Nesses nossos tempos, em que os veículos que “se dirigem sozinhos” estão a poucos quarteirões e tem até gente que afirma que o automóvel é “o novo cigarro” – ou seja, um hábito social pernicioso que precisa ser combatido –, falar de um carro que tem como principal característica o prazer de dirigir pode até soar como provocação. Mas, depois de 10 dias de intensa convivência, foi exatamente essa a característica do Golf GTI 2019 (nas fotos do post e no vídeo da TV Rebimboca acima) que mais me cativou. Ufa, ainda bem que este aqui é um blog dedicado a quem gosta de carros.
É claro, no entanto, que esse modelo não se resume a isso. Para começo de conversa, é um Golf da sétima geração, considerada por quase todos os jornalistas especializados como a melhor em seus 44 anos de existência. Por falar nisso, antes de seguirmos adiante, vamos a um pouquinho de história:
Momento Memória
A ideia de criar versões esportivas para modelos simples e comportados, se não me engano, surgiu lá pelos anos 1960. Mas foi nos 1970 que ela engrenou mesmo e o Golf GTI, lançado em 1975, foi um primeiros e maiores responsáveis pelo sucesso desse tipo de carro. Para começar, era relativamente barato – não custa lembrar que, em 1974, o Golf “comum” nascera na Alemanha com a missão de substituir o até então carro-chefe da marca VW, o supercampeão popular de vendas Fusca. Além disso, por ser um hatch pequeno, leve e “justinho”, ele já esbanjava uma das características que o tornariam famoso por décadas a fora: o prazer de dirigir. Na prática, o GTi inaugurou uma nova subcategoria, a dos hot-hatches ou pocket rockets, foguetinhos de bolso.
Golf gti 1975Golf gti 1975 | divulgação
Em relação ao modelo comum, o GTI de 1975 vinha com suspensão mais dura e um pouco mais baixa, freios de maior capacidade e uma versão “trabalhada” de um motor 1.6 refrigerado a água com injeção eletrônica de combustível – diferentemente do propulsor 1.5 com carburador do Golf normal, daí o I de seu nome. Esse motor gerava 110cv, empurrando o carrinho de zero a 100 km/h em nove segundos e fazendo com que chegasse a até 180 km/h nas famosas Autobahns. Além disso, o carro trazia alguns acabamentos mais aerodinâmicos na carroceria e, também, os hoje clássicos bancos esportivos em tecido xadrez.
Evolução do VW Golf
Ao longo do tempo, claro, o Golf GTI veio evoluindo paralelamente ao modelo “comum”, geração a geração. Até que, quatro décadas depois, chegamos ao carro azul aí. Azul que, infelizmente, você NÃO vai encontrar nas concessionárias nem no site da montadora. Sabe-se lá porque, esta é uma daquelas “cores de lançamento”, com pouquíssimas unidades produzidas e que não praticamente não chega às lojas.
Tecnologia a serviço da segurança (e da diversão)
No que é fundamental, esta sétima geração ainda segue a mesma receita básica lá do primeiro GTI dos anos 1970: tem como base o Golf “comum”, no qual é embarcado um motor mais forte, alguns (nem tantos) detalhes de acabamento e bancos diferenciados, suspensão e freios redimensionados e um pacote para performance esportiva, recheado com generosas pitadas de pimenta tecnológica. Se lá nos anos 1970 o grande avanço estava em substituir o carburador pela injeção eletrônica, agora seriam necessários mais uns cinco parágrafos só para poder enumerar os recursos eletrônicos e suas siglas – e, não, não vou fazer essa maldade com você que tão pacientemente lê este texto. Resumo dizendo que essas coisas todas fazem com que o Golf GTI 2019 seja um carro tão seguro quanto rápido e, principalmente, muito divertido.
A estabilidade, por exemplo, é uma das coisas que toda aquela sopa de letrinhas ajuda a deixar melhor. O carro adora curvas. E melhora a frenagem também – além de parar com segurança quando você aciona o pedal, o Golf GTI tem como opcional um sistema que aciona automaticamente os breques em caso de colisão iminente e, também, faz com que o carro pare sozinho após uma colisão.
Há airbags pra todo lado (são sete) e todas aquelas comodidades que se espera de um carro moderno bem equipado: sensores de chuva e crepuscular, câmera de ré, assistente para estacionamento, controle automático da distância para o carro da frente (ACC) e ajustes e recursos mil estão ali também. Não, não vou listar tudo aqui, não se preocupe. A relação completa está no site da montadora.
Pra mim, o que faz do Golf GTI um carro especial é mesmo o tal prazer de dirigir. Tudo bem, ele tem um motor com animados 230 cavalos e mais de 35 quilos (kgfm) de torque, vai de zero a 100 km/h em sete segundos e é capaz de chegar a 238 km/h, segundo a Volks. Esses números nem fazem muita diferença para quem vai dirigir 90% do tempo no desanimador trânsito de uma grande cidade brasileira. Mas no final das contas, a posição de dirigir, o som do motor e a relação de total confiança que logo se estabelece entre o motorista e o carro fazem com que estar a bordo desse Golf seja bem melhor do que segurar o volante de uma máquina anódina, por mais perfeita e confortável que ela possa ser. E, felizmente, há sempre a possibilidade de se dar uma boa acelerada, seja na abertura de um sinal – ou semáforo, dependendo de onde você esteja – ou, melhor ainda, de se pegar uma via expressa ou estrada livre de vez em quando.
Você escolhe
O legal é que, com a tecnologia, se adaptar às diferentes circunstâncias, caminhos e possibilidades não é mais responsabilidade apenas do nosso pé direito. Como nos outros VW da parte mais cara da tabela – e em muitos outros modelos atuais mais sofisticados de outras marcas –, o Golf oferece ao freguês diferentes “modos de condução” programáveis eletronicamente: Eco, de economia (e, também, ecologia, pois gastar menos combustível é mais sustentável); Normal, Sport e Individual – no qual você pode personalizar alguns ajustes. Em cada um deles, o comportamento e as respostas do carro são diferentes, priorizando a intenção selecionada.
No Sport, que é a mais divertida, a suspensão fica mais rígida, a aceleração é mais radical, a direção fica mais direta, as marchas são esticadas e têm trocas mais rápidas e o ruído do motor invade a cabine – mais por um efeito acústico dos alto-falantes do que pelo efeito do escapamento, diga-se, mas nem por isso menos estimulante. Mas mesmo nas seleções “mais mansas”, o carro responde bem a pisadas mais fundas no acelerador.
Espaço e consumo
Quanto ao espaço interno, bem, se levarmos em conta que o Golf é um hatch médio, ele não é dos melhores. Se o motorista for comprido e gostar de dirigir com o banco (que é largo e recheado) mais para trás – meu caso –, o ocupante do assento traseiro ficará meio espremido. O porta-malas leva 338 litros, ou seja, é bom para a bagagem de duas pessoas. Na prática, quatro adultos de estatura média podem andar, sim, com certo conforto, mas se esse quesito é a sua prioridade, eu acho que há outros modelos mais apropriados no mercado. O GTI até pode quebrar o seu galho como carro-família, mas definitivamente essa não é a vocação dele.
Por outro lado, a despeito do comportamento feroz no asfalto, o carro é até bastante manso no consumo. Na minha medição, rodando apenas na cidade e sem a menor preocupação em economizar gasolina (não, ele não é flex), marquei uma média de quase 10 km/litro (veja os dados da montadora no final deste post).
Pra terminar, vamos direto ao ponto: afinal vale a pena comprar um Golf GTI? Bom, pra começo de conversa, completo como o que usamos neste vídeo, ele sai por cerca de 165.500 reais. Só para comparar, um Passat que usa o mesmo motor, com apenas dez cavalos a menos, e o mesmo câmbio custa menos de mil reais a mais e oferece um conforto infinitamente maior (confira o nosso test-drive com o Passat aqui). E há muitos outros automóveis, como SUVs e sedãs de bom desempenho no mercado por preços parecidos. Mas no quesito prazer de dirigir… Ok, é a última vez que falo nisso neste post. Não que não existam à venda no Brasil carros com ótimo desempenho e “pegada” esportiva até mais forte que a dele. Mas todos eles custam muito mais. Para quem deseja ter um verdadeiro esportivo que, ao mesmo tempo, é até prático para usar no dia a dia, nessa faixa de preço, o Golf GTI está sozinho. Sem teto solar e parte dos recursos opcionais que mencionei aí em cima, ele sai por pouco menos de 144 mil reais, e já é carro a beça. Uma verdadeira máquina de fazer sorrir.
VW Golf GTI 2019
Ficha técnica (dados do fabricante)
Motor: transversal, 2.0, quatro cilindros, turbo, gasolina
Potência – 230 cv a 4.700 rpm
Torque – 35,1 kgfm a 1.500 rpm
Transmissão: automatizada DSG, seis marchas, dupla embreagem, tração dianteira
Suspensão: independente, McPherson (diant.) / multibraço (tras.)
Freios: Discos ventilados (diante.) / discos sólidos (tras,)
Pneus: 225/45 R17
Dimensões (metros):
comp. 4,27; larg. 1,79; alt. 1,46 ; entre-eixos 2,63 ; peso 1.317 kg
Capacidades:
Tanque de combustível: 50 litros
Porta-malas: 338 litros
Performance:
Aceleração de 0 a 100 km/h – 7 seg.
Velocidade máxima: 238 km/h
Consumo (gasolina) – 10,2 km/l (urbano) / 12,1 km/l (estrada)
Preço: a partir de R$ 143.790 (modelo igual ao avaliado: R$ 165.540)
Fonte: Blog Rebimboca
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