

Palermo, capital da Sicília, é a quinta maior cidade da Itália. São aproximadamente 700 mil habitantes. Como toda cidade grande, tem suas mazelas como trânsito complicado, por vezes caótico. Tem histórico de relação com a máfia no passado, com consequências imagináveis. Sofreu muito com corrupção e abandono do poder público.
Mas Palermo tem extensa e rica história, belezas naturais bem próximas, e um acervo arquitetônico, incluindo igrejas deslumbrantes, de dar inveja a qualquer mortal. Além disso, fica clara a, vamos dizer assim, “retomada de crescimento” da cidade. Monumentos foram e continuam sendo restaurados e a cidade está bem mais segura.
Vale a visita? Claro! Vamos ver mais adiante por quê.
Um pouco de uma história muito rica:
Palermo foi fundada pelos fenícios (ou cartagineses) no século VIII a.C. Nessa mesma época os gregos fundaram várias cidades na costa leste da ilha, criando uma divisão da Sicília em duas partes. Assim foi até o século III a.C. quando os romanos conquistaram a Sicília, após as Guerras Púnicas. Foi então parte da República Romana, depois do Império Romano e do Império Bizantino por vários séculos.
A Sicília foi tomada pelos árabes no século IX d.C. e esse foi um período muito rico e fértil. No século XI d.C. foi tomada pelos normandos, povo de origem viking que se tornou cristão e que habitava a Normandia, no noroeste da França.
Depois chegaram os franceses e mais adiante os espanhóis aragoneses, que dominaram a ilha por cinco séculos. Até Garibaldi e o rei Vitorio Emanuelle II derrotá-los, promovendo a unificação da Itália em 1861, movimento conhecido como o Ressurgimento.
Contar um pouco da história de Palermo, em particular, e da Sicília em geral, é para mostrar ao leitor o caldeirão de civilizações com suas culturas, religiões, línguas, estilo de vida, etc que o povo siciliano, em particular o povo palermitano, foi submetido através do tempo. E como essa herança se reflete no seu impressionante acervo arquitetônico.
Principais atrativos:


1- Catedral de Palermo:
A catedral foi construída nos séculos 11 e 12 AD, a mando do rei normando Ruggero II. Suas fachadas são lindas, num estilo chamado árabe-normando ou também chamado de estilo bizantino-normando-arábico.
Os normandos tinham sangue viking, e como tal navegaram pelos mares e conquistaram muitas terras pela Europa. Mas não tinham tradição como construtores. Por isso utilizaram o conhecimento e técnica de descendentes de árabes e bizantinos que permaneceram na Sicília, e com os quais conviviam harmoniosamente. A catedral de Palermo, particularmente, teve seu interior modificado e hoje é um grande espaço neoclássico, mas seu exterior comprova que os mestres construtores árabes trabalharam lá.


2- Palácio dos Normandos e Capela Palatina:
O Palazzo dei Normanni, um dos mais belos palácios italianos, provavelmente foi construído sobre uma fortaleza árabe. Lá está localizada a maravilhosa Capela Palatina. Hoje é a sede da Assembléia Legislativa da Sicília.
A Capela Palatina, também construída entre os séculos 11 e 12, possui maravilhosos mosaicos por todas as suas paredes (graças aos bizantinos), pisos com mosaicos incrustrados no mármore (também eles), e precioso trabalho de marcenaria e marqueteira (graças aos árabes). Imperdível!






de influência árabe. (Foto: Mônica Sayão)
3- Teatro Massimo:
O maior teatro da Itália e o terceiro maior da Europa, o prestigiado Teatro Massimo é visita obrigatória na cidade. Seu interior é belíssimo e, mesmo se não houver espetáculo, vale muito fazer uma visita guiada, disponível no teatro mediante reserva.
Ficou mais famoso do que já é quando cenas finais do Poderoso Chefão 3 foram filmadas lá, inclusive a morte da filha de Michael Corleone em sua escadaria externa. Recentemente tive a oportunidade e sorte de assistir à ópera Rigoletto, de Verdi. Foi emocionante!






4- Teatro Politeama:
Alguns quarteirões adiante encontramos o Teatro Politeama, outro templo da música clássica, construído no século 19, assim como o Teatro Massimo. É a casa da Orquestra Sinfônica da Sicília.


5- Quattri Canti:
Os Quatro Cantos são as quatro esquinas que se formam do cruzamento de duas perpendiculares no centro histórico (Via Maqueda e Via Vittorio Emanuele). As construções nessas esquinas são barrocas e cada uma tem um chanfro em sua fachada, com uma fonte e estátua de uma das quatro estações. Mais acima está a estátua de um dos quatro reis espanhóis da Sicília, culminando com estátua de uma das quatro padroeiras de Palermo.


6- Piazza e Fontana Pretoria:
Logo ao lado dos Quattri Canti, encontramos a Piazza Pretoria com sua esplêndida fonte e dezesseis estátuas. Feita no século XVI para um palácio de Florença, o que não se concretizou, o conjunto foi comprado pelo senado da cidade. Para adequá-lo a uma área central e nobre de Palermo, muitas casas ao redor tiveram que ser demolidas. O resultado final ficou lindo!


7- Catedral e Claustro de Monreale:
Este é um grande exemplo da arquitetura bizantina-normanda-arábica. A catedral foi construída no século 12 AD, em Monreale, um pequeno vilarejo nas montanhas próximas a Palermo. Hoje Monreale é mais um bairro afastado de Palermo do que outra cidade. Assim como na Capela Palatina, seu interior revestido com mosaicos bizantinos é sensacional. O claustro também é belíssimo e conta com detalhes preciosos, como por exemplo, cada coluna ter mosaicos distintos das outras.
Aliás, a cidade de Monreale é uma graça. Vale passar um tempo desfrutando de seus cafés e ruas simpáticas.










8- Passeio a Cefalù:
Há algumas ótimas opções de passeios bate e volta a partir de Palermo. A melhor de todas é visitar Cefalù, uma linda cidadezinha histórica à beira-mar, distante 1h de carro ou de trem da capital siciliana. É um passeio imperdível!


Hospedagem:
A escolha de um hotel central em Palermo é fundamental. Sugiro hotéis ao longo e no entorno da Via della Libertà, a principal do centro antigo, desde o Jardim dos Ingleses, passando pelo Teatro Massimo e continuando até o Quattro Canti. Assim os principais atrativos da cidade, e também restaurantes, cafés e lojas, estarão bem próximos e não se incorrerá no risco de hospedagem em bairros menos nobres e menos seguros. Um detalhe: a Via dela Libertà muda de nome ao longo do percurso: passa a ser Via Ruggero Septimo e depois Via Maqueda, mas é uma mesma reta.
Vale conhecer Palermo? Tenho certeza que sim!


“Arquiteta de formação e de ofício por muitos anos, desde 2007 resolveu mudar de profissão. Desde então trabalha com turismo, elaborando roteiros e acompanhando pequenos grupos ao exterior. Descobriu que essa é sua vocação maior.”