20 de abril de 2024
Colunistas Ligia Cruz

O Rambo do Cerrado

O país passou 20 dias  assistindo um assassino psicopata dar um baile nas polícias de Goiás e Distrito Federal. Uma verdadeira caçada,  com soldados de selva, cães farejadores, helicópteros,  drones e toda a inteligência das policias envolvidas.

 Escapou de forma bizarra diante de todos inúmeras vezes. Sobravam perguntas para muitas respostas,  com a ruidosa  turba midiática cobrindo o “rambo do cerrado”, dia após dia, como se fosse um personagem de filme.  Durante esse tempo o comércio fechou, as pessoas abandonaram  suas casas por puro medo.

Ao final, um desfecho esperado e um cerco sem volta. Consta que ele não tinha a intenção de render-se e planejava fugir. Trazia consigo mais duas pistolas, munição, dinheiro e alimentos instantâneos.

 Quando foi finalmente cercado,  estava armado e partiu para o confronto com a força policial. Descarregou a arma, recebeu resposta ofensiva  e caiu.  Fotos que foram vazadas, possivelmente no hospital para onde foi levado,  revelam um corpo alvejado dezenas de vezes.  Alguns  disseram: “precisavam matá-lo ‘tantas’ vezes?”. “Se estivesse vivo poderia delatar os mandantes” ou “ele foi executado, isso é crime”. É mesmo? A polícia fez o que a sociedade esperava dela.

Quantas vezes mais ele precisaria ser preso, fugir, matar mais inocentes, tornar cidadãos reféns para ser tratado como o criminoso de alta periculosidade que era?

 Nesse país onde as leis são ignoradas e distorcidas todos os dias, não é assim que a banda toca. 

Em 2007 Lázaro matou duas pessoas na Bahia. Foi  preso e 10 dias depois fugiu. Em 2009 foi preso por roubo, estupro e porte ilegal de arma  e levado para o presídio da Papuda, em Brasília, considerado de segurança máxima.

Em 2014 saiu pela porta da frente da Papuda, mesmo com um laudo psicológico asseverando sua periculosidade, foi colocado em regime semiaberto pela justiça. Sem cumprir devidamente a generosa pena, em 2016 Lázaro fugiu da Papuda.

Em 2018, Lázaro foi preso em Águas Lindas de Goiás, por homicídio qualificado, porte ilegal de arma de fogo, roubo e estupro. Fugiu de novo.

Em 2020 o criminoso de invadiu uma chácara em Santo Antônio do Descoberto e bateu num idoso com um machado. Foi indiciado por roubo por restrição da liberdade das vítimas, emprego de arma branca e de fogo.

Ele vinha deixando um rastro de crimes e mortes por onde passava em cidades como Ceilândia, Cocalzinho, Águas Lindas de Goiás, Girassol e cercanias. Não iria parar.  Era um matador profissional. Mais benevolência para ele? E as famílias destroçadas?

Lázaro Barbosa era mateiro, matreiro e assassino frio. Coisa ruim, como diz o povo.  Na sua última saga mostrou-se eficiente numa geografia que conhecia bem. Terreno ondulado, mata baixa, riachos e cavernas. Vivia munido e bem disposto, mas, mais que isso, se deu bem por quase três semanas porque estava sendo apoiado, segundo consta,  por fazendeiros, como Eli Caetano Evangelista, que lhe deu guarida, cama, comida, dinheiro e munição. Este foi indiciado e preso. A polícia agora investiga os outros possíveis financiadores do assassino.

A verdade ainda não veio toda à tona, só parte dela. Tudo indica que seja um grupo com muitos interesses enraizados na região.

Porquê alguém defenderia um assassino de forma tão veemente se não fosse por muita história suja a esconder. Consta que Lázaro seria um tipo de “dedo mole”, aquele que mata a mando e por dinheiro.

Antes do desfecho fatídico, representantes dos direitos humanos tupiniquim já saíram da toca para amenizar a ficha de crimes perversos praticados por Lázaro,  inclusive tentando politizar o fato, como fizeram integrantes do Psol. Como ressalva, ele era vítima da sociedade e teria sofrido abusos na infância, o que justificaria seu comportamento homicida.

Só que não se pode justificar um crime com outros, inclusive de estupro e tortura.

O fato  é que ele já vinha barbarizando na região no entorno de Brasília, desde abril último.  Ele invadiu uma casa  rendeu uma família de quatro pessoas prendeu pai e filhos, os matou,  levou a esposa para um matagal, a estuprou e matou também.

Menos de um mês depois,   entrou numa casa, rendeu toda a família, deixou todos nus e manteve a família refém por cinco horas de terror.

Já  em 9 de junho último, entrou numa chácara, em Ceilândia, rendeu o caseiro e o matou. Em dias subsequentes invadiu fazendas, atirou em quatro pessoas e quando a polícia chegou ele incendiou a casa para fugir. Furtou um carro e quando viu a barreira policial, abandonou o veículo e correu para mata.

Em 14 de junho tentou invadir uma fazenda, o caseiro atirou nele. Passou a noite numa fazenda, onde foi visto pelas câmeras. Daí em diante os fatos já são conhecidos.

Não dá para aceitar que justiça brasileira continue inocentando assassinos. A reforma do código penal parece que não interessa aos legisladores e nem aos interesses do poder.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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