Teatro armado na arena mais ilustre do país. Latim pra lá, francês pra cá, excelência aqui, eminência acolá. Ainda bem que ninguém ali falava grego, senão a língua portuguesa seria apequenada a poucos verbetes. Nunca se viu um tribunal superior tão inferior e tantos especialistas em habeas corpus para garantir a liberdade de um réu, como na última sessão de 22 de março à tarde, no Supremo Tribunal Federal.
O corpo jurídico da mais alta corte do país se envergou numa atitude de submissão e falta de lisura perante a nação. Todos bisonhos garotos de recados do ex-presidente Lula. Eles rasgaram o verbo diante num dia, para no outro se abraçarem numa cena teatral comovente. Todos juntinhos livrando o chefe da crucificação física e moral – o mais ingênuo e humilde servo de Deus. Foi um tragicômico espetáculo para impedir a emissão da prisão do chefe, a qualquer momento, pelos juízes de segunda instância, como definido pelo próprio órgão em 2016. Fazem e desfazem sem nenhum pejo e consequência. Mas ela virá.
Para que assistir novelas se os próprios membros da suprema corte do país promovem episódios picantes gratuitos enquanto se cutucam. Do alto de seu posto, Carminha, a atual comandante da casa, não economizou risinhos indisfarçáveis pela exitosa produção do episódio. Não se fez respeitar e se encaixou no papel de coadjuvante, diante dos barbados, fazendo o tipo de “mártir pressionada”.
Além de escancararem a relação promíscua que mantêm com o réu, os juízes do supremo rasgaram o código penal e, de quebra, defecaram (com perdão da analogia) em todos os agentes públicos e servidores da justiça que atuaram até então no combate à corrupção. Vale para todos, menos para rei, o que lhes deu cargo e benesses.
Também não causa espécie a eles a grande soma de dinheiro investida até então para manter a milionária banca de defesa do ex-presidente, que conta até com ex-ministro do supremo, pago a preço de ouro. Certamente uma merreca diante do que amealhou em todas as falcatruas em que está envolvido, somando o que deu aos compadres e seus escalões. Tudo leva a crer que esse empenho da cúpula do STF também não é pouco, montante pago até o último centavo pelos cofres públicos. Mas não é tudo.
Esses servidores públicos, que usam capa de Batman, humilharam as outras instâncias que atuam nos casos de corrupção e precisamente no que diz respeito aos processos em que Lula é réu. Para que servem os tribunais regionais mesmo? Para nada. Vão continuar tocando os seus processos sabendo que o trabalho de meses a fio pode ser ridicularizado em um jogo de interpretação e retórica.
Mesmo parecendo uma orquestra desafinada, na prática há um ensaio final há muito combinado. Lula tem que se safar. Assim como Ricardo Lewandowski fragmentou o rito do impedimento da amiga de partido no congresso, Dilma Rousseff, para que não se tornasse inelegível, agora os ministros do supremo farão muito mais pelo patrão.
A prisão de Lula não é uma vingança da direita, é um trâmite legal com evidências de crimes comprovados pelo Ministério Público contra a nação, não só quando esteve à frente da presidência, mas pelo que tem feito até o momento para se livrar da justiça. Ele continua dando nó em pingo de éter, só que não é mais o queridão. Até os últimos recursos o povo vai sangrar, na base da degola, bem ao estilo francês “chiquetê” da suprema corte. Só falta mesmo a peruca branca crespa que se vê em alguns tribunais. Destino irremediavelmente triste o de Lula. Vale aqui o dito popular: “é tão pobre, mas tão pobre que só tem dinheiro”.
Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.