7 de dezembro de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

Diário da crise CDXXXIX

Hoje tenho de ser breve de novo. Essa história da Covaxin tem tomado um pouco a atenção, mas tenho uma certa reserva a respeito do tema.
Em primeiro lugar, acho que o negacionismo que contribuiu para muitas mortes é um problema mais sério. Admito entretanto que a corrupção é mais facilmente reconhecível.Observo também que a correlação de forças no Brasil favorece os políticos que se corrompem. Depois da derrocada da Lava Jato, estamos assistindo a uma recomposição que já alterou a Lei de Improbidade Administrativa, atenuando-a, e agora atinge a Lei da Ficha Limpa abrindo caminho para a eleição de administradores que tiveram suas contas rejeitadas.

Mas é inegável que a história da Covaxin é estranha, desde o preço, passando pelos personagens e terminando na reação do governo.
A entrevista de Onyx Lorenzoni, que não permitiu perguntas, é típica: acusou as testemunhas sem demonstrar que estavam equivocadas.
Dizer que uma nota fiscal da empresa era falsa é uma temeridade. Ninguém falsifica uma nota fiscal de US$45 milhões e vai cobrar do governo, exceto se imagina um governo de patetas.
A empresa confirmou a nota e depois a retificou. Mandar por um engano uma nota de US$45 milhões não é comum. Uma empresa desse tipo está arriscada a nos mandar vacina contra a febre amarela no lugar de vacina contra covid e endereçá-la ao Equador pensando que mandou para o Brasil.

Tudo muito estranho. Vamos ver o que dizem os irmãos que devem depor amanhã. Volto ao tema mas reafirmo que a corrupção ronda o governo Bolsonaro desde o Queirós e as rachadinhas, através da demissão do Moro e a tentativa de controle da PF no Rio, dos inquéritos contra Ricardo Sales e agora com essa estranha história da Covaxin.

Onyx diz que o governo representa o bem contra o mal. Quem diz isso já levanta uma enorme suspeita sobre a própria honestidade.

Fonte: Blog do Gabeira

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

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