29 de março de 2024
Ligia Cruz

Sem gritaria, mais trabalho


Não sejamos hipócritas, as áreas de florestas e biomas importantes estão sendo degradadas no país, desde o Império. Assim começou nossa história, com extrativismo irresponsável.
Entram e saem governos e nenhum dá a mínima importância ao tema. Se existem grileiros, madeireiros criminosos, jagunços e outros da laia, é porque a corrupção nessa esfera é tão grande ou maior do que o petrolão.
Um país tão vasto que ainda importa comida é uma vergonha em qualquer tempo. A preocupação no campo hoje é invadir, derrubar e transformar tudo em pasto ou plantação de cana, de preferência enriquecendo ainda mais as gigantes da biotecnologia e do agrotóxico.
Planejamento e política de ocupação de terras nunca foram levados a sério por monarcas, presidentes civis ou militares. O próprio povo brasileiro é um sonoro bundão, negligencia, terceiriza e procrastina responsabilidades.
A benevolência para com produtores rurais tem centenas de anos, principalmente os que privilegiam as monoculturas em larga escala em benefício de castas de produtores e grandes exportadores. Não é coisa do passado, acontece hoje em dia.
Parques ambientais invadidos pela especulação imobiliária também é prática antiga e corriqueira. E qualquer empresa estrangeira que se instala aqui aprende rapidinho a transgredir e corromper. E não é só coisa do campo.
As grandes cidades brasileiras estão desgovernadas e degradadas pelas mesmas razões. Basta ver o recente caso dos prédios que desabaram no Rio de Janeiro e fizeram cerca de duas dezenas de vítimas. Foram construídos em área de preservação ambiental. E se foram é porque todos os corruptos encarcerados deixaram e o povo se calou e entrou na roubada porque quis.
Na própria cidade de São Paulo isso acontece em todos os cantos de maneira silenciosa e não menos criminosa. Cada metro quadrado é vendido a peso de ouro, muitos locais que deveriam ser preservados ou que constam de planos diretores antigos, definidos como espaço público, parques e praças.
As grandes construtoras e incorporadoras estão acostumadas a “atropelar” licenças ambientais facilmente. Têm até especialistas para desembaraçar os terrenos e obras, todo mundo sabe, não é novidade também. Para eles, a mão que vai é a mesma que volta e com dinheiro, muito dinheiro para governos e empresas. Mas o que é relevante fica na gaveta. Entra e sai governo ninguém cuida dos rios e ainda permitem a construção nas várzeas, para gerar mais lixo e esgoto sem tratamento. E, infelizmente, muitas capitais estão em situação de degradação perversa.
Para os tacanhos gestores públicos governar é fazer obras, levantar prédios em aliança com parceiros de longa data. Então, vamos falar de meio ambiente?
A Mata Atlântica, o Cerrado, o Pantanal, a Amazônia e todos os ecossistemas estão ameaçados, invadidos e explorados por grandes grupos financeiros.
A quem isso importa? A questão imperiosa da oposição agora é cair de pau em tudo o que o atual governo pretende fazer. Só que entraram na dança quando se sentaram na cadeira, com a maior cara dura e muita saliva – todos. Se o atual ministro do Meio Ambiente é antipático, chatinho e não fala para ativistas de ongs, é questão irrelevante.
O brasileiro precisa deixar de se preocupar com o que é periférico e ir direto ao ponto. Vigiar, vigiar e cobrar. É sempre possível dialogar para encontrar uma solução coerente que preserve as partes. A ocupação do solo, a produção e o meio ambiente podem coexistir, sem gritaria.
Se mexeram no mapa e isso já levanta mil elucubrações, não significa que um crime foi cometido. Bolsonaro não vai cometer a sandice de passar a serra elétrica e o trator em tudo. Não é o que o seu eleitor espera dele.
A bancada ruralista tem sim figuras sinistras mas é possível confrontá-las pelas vias democráticas, mesmo que acobertados por políticos e legisladores bizarros. Não somos um bando de pamonhas. Menos gritaria e mais trabalho.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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