Infelizmente, conforme previ, a crise de oxigênio em Manaus poderia se estender para outras cidades. Na Amazônia isto é um fato. Duas cidades do Pará e uma do Amazonas registram falta de oxigênio.
Diz o prefeito de Coari (AM) que morreram sete pessoas por falta dos cilindros que o governador Wilson Lima não enviou a tempo.
No Pará, segundo o Estadão, as cidades atingidas são Faro e Nova Maracanã. Na primeira, morreram seis pessoas por falta de oxigênio; na segunda, 34 pacientes em estado grave podem morrer também.
O tom da imprensa ainda é festejar a chegada da vacina. Mas as análises mais frias mostram que será difícil manter a continuidade no processo de de vacinação.
Dependemos da China e da Índia. Nossas informações sobre ambos os países são precárias; nossa habilidade diplomática uma lástima.
China e India juntos tem quase três bilhões de habitantes. Vão vacinar sua população e exportar prioritariamente de acordo com seus projetos geopolíticos. Ambas disputam espaço na Ásia. Certamente vão exportar primeiro para seus vizinhos.
Desde o princípio, defendi amplas negociações, inclusive com as vacinas de Pfizer e da Moderna.
A Pfizer ofereceu uma partida de 30 milhões de doses em dezembro. Bolsonaro colocou muitos obstáculos e acabou melando a negociação.
O inteligente era abrir o leque de alternativas. São Paulo negociou a Coronavac pensando em sua população. A ideia de expandir para todo o Brasil necessariamente terá de implicar numa expansão do contrato.
Precisamos de 300 milhões de doses. Até agora temos seis milhões já entregues pelo Butantan e mais quatro milhões por entregar.
O resto dependerá de remessas de insumos que vêm da China ou vacinas prontas que vêm da Índia.
Compreendo a festa e a esperança que vieram com a notícia da aprovação da vacina.
Nao quero ser estraga prazeres. Mas sinto que é importante registrar que essas vacinas foram usadas para foto oportunidades no Brasil, bem a gosto dos políticos.
Mas estamos longe ainda de um processo de vacinação com os requisitos de êxito: planejamento, disciplina, continuidade.
Na televisão, fala-se muito de esperança, novos tempos mas o que estou vendo ainda é o impacto da segunda onda e a propagação de uma variante perigosa do Coronavirus. São Paulo teve a pior semana desde o inicio da pandemia.
As vacinas que chegaram em números tão baixos são uma esperança, a única que temos.
Mas, modestamente, acho que a comemoração deveria ser mais discreta.
As duas mulheres que receberam a vacina no Cristo para festejar a chegada do lote inicial ao Rio estão parcialmente imunizadas. Mas a multidão, repórteres e fotógrafos que se comprimiam para documentar o fato, estava sob perigo.
Aliás foi esse apego às festas, que são muito interessantes mesmo, foi o que nos jogou na segunda onda. Em muitos lugares do Brasil, inclusive Manaus, os pacientes jovens já são em grande número, quase a metade.
Fonte: Blog do Gabeira