29 de março de 2024
Veículos

Reciclar carros não é pecado


Não sei quanto a você, mas eu, sempre que vejo um carro ser destruído, mesmo não sendo um dos meus modelos prediletos, fico no mínimo amuado. Imagino o tanto que aquele carango rodou por aí, penso nas pessoas que o usaram, que foram ligadas a ele e, claro, que eu mesmo poderia tê-lo resgatado e evitado esse triste fim… Assistir a um automóvel ser destrinchado, amassado e descartado às vezes me embrulha o estômago. Por outro lado, encontrar aquele mesmo carro enferrujado, depenado e abandonado por aí, talvez me deixe ainda mais triste.
Falo nisso por conta de uma notícia que li há alguns dias e que informava que o índice de reciclagem de resíduos de papel, plástico e alumínio chegou a 29% no país, segundo um relatório divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente. Nada mal. Só que o mesmo texto também informava que não há estatísticas semelhantes para outros materiais descartados, como o vidro e o aço. Não que esses não possam ser reaproveitados, muito pelo contrário, só que simplesmente não há, ainda uma política específica para isso.
Os tais 29% aí em cima só foram atingidos porque, em 2015, o governo e um conjunto de grandes empresas que comercializa, importam e/ou utilizam esses materiais em sua produção e embalagens assinaram um acordo, no qual essas empresas se comprometeram a assumir parte da responsabilidade por sua reciclagem. Não só estimulando outras empresas e organizações a tratarem desses materiais, como muitas vezes garantindo a recompra do material reprocessado.

Arte HK sobre foto Internet

Carros velhos virando carros novos
Fiquei pensando que seria ótimo se a indústria automobilística fizesse o mesmo aqui no Brasil. É claro que as montadoras não têm condições de elas mesmas comprarem, desmancharem e reaproveitarem seus carros ao final da vida útil deles. Mas, assim como montam uma cadeia de fornecedores de autopeças e de matéria-prima para poderem produzir seus modelos, elas poderiam demandar a formação de uma cadeia de reciclagem, garantindo comprar deles um percentual dos materiais que será utilizado na fabricação de seus novos modelos. É perfeitamente possível obter matérias-primas recicladas com tanta qualidade quanto (e até melhores) as “novas” e com isso ainda diminuir o estrago que fazemos no meio ambiente.
O fim do antigomobilismo?
A esta altura, você pode estar chateado comigo, pensando: esse chatonildo fica dando ideia e, daqui apouco, não vamos ter mais nenhum carro antigo nas ruas. Babau memória automotiva, história, antigomobilismo… Calma. A imensa maioria dos modelos fabricados nos últimos 50 anos saiu em séries de centenas de milhares de unidades. Com isso, exemplares em bom estado seriam (como são) bastante valorizados e, assim, dificilmente seriam encaminhados à destruição, pois tenderiam a se tornar ótimos investimentos.
Pense bem, mesmo que não houvesse reciclagem, depois de umas três décadas, apenas algumas centenas desses modelos estariam rodando por aí em condições razoáveis. E com a entrada em cena de empresas regulamentadas e permanentemente fiscalizadas (inclusive pelas próprias montadoras, suas clientes), aqueles desmanches e ferros-velhos clandestinos, que receptam veículos e peças roubados, tenderiam a sumir.
Reciclar – inclusive as ideias e conceitos – é, antes de tudo, sinal de inteligência.

Fonte: Blog Rebimboca

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

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