O debate de Trump e Biden foi decepcionante. É problemático ouvir tanta bobagem, inclusive com tradução simultânea que torna o quadro meio confuso.
Biden mencionou a Amazônia e o processo de destruição do bioma. Dispôs-se a investir US$20 bilhões para protegê-la.
Bolsonaro já protestou e disse que a fala de Biden é lamentável. Ele aposta todas as fichas na vitória de Trump, algo que não é aconselhável diplomaticamente.
Outro desdobramento importante para a Amazônia foi o discurso de Macron na ONU, na conferência sobre biodiversidade. Ele admitiu que o acordo comercial Europa-Mercosul pode ser engavetado, se representar mais perigo para o meio ambiente.
Os discursos se sucedem dando a entender que as possibilidades brasileiras seriam melhores com uma política destinada a proteger realmente a Amazônia.
Bolsonaro não pensa assim. Nem os militares. Veem nisso uma grande ameaça à nossa soberania.
Li hoje no livro Paraíso Restaurável sobre o qual escreverei em breve, que as verbas para crédito de carbono no mundo já são maiores que o volume das exportações brasileiras.
O que significa isto? Há dinheiro de sobra para sustentar a floresta em pé, remunerando o sequestro do carbono, o serviço ecológico prestado por mantê-lo no subsolo.
O livro Paraíso Restaurável é de Jorge Caldeira, Julia Marisa Sekula e Luana Shabib. Caldeira é autor de um livro sobre Mauá, o empresário do Império e outro sobre a história da riqueza no Brasil.
O livro mostra como mudou a concepção econômica no mundo em relação à natureza. Está ficando para trás a ideia de que o progresso significa necessariamente destruição ambiental e a natureza não é vista mais como uma externalidade mas como um centro produtivo.
Os reflexos dessas mudanças são sentidos nas posições dos fundos de pensão, dos bancos, das empresas nacionais e estrangeiras.
O Brasil poderia aproveitar esta onda e se assumir como potência ambiental e traçar seu caminho sustentável em cooperação com o planeta.
Infelizmente, o governo não vê as coisas assim, e sinceramente, não me sinto em condições de convencê-lo.
Os militares vêem a Amazônia desde os anos 70 como um inferno verde a ser conquistado. A propaganda da construção da transamazônica era um hino ao triunfo do homem contra a natureza.
Foi no século passado, mas me lembro bem. Porisso acho difícil mudar essa mentalidade pois ela é sólida e antiga.
Mas a gente continua falando. O movimento dos grandes grupos econômicos acabará por fazê-los pensar um pouco em suas escolhas.
Falam de uma onda de calor. Goiânia teve 40 graus, São Paulo deve viver o dia mais quente do ano. Um problema nesse momento, pois assim como no Pantanal, áreas de protecão estão queimando em Minas. Ontem foi o Parque de Ibitipoca, hoje há chamas na Serra do Cipó, próxima a Belo Horizonte.
Espero que pelo menos o calor traga muita chuva.
Fonte: Blog do Gabeira