Suspeito que Carla Bruni não exista no mundo real.
Tal qual um platonismo, faz-se presente apenas na perfeição do mundo das ideias.
Ou talvez Carla Bruni seja uma viajante interdimensional, transpondo sucessivos portais e buracos de minhoca até chegar a essa pobre dimensão, habitat de Dilmas, Gleisis e que tais.
Suspeito que Carla Bruni tem uma missão a cumprir, da qual ela se desincumbe gostosamente, enquanto finge que dedilha o violão:
Carla Bruni veio nos ensinar sobre a Beleza, sutil e escancarada ao mesmo tempo, sobre Elegância, discreta como deve ser, sobre a Serenidade de ser algo tão sublime que poderia ser um medidor, um padrão, um fator: o Índice Carla Bruni.
Suspeito que Carla Bruni seja um gênio, um Deva, um angelus, a quem tudo é permitido e que tudo pode:
você quer violão? Ela toca, delicada como tudo que deve fazer.
Ela canta, e você quase pode ser levado a pensar que ela canta exclusivamente para você, enquanto aquele par de inacreditáveis olhos espia por debaixo da franja.
Ela toca bossa nova e Rolling Stones e canções antigas italianas e francesas e é tudo tão bonito que te faz pensar que o Paraíso deve ser assim.
Suspeito que Carla Bruni execute à perfeição baguetes no ponto certo e saiba a medida exata do caldo de feijão sobre o arroz.
Suspeito que sua voz tenha embalado romances desde o início dos tempos e que de sua dança em frente ao microfone mundos tenham surgido dos fios de seu cabelo e de gotas de sua saliva.
Suspeito que entre os dedos dos seus pés corram fontes de água pura que saciariam a sede de mil vias-lácteas.
Carla Bruni é uma Via Láctea.
Um padrão. Um índice que mede tremores primordiais entre homens e – por que não ? – mulheres.
A boa notícia é que Carla Bruni é uma deusa de mil faces e mil corações e em sua generosidade se estilhaçou e se recompôs em todas.
Em tantas.
Basta que alguém a reconheça.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.
