O discurso de Bolsonaro no G20 não é essencialmente distinto do discurso de Mourão. Segundo eles, não existe racismo no Brasil e quem o denuncia está apenas tentando dividir a população para tomar o poder.
A imprensa registra a frase de uma diplomata perplexa com que ouviu, pois um discurso desse tipo é raro numa reunião internacional no Século XXI.
Bolsonaro é também uma raridade no poder. Ascendeu no bojo de uma situação muito especial, marcada pela decadência da política no período democrático e por uma passagem da esquerda pelo governo, marcada por escândalos de corrupção.
As eleições municipais já foram um indício de que Bolsonaro não veio para ficar. Isto é não veio para ficar como uma figura majoritária, capaz de falar pelos destinos do país.
Sem dúvida, existe uma base para suas ideias, embora a extrema direita tenha gente mais preparada do que ele. Mas é uma força política que tende a ser minoritária, como na França por exemplo, onde é sempre derrotada quando, na melhor das hipóteses, chega ao segundo turno.
Não dúvida de que muitas condições que permitiram a ascensão de Bolsonaro ainda existem. Há desencanto com a política, teorias de conspiração e mentiras nas redes, muita gente que não encontra seu lugar num processo democrático.
Mas se Bolsonaro continuar encolhendo, no ritmo de seus próprios erros a chance de ser derrotado em 22 é enorme. Trump é mais resiliente do que ele, escorava-se num grande partido americano.
Bolsonaro é mais isolado. E se romper o isolamento será no sentido de se integrar às forças mais convencionais e retrógradas da política brasileira.
Num artigo que escrevi essa semana, coloco a questão: ele vai derreter tão rápido quanto um Russomano ou vai resistir como um Crivella, que chega ao segundo turno com índice de rejeição que garante derrota certa?
Acho que vale a pena examinar o que se passa nos Estados Unidos. Trump não reconhece a derrota e toma todas as medidas possíveis para dificultar a trajetória de Biden. Lá ele está passando uma boiada sobre vários dispositivos, inclusive ambientais.
O grande problema é evitar aqui o processo de destruição até 2022 e também tomar muito cuidado com os últimos passos de Bolsonaro.
Foi uma espécie de acidente histórico que equivale a um atropelamento. O Brasil sairá disso cheio de fraturas e escoriações.
Fonte: Blog do Gabeira