3 de dezembro de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

Diário da crise CDXLIV

Não sei o que dizer quando vejo o Ministro de Energia, Almirante Bento Albuquerque pedindo para economizar água e energia.Isto acontece no princípio da maior crise hídrica dos últimos 90 anos.  Impressionante como só agora o governo pensa numa política de racionalização desses fatores tão importantes na nossa vida.

Nunca se fez, neste governo, uma campanha regular para racionalizar o uso da água. Nunca se induziu a um debate sobre como economizar energia, sem perder eficiência.

Pelo contrário, o governo trabalhou como se a água existisse em abundância em todo o país. Estimulou o desmatamento, inspirou queimadas e com isso contribui para enfraquecer os rios voadores que saem da Amazônia.

O único resultado concreto no momento é um aumento no preço da energia. Bolsonaro não tem a mínima ideia de como esse problema pesa inclusive na sua popularidade.

Participei da grande crise de 2001 e inclusive frequentei o Planalto, como deputado, para trocar ideias com Pedro Parente, o homem que administrava a crise.

Creio que ela teve um impacto muito grande na derrota do governo nas eleições que se seguiram. E acho que terão impacto também na performance eleitoral de Bolsonaro.

Essa crise era previsível. Na verdade, se levarmos em conta as circunstâncias, qualquer governo que assuma tem obrigação de apresentar um projeto de uso racional da água e da energia, independente do regime de chuvas.

Não se trata de algo conjuntural, pelo contrário é uma preocupação permanente de quem tem a mínima ideia da crise ambiental mais ampla.

Outro ponto importante é descentralizar a produção de energia elétrica. A solar está aí para isso. Lembro-me do primeiro projeto do Presidente Bush financiando a instalação de energia solar nas casas, através também de incentivos fiscais.

É um caminho que cedo ou tarde teremos de trilhar. Não há espaço para grades hidrelétricas, muito menos para novas usinas nucleares.

Bolsonaro está preocupado com a CPI e ele tem razão. Por que se preocupar com crise hídrica se a oposição está no seu pé com uma notícia crime?

Ninguém estabelece conexões, mas o desprezo pelo meio ambiente leva ao desprezo pela vida humana , consequentemente a uma política negacionista associada à corrupção.

Onde é que a corda vai romper no governo Bolsonaro? Na política sanitária negacionista e na proposta de destruição ambiental.

Ele começará a ser devorado pelas grandes forças que desprezou: a natureza e o valor da vida humana.

É hora de começar a pensar no futuro. Na superação das condições que nos levaram a esse buraco. Creio que terei de voltar a estudar o que aconteceu em 2013 para tentar entender melhor aquela mensagem da multidão.

Já escrevi sobre o assunto, mas creio que ele é essencial para os nostálgicos que sonham com uma volta ao passado. O passado não era nada idílico e as pessoas manifestaram sua raiva nas ruas.

Fonte: Blog do Gabeira

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

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