colocada contra a parede pela Justiça, a Presidência da República mente.
A resposta do advogado-geral da União, o pastor André Luiz Mendonça, tido como “terrivelmente evangélico”, demonstra de forma cabal, definitiva, que, sob Jair Bolsonaro, a mentira virou política de governo.
O país está cansado, exausto, exaurido de saber que a Presidência da República é contra o isolamento social, é contra as medidas preconizadas pela OMS, por todas as autoridades médicas do mundo, pelo próprio Ministério da Saúde, de isolamento social.
A cada dia o presidente discursa contra o isolamento social – e, sempre que possível, não apenas discursa, mas faz demonstrações práticas de que é contra o isolamento social. Há poucos dias, foi para diante do Palácio do Planalto para confraternizar com manifestantes contrários às medidas defendidas pelo ministro Luiz Henrique Mandetta, pelos governadores de Estados e por prefeitos de capitais e de grandes cidades. No domingo passado, 29/3, fez aquele prodigioso tour por lojas de cidades-satélites do Distrito Federal, cumprimentando as pessoas, promovendo aglomerações, juntando gente a seu redor para fazer fotos.
Já faz dias que vem fritando sistematicamente seu ministro da Saúde, cego de ciúme e ódio do auxiliar que, por trabalhar, e trabalhar direito, ofuscou sua triste figura.
Na quinta-feira, 2/4, em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro exagerou na quantidade de asneiras – mesmo para quem é Bolsonaro. Disse que o ministro Mandetta “extrapolou”, que Mandetta “já sabe que a gente tá se bicando há algum tempo”, que “o Mandetta quer valer muito a verdade dele, está faltando humildade para conduzir o Brasil nesse momento delicado”, que não pretende demiti-lo “no meio da guerra”.
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Neste domingo, 4/4, Bolsonaro avançou ainda mais no exagero da quantidade de asneiras que pronuncia, de forma descontrolada, agressiva, neurótica, psicótica.
É absurdo, é incrível, é inacreditável – mas, no meio de grupos de religiosos que se reuniram diante do Palácio da Alvorada, o presidente da República pronunciou as seguintes frases:
“Algumas pessoas no meu governo, algo subiu a cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações. Mas a hora deles não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil, não é para o meu bem. Nada pessoal meu. A gente vai vencer essa.”
Nessa reunião de doidos, um pastor disse que, a partir daquele instante, não haveria mais nenhuma morte pela Covid-19 no Brasil, porque o País estaria abençoado por Deus e pelo presidente Bolsonaro.
Doido tem muito. Mas, entre as frases de um pastor alucinado, demente, e aquelas do presidente da República não há muita diferença: é tudo coisa de doido. Insano. Alienado. Alienista. Pirado. Lelé da cuca.
E mentiroso.
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O mundo está enfiado na mais grave crise desde a Segunda Guerra Mundial, como têm afirmado e atestado líderes de vários países, desde a maior estadista ocupando hoje chefia de Estado, a alemã Angela Merkel, até o maior imbecil que já morou na Casa Branca, Donald Trump. Até a rainha Elizabeth II da Grã-Bretanha, numa atitude raríssima, foi à TV para pedir a seus súditos que fiquem em casa.
Não há ainda saída à vista no horizonte. Não há previsão de quando a nova Peste será, se não controlada, ao menos limitada. Portanto, não se pode saber quanto tempo a economia mundial levará para se reerguer depois da depressão em que a Peste vai enfiá-la.
Os desafios são gigantescos, descomunais.
E, no Brasil, além da Peste, ainda temos na Presidência da República um incapaz, incompetente, inepto, mentiroso, psicótico, louco varrido.
E 6 entre cada 10 brasileiros ainda não conseguem entender que é preciso que o país se livre dele, o mais rápido possível – a se acreditar nos incríveis números da pesquisa Datafolha divulgada neste domingo.
Segundo a pesquisa, apenas 37% dos brasileiros defendem a saída do presidente. E fantásticos, incríveis 59% são contra a renúncia de Bolsonaro.
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Assim sendo, a única forma de a gente ainda ter um pouco de esperança é confiar naquele grupo de colunistas, analistas políticos, que têm dito que, a rigor, Bolsonaro já não governa. Que, na prática, generais mais sensatos assumiram as rédeas do governo.
Um exemplo perfeito dessa corrente, e dessa tese, é o artigo de Bernardo Mello Franco em O Globo deste domingo.
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Eis o que ele diz, no artigo que tem o título de “Presidente decorativo”.
“Os fatos dos últimos dias reforçam a impressão de que Bolsonaro deixou de governar. Na crise do coronavírus, uma junta de ministros passou a tomar as decisões que importam. Enquanto os auxiliares trabalham, o presidente se ocupa em animar a claque do Alvorada e esbravejar contra as medidas de distanciamento social.
Na segunda-feira, o general Braga Netto assumiu o papel simbólico de interventor. Recém-nomeado para a Casa Civil, passou a comandar entrevistas diárias com grupos de ministros no Planalto. A maioria dos participantes só faz figuração, mas transmite-se a ideia de que há alguma coordenação no governo.
O general também ajudou a montar um cordão sanitário em torno do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O objetivo é impedir Bolsonaro de demiti-lo às vésperas do pico da epidemia. Os ministros Sergio Moro e Paulo Guedes, que não integram a ala sectária da Esplanada, juntaram-se ao esforço de blindagem.
“Estamos sob orientação do ministro Mandetta”, disse Guedes na terça. Dois dias depois, Moro também se contrapôs ao discurso do chefe. Sua mulher, Rosangela, foi mais direta no recado. “Entre ciência e achismos eu fico com a ciência. In Mandetta I trust”, ela escreveu, numa rede social.
No duelo entre o médico e o capitão, só restou a Bolsonaro o apoio dos filhos. Governadores, parlamentares e ministros do Supremo se alinharam abertamente a Mandetta. A opinião pública caminha no mesmo sentido. Segundo pesquisa Datafolha, a maioria (51%) dos brasileiros acha que o presidente atrapalha o combate à pandemia. A aprovação do ministro da Saúde saltou para 76%, o que aumenta o custo político de mandá-lo embora.
O isolamento de Bolsonaro tem produzido situações inusitadas. Na quinta, os presidentes da Câmara e do Senado ignoraram um convite para encontrá-lo no Alvorada. Preferiram jantar com Mandetta, alvo da ira do capitão. Na manhã seguinte, Rodrigo Maia tripudiou: “Ele não tem coragem de trocar o ministro”. O capitão deve ter espumado de raiva, mas o médico continua onde estava.
Apesar das aparências, Bolsonaro ainda é capaz de notar o que acontece à sua volta. Na terça-feira, ele passou novo recibo de esvaziamento. “O presidente sou eu!”, bradou. Há controvérsias. Para boa parte do meio político, o capitão já está fora do jogo. Virou uma peça de decoração, que poderá ser varrida do palácio quando a epidemia acabar.”
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Oxalá tenha razão Bernardo Mello Franco e todos os analistas que estão acreditando nessa tese.
Tomara que não seja apenas wishful thinking – a vontade de que os fatos sejam melhores do que parecem.
Tomara. Oxalá. Queira Deus.
Mas, enquanto isso não se comprova, vamos cada um de nós fazendo a nossa parte, até porque, como sempre lembrava a minha mãe, Deus diz “Faça da tua parte que te ajudarei”. Vamos cada um de nós lutando sem parar para demonstrar aos que ainda não entenderam que o Brasil precisa se livrar de Jair Bolsonaro.
Um lembrete: esta série de textos e compilações não tem periodicidade fixa.
Vai ficando provável que ele não consiga terminar o desgoverno em 2022 (8).
Ou o Brasil se livra de Bolsonaro, ou não tem mais Brasil (7).
Ou o Brasil se livra de Bolsonaro, ou não tem mais Brasil. (6)
Ou a democracia para Bolsonaro, ou Bolsonaro para a democracia (5)

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