Impossível escapar do tema vacina. Creio que o foco deveria ser esse, no fim de ano. O ângulo pode ser político, que convenhamos revela muita pequenez dos atores, mas pode ser também científico.
No Estado de São Paulo de hoje, o o colunista científico Fernando Reinach escreve um importante artigo afirmando que vacina da Pfizer é de importância incontestável.
Ele analisou os estudos e avaliações da fase 3, que aliás também também foi desenvolvida em dois pontos do Brasil, São Paulo e Bahia, creio.
A decisão da Rainha da Inglaterra de se vacinar com o produto da Pfizer mostra como os britânicos acreditam nessa solução que foram os primeiros no mundo a aprovar.
Hoje, pelo Canadá e Estados Unidos já estão prontos para iniciar a vacinação, depois de aprovada a análise dos testes pelas agências respectivas.
Do ponto de vista de tempo e eficácia conhecida, a vacina da Pfizer é a maior aposta.
Uma segunda aposta foi feita pelo estado de São Paulo na Coronavac cujos estudos devem ser entregues ainda no meio de dezembro, possivelmente de um pedido de uso emergencial.
São Paulo já comprou uma grande quantidade da vacina e o tradicional Instituto Butantã trabalha num regime de 24 horas para produzi-la.
Uma terceira possibilidade que está em vias de ser aprovada nos EUA é a vacina da Moderna, que também será acompanhada de um pedido de uso emergencial.
Num horizonte um pouco mais distante está a vacina da Oxford Astrazeneca, grande aposta do Brasil que a produziria na Fundação Oswaldo Cruz.
No entanto ela está um pouco atrasada porque sua fase 3 foi um pouco confusa. E agora ela anuncia que fará ua tentativa de fusão com a vacina russa Sputinik. Pode ser uma tentativa válida que amplie a eficácia da vacina de Oxford. No entanto, também isto leva tempo de testes e tempo de análise com o objetivo de aprovação.
Pozuello percebeu agora que a vacina da Pfizer largou na frente. E anunciou que vai comprá-la apesar dos problemas logísticos, pois ela precisa ser mantida a 70 graus negativos.
Segundo pesquisei isso não seria um grande problema nas grandes cidades onde há estruturas frigoríficas que mantêm a temperatura até mais fria que os 70 graus.
Além disso, a Pfizer encontrou uma embalagem de gelo seco que aumenta um certo tempo a validade da vacina, mesmo fora de uma temperatura tão baixa.
O primeiro impulse é esse: vamos comprar a vacina da Pfizer e, pelo menos vacinar as grandes cidades. E se possível enviar a Coronavac para alguns lugares que não têm a estrutura frigorífica adequada. Isto é claro se a Coronavac se mostrar eficaz e for aprovada.
Os problemas são evidentes. Pazuello acha que compra vacinas da Pfizer com mesma facilidade que compramos enfeites de Natal.
Imagino que nesse momento a empresa esteja negociando com vários países, sem contar o fato de que Trump quer proibir eventuais exportações. Mas essa medida deve ser ultrapassada no governo Biden, logo não é preciso contar com ela.
De um ponto de vista puramente técnico acho que será difícil comprar a curto prazo uma grande quantidade da vacina da Pfizer.
Se considerarmos os obstáculos políticos que o Bolsonaro impõe à Coronavac é possível que sua distribuição dependa de uma disputa judicial, que sempre leva algum tempo, apesar da urgência do tema.
Alguns governadores como o do Maranhão e da Bahia já perceberam o problema e aspiram até comprar diretamente no exterior, o que também será difícil. Outros, como o de Mato Grosso, pensam em comprar de São Paulo.
O Brasil tem um respeitável sistema de imunização mesmo contando com o tamanho do país e as dificuldades de se alcançarem alguns pontos remotos.
O problema é que o sistema nacional está mas o governo em primeiro lugar não comprou as vacinas a tempo para acioná-lo.
Além do mais, segundo a indústria brasileira, a producão da vacinas e seringas não será suficiente pois não encomendada a tempo. Buscar lá fora vai encontrar um mercado superaquecido. Serão necessárias quase 18 bilhões de seringas e agulhas para uma vacinação universal.
Temos de comprar o que for possível de várias produtoras de vacinas. Mas, por outro lado, isto colocará novos problemas logísticos. Será preciso imunizar as pessoas com vacina dos mesmos fabricantes. Se você tomar a primeira dose da Pfizer e a segunda já vem da Coronavac, pode dar tilt.
Os políticos vão brigar e se denunciar. Mas o Congresso e Supremo cedo ou tarde vão ter de determinar os responsáveis pelo atraso e consequente perdas de vida que ele representa. Se pura e simplesmente o pais considerar tudo isso normal, ele já sendo tragado por um vírus tão ou mais perigoso que o próprio Coronavirus.
Fonte: Blog do Gabeira