10 de fevereiro de 2025
Ligia Cruz

Panem et circenses

Ninguém do lado de cá da plateia sabe ao certo qual é o real quadro de saúde do mandatário da República. Mas quando ele ressurge de mais uma epopeia hospitalar, de chapéu Panamá, todo chiquetoso, com um quê de iluminado, o discurso fica capenga e desaba. Ele sabe o que faz e tem tudo sob controle, apesar da idade.

Mas vale uma visita ao passado para entender seu projeto de poder e o que é capaz de fazer para perpetuar-se, apesar dos sinais de declínio físico.

Hoje, ninguém com dois neurônios acredita mais no teatro mambembe  montado com as cenas de sua internação,  para que  a cortina de fumaça caísse no palco enquanto um dos homens fortes do governo Bolsonaro fosse preso. Um general quatro estrelas que, pela lei só deveria responder à justiça militar,  jamais à civil. Um ato arbitrário de envergonhar qualquer democracia. Mas é só mais um que orbita o entorno do ex-presidente, inimigo figadal de Lula, pelo que ele representa. Um teatro de vingança sem precedentes no país.

Deem circo, pão e vinho ao povo que ele sacia com dopamina hercúlea o mais indiferente dos homens, ensinou o imperador Caio Graco na antiga Roma. Em especial aqueles que são presas fáceis de ideologias exógenas, vendidas como ideais de verdade absoluta para o mundo.

É isso que está acontecendo no Brasil.  Enquanto uns estão embriagados pela promessa de um paraíso comunista na terra, onde todos aspiram ideais comuns  e desejos em série,  como nas fábricas, outros pressentem o abismo diante da possibilidade de ter sua liberdade tolhida e confiscada por completo e de ter a miséria e a fome como horizonte. Tal como é na Venezuela, Cuba e Coreia do Norte.

E não se trata de um filme futurista, desses em que a Terra secou e jazem desertos de ferro-velho e a água é a moeda forte. A secura toda já perpassou os poros e a garganta sente a agonia da desidratação.

Talvez seja essa a sensação que a maioria de nós brasileiros, que não se rendeu à hoste de encantados do sonho imperialista de uns poucos que dizem ter feito a revolução leninista em solo americano, sente.

Era uma meia verdade até então porque ninguém acreditava que o comunismo emplacaria aqui, a não ser pela força, como está acontecendo.

A realidade que se desenha não foge do script de dominação defendido pelas ditaduras mais corrosivas do planeta. Mas está sendo ensaiada há muito tempo diante de nossos narizes.

De fato, essa “revolução” está em curso há mais de 40 anos. E ninguém fez nada para contrapor ou se deu conta de que não era um papo de coxia. Ela vem nutrindo desejos de poder de uma minoria obtusa que gritou palavras de ordem por megafone diante de fábricas, contra o capitalismo “selvagem” dos militares, nos anos 70.

Só que, as supostas vitórias sindicais desse tempo não eram exatamente atos heroicos. Nos bastidores, longe dos holofotes do povo e da imprensa, os profissionais das greves se sentavam para negociar as “reivindicações”, em salas bem confortáveis, com os patrões e saíam delas um pouco mais ricos do que quando entraram. Barganha e cala-boca sem pejo algum e felicidade plena de quem viu cifrões renderem. Lula era um deles.

Por trás do que era apresentado para a categoria de trabalhadores como triunfo, havia o quinhão no bolso do líder sindical e da própria agremiação profissional. Assim enriqueceram os sindicatos no Brasil e aqueles que estavam à  frente deles. Hoje, podemos afirmar que esses sindicatos tornaram-se verdadeiras indústrias de corrupção.

Quando a resposta voltava às assembleias enfurecidas pelos gritos de guerra, já vinha com um viés de heroísmo, como se “ a voz trabalhadora” tivesse envergado o “capital”, a ponto de tê-lo sucumbido pela eficácia do líder, ante a ameaça da greve. Esse foi o pavor da indústria daqueles anos. O PT teve seu embrião aí.

Esse movimento explodiu em pleno regime militar e arregimentou vozes “mais e menos éticas” em todos os contextos, se é que isso existe. É como dizer “ele se corrompeu só um pouquinho”. Y todo por la revolución! Valia tudo mesmo.

E quando se diz que “São Paulo é culpado pelo PT estar no poder e Lula existir”, a resposta é simples: o estado é o ninho da indústria do país, não seria diferente em outra geografia do mesmo contexto. E isso não é desculpa, é fato. História não se muda.

O  nordestino do poder mais sombrio e nefasto da história brasileira se fez onde os motores eram e são forjados pela classe trabalhadora da indústria automobilística e daí se proliferou.

O conceito de balcão de negócios instalado no governo petista fez escola nesse contexto. O partido cresceu à base da extorsão e dos conchavos, uma antiga prática do sindicalismo do ABC.

Quarenta e poucos anos depois, esse modelo foi adotado para gerir o país quando Lula venceu a primeira eleição. E  para governar, o PT sabia que necessitava  de uma base  forte no congresso e no senado. Precisava também  “fortalecer” os ditos companheiros de todas as vertentes sindicais com muito dinheiro. Surgiu então a palavra que Lula mais ama: narrativa. Falar incansavelmente que o PT é o melhor que o povo pode ter para representá-lo  foi a estratégia de convencimento popular durante esses anos.

Essa esquerda dominante foi forjada dentro de um  modelo sem compromisso moral. Tomaram as tribunas,  as candidaturas e implantaram a prática do toma lá, dá cá aprendida no sindicalismo.

Minaram as escolas de formação  básica com a verborreia de Paulo Freire,  converteram as universidades públicas em formadoras de adoradores de Gramsci e dos cativos das bolsas de estudos que jamais foram pagas. As estatais incharam para abrigar os fiéis militantes da linha de frente e o Estado capitulou ante a inoperância e o despreparo.

Todo esse projeto comunista de país cresceu ante o silêncio de conservadores e liberais, que subestimaram o poder coercitivo e corrupto que a esquerda brasileira desenvolveu. Ficou quarenta anos assistindo tudo da janela, com arrogância e soberba. Se intimidou ao se assumir como movimento lícito de direita e terceirizou a responsabilidade de garantir a democracia para os poucos congressistas conservadores que mostravam a cara.  Deixou-se enganar por fisiologistas do centrão e do tucanato – a esquerda caviar de FHC, que, em tese, fez a transição pacífica do regime militar para o ambiente democrático, mas na prática entregou a continuidade ao PT.

No plenário das casas públicas, a ala conservadora era apenas um contraponto mais educado para os gritalhões petistas do templo  e suas tantas  vertentes, criadas a partir de rachas internos da esquerda e depois cooptadas para bagunçar as eleições e, lógico,  participar do refestelo.

Com o tempo,  os conservadores e  os liberais perceberam que o jogo era desigual no congresso e começaram a correr atrás do tempo perdido com meras manifestações de repulsa. A força política de Lula é fruto desse grande equívoco. Da passividade e preguiça da direita.

Enquanto essa mornidão de morde e assopra mantinha uma correlação de forças razoável,  não havia motivos para confrontos mais tenazes. No resto do país vigorava o antigo “coronelato”, os latifundiários de estados como José Sarney, por exemplo.

O fato é que, no meio disso tudo, Lula nunca foi preocupado com a ética. Sempre mentiu e fez teatro quando se apresentava diante das câmeras. Quando dizem que ele se perdeu nos seus primeiros governos, quando pipocaram os esquemas de corrupção, comprovados pelo Mensalão, Petrolão e mais tarde pela Lava-jato,  na verdade ele só estava espelhando o que é e aprendeu no ABC. Tudo isso com a ganância de quem conhece  o tamanho do cofre.

Aparelhar o estado, corromper e enriquecer desmesuradamente sempre foi o projeto de poder  de Lula –  mais até do que implantar uma sucursal comunista na América Latina, a partir do Brasil.

O idealismo sempre foi mais coisa de José Dirceu e outros petistas que se orgulham até hoje dos feitos de Fidel,  Tchê, dos sandinistas, de Stalin, Mao e figuras como essas que defendiam com mão de ferro o poder do estado sobre a sociedade.

Na ocasião em que Lula foi preso na operação Lava-jato, ele viveu a angústia do herói traído e construiu um forte desejo de vingança daqueles que foram ingratos: os miseráveis e, em especial, a “massa de manobra” que se apaixonou por Jair Bolsonaro.

Quando ele gasta dinheiro público a rodo, expressa seu ódio contra aqueles que os petistas passaram a chamar de gado e que sabe que hoje é maioria.

A situação fica muito pior quando ele é  estimulado a radicalizar ainda mais pelos incompetentes e aduladores que o cercam e pela atual consorte deslumbrada com o poder e o que ele traz.

Se há problemas de saúde de fato, além dos comuns de um homem idoso, é provável que estejam relacionados com antigos e péssimos hábitos.  Ele fumou muito e, segundo consta, ainda bebe o líquido inebriante que os passarinhos não bebem. Sempre foi rechonchudo e seus hábitos alimentares também não devem ter sido equilibrados. Quem o conhece, sabe.

Mas e a nação no meio desse enredo, ou “narrativa”, palavra que ele se apropriou por achar bonita? O que muda se ele continuar indo e vindo do Sírio Libanês e  seja lá por qual motivo, verdadeiro ou falso,  de chapéu ou sem?

O país está  na berlinda e isso não vai mudar nos próximos anos. A vingança deu certo, o comunismo está aí, a censura já fez as primeiras vítimas na política e na imprensa e o verdadeiro golpe já foi dado pelo judiciário. Todo mundo já se deu conta.

O fato é que Lula não tem mais vontade de governar, está cumprindo tabela e empurrando com a barriga esta gestão  que, todos sabemos,  foi  um arranjo meramente  jurídico patrocinado por forças externas.

Sua sucessão  pode ser que nem se dê nos próximos dois anos. O acordão com o tucano fisiológico Geraldo Alckimin pode ter sido apenas um acerto necessário, que Lula  fará de tudo para não cumprir. Mas, em certa medida, serviu apenas para  disfarçar sua esquerdopatia extrema.  Mas é só.

O fato é que Lula aprendeu a sobreviver na política quando ouviu de seus pares tucanos e do eterno centrão que política se faz com alianças para perpetuar no poder. Levou isso tão a sério que começou a comprar os “opositores”.  Não dá para negar sua veia mercantilista, e como ele se crê um grande negociador, com capacidade de corromper sem fim. Um sujeito que desconhece a ética e o bom senso.  Lula é isso, sem mais, nem menos. Um psicopata.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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