Com o esperançoso fim da pandemia, abrem-se as portas para o futuro.
As ruas voltam a receber os pedestres e o comércio dá boas-vindas aos sumidos clientes.
Enfrentando a “ansiedade global”, os museus e os teatros retomam o seu fiel público.
É o caso da volta da Ópera bufa, nascida em Nápoles no século XVIII, que revive a sua popularidade, satirizando os fatos reais, melhor do que a mídia na sua feroz imparcialidade.
Os personagens são burlescos, os figurinos simples, as encenações modestas e as orquestras pequenas, se comparadas ao esplendor da ópera tradicional.
Há sempre um vecchio (velho), “metido em trapaças”, que provoca gargalhadas na plateia.
Será que a moda pega no Brasil?
Na capital do país, Brasília, a Ópera bufa, recém-encenada, faz sucesso no palco e na mídia.
O 1º Ato reproduz o complô urdido numa suntuosa Corte, quando os supremos “guardiões” rasgaram a Constituição para favorecer os poderosos e interesses partidários e homologam decisões monocráticas, contrárias à Justiça igualitária e à Moralidade pública.
A cena da “narrativa conspiratória” dos autos revela como foi solto da prisão um ex-presidente, preso por 538 dias, tendo sido condenado em todas as instâncias por corrupção.
O 2º Ato começa com outra sessão solene da Corte que autoriza o ex-presidiário solto a se tornar um venturoso candidato presidencial.
A leitura da “Ficha Suja” do candidato e o perdão dos Togados provocam muitos risos.
Geralmente, como em todo último Ato da Ópera bufa, anuncia-se um casamento.
Na encenação brasiliens desta semana caprichou-se na apresentação dos nubentes e nas suas teatrais declarações de amor eterno na disputa ao Planalto, propiciando boas gargalhadas.
Na mídia da aguerrida disputa presidencial de 2022, foi anunciada uma troca de alianças. Antes disso, Lula Livre (PT) garantiu que:
“Não há nada que aconteceu entre nós que não possa ser reconciliado” e o escolhido vice da Chapa, Geraldo Alckmin (PSD), se empavonou todo no anúncio do Chefe:
“O momento exige grandeza política e união”.
De volta ao passado, a desavença entre os atuais aliados foi pública e notória.
Ao deixar o PSDB, partido do qual foi fundador e que durante 13 anos combateu o lulismo, o ex-tucano, ao ingressar no PSD, se esqueceu que chamava Lula de “Mentiroso”, que foi contra o Mensalão e o “populismo de esquerda do PT” e escreveu em sua conta no Twitter:
“Não existe a menor chance de aliança com o PT…vou recuperar os empregos que eles destruíram, saqueando o Brasil. Jamais terão meu apoio para voltar à cena do crime.”
“Eu tenho falado que o número é 13 (número do PT). Treze milhões de desempregados”.
Lula retrucou na época que a obsessão de Alckmin eram as privatizações:
“A única coisa que ele sabe fazer é vender coisas. O PSDB não devia ser candidato a nada. Devia ser candidato a (dirigir) uma empresa de vender empresas estatais”.
Os petistas de raiz não se esqueceram do trágico episódio dos 2 ônibus da caravana de Lula, atacados a tiros no Paraná, tendo Alckmin levantado os ombros com desdém: “Estão colhendo o que plantaram”.
No último Ato da Ópera bufa, quando os dois vecchios políticos ficam sorridentes e de mãos dadas com a plateia em silêncio, entra em cena a foto gigante do Presidente Bolsonaro, aplaudido de pé, com todos comemorando o esperançoso grand finale.
Que Deus proteja o Brasil dos vecchios trapaceiros em busca do poder e da ganância.
N.E.: Coluna revisitada pelo autor
Advogado da Petrobras, jornalista, Master of Compatível Law pela Georgetown University, Washington.