A escalada de absurdos parece que ainda não foi suficiente para que todos pudéssemos garantir uma final legal da partida de 2019 e um Ano Novo com esperanças renovadas neste bonito número 2020. Só não digo que os dias passam iguais, porque a cada momento eles parecem ainda mais surreais, esquisitos e contraditórios, e quando esperávamos avançar, lá estamos nós às voltas com o passado.
Chegou o final do ano e ainda está lá. E muitos dos que me leem entenderão a surpresa porque, inclusive, nem achávamos que seria tão ruim assim; só que foi ainda pior do que as previsões, coisa de louco esse time todo, e que se mantém com apenas uma pequena parte de jogadores em forma. Os outros só deformam, chutando bola plana, pisando no tomate e arremessando abobrinhas.
Mas a torcida anda adormecida, maioria acha que o técnico da Seleção faz coisas erradas, e fica só comentando, fazendo chistes, memes, tretando lá nas redes sociais, como se brincadeira engraçada apenas fosse; não tenta invadir nem protestar à beira do campo. O medo estampa mais camisas do que o verde e amarelo. Tudo bem que – admitamos, entretanto – nosso banco de reservas nunca esteve tão desfalcado: só gente rodada, contundida, fichada, processada, desprezada, malpassada ou queimada de vez.
Há outra parte da torcida que é igual que nem. Diminuiu também, não é mais nem tão expressiva numericamente, mas está aí e não pode ser desprezada porque é insistente e está sempre querendo fechar o tempo e ser torcida única no jogo. Por eles não haveria nem time adversário.
Olho o horizonte: intuo que as coisas vão se acelerar na próxima rodada porque há muita gente atenta em campos das redondezas e adversários bastante perigosos dispostos inclusive a mudar de time rapidamente a um leve aceno do juiz, ops, ex-juiz, ele próprio índio sem apito.
Os movimentos já são visíveis. Um dos principais também se dá na área de economia, um outro planeta, que entra no jogo com chuteiras completamente diferentes – aparentam ser de outra galáxia, e que seus ouvidos não ouvem as barbaridades do chefe. Participam de um campeonato particular que se for analisado prova que o tal técnico é, ele sim, amador. Amador, malcriado e sempre metido em confusões, grosserias, manchetes, polêmicas, caneladas, sempre procurando e conseguindo fazer gol contra.
Esses são diferentões que parecem acreditar serem independentes e que se sustentarão por mais tempo, o necessário para fazerem seus nomes conhecidos para jogarem-se em novas aventuras eleitorais, como se Fernandos Henriques fossem. Perigosos com suas medidas, andam aos pulinhos, com milésimos e décimos de percentuais que operam pra cima e para baixo como grandes e confusas vitórias.
O Brasileirão 2020 terá partidas e partidos interessantes, inclusive em campos externos da política internacional onde estamos de mal a pior, em penalizado descrédito. As tevês transmitirão tudo, ao vivo mais uma vez, com direitos aos replays nos noticiários e comentários que tentarão nos explicar se foi ou não falta, quem passou a perna em quem, puxou camisa, fez jogada perigosa, bateu com a mão em forma de arminha, pediu cartão vermelho, que ainda tem essa.
No país do futebol, esse jogo continua. Adivinhem quem sempre ficará de escanteio. Torcendo para que a partida não seja prorrogada por mais um arrastado ano.
Ah, já ia esquecendo, as partidas continuarão apenas com a seleção masculina; a feminina ainda não tem apoio nem patrocínio dessa Federação.
Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).