Dez de março passado, uma segunda-feira. Manhã, bem cedo. Na casa do empresário Rafael Alves, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, toca seu celular. Ao ouvir “alô”, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), autor da chamada, foi logo perguntando:
– Bom dia, Rafael. Está tendo uma busca e apreensão na Riotur [empresa de turismo do município]? Você está sabendo?
Não foi Rafael que atendeu a ligação, mas o delegado Clemente Nunes Machado Braune, um dos responsáveis pela primeira fase da Operação Hades que investiga um esquema de pagamento de propinas a funcionários da prefeitura.
Naquele instante, a casa de Rafael estava sendo vasculhada por policiais em busca de documentos e de objetos. O delegado disse ao prefeito quem era e por que estava ali. Sem falar mais uma só palavra, Crivella desligou rapidamente.
Segundo o delegado, a forma de tratamento, o horário da chamada e o assunto em questão deixaram clara a relação de confiança entre o prefeito e o empresário, que teve o celular apreendido. Seu conteúdo deflagrou, ontem, a segunda fase da operação.
Desta vez, foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão, três deles em endereços de Crivella: seu apartamento na Barra da Tijuca, seu gabinete na sede da prefeitura, e o Palácio da Cidade, usado por ele para reuniões e eventos.
O prefeito estava em casa quando os policiais chegaram. Seu celular foi confiscado, embora, por orientação de advogados, ele tenha se recusado a fornecer a senha. Depois da batida, Crivella foi ao encontro do presidente Jair Bolsonaro num quartel da Marinha.
——-
Que mico pagaram, ontem, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República e comandante em chefe do Conselho da Amazônia, e o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente! Os dois não se bicam, mas tiveram a mesma ideia: compartilhar nas redes sociais um vídeo que haviam recebido.
Narrado em inglês e produzido pela Associação de Criadores do Pará, que reúne pecuaristas do Estado, o vídeo afirma que não há cheiro de fumaça e que a Amazônia não está queimando novamente. Entre as imagens, aparece um mico-leão-dourado como exemplo de biodiversidade preservada.
O mico-leão-dourado é uma espécie só encontrada na Mata Atlântica, no interior do Rio de Janeiro. Foi ele que pôs o vídeo a perder. Um repórter [há sempre um no caminho das autoridades] perguntou a Mourão:
– Presidente, o senhor falou que o vídeo não é produção do governo, né? Houve um pessoal falando que tem um mico-leão-dourado lá, que não é da Amazônia. Vocês chegaram a…
– Aquilo é uma integração Amazônia-Mata Atlântica, o pessoal do Pará conseguiu fazer isso, está bom? – respondeu o vice sem disfarçar a irritação, mas também sem ameaçar encher de porrada a boca do repórter.
Maurício Fraga Filho, presidente da Associação, jogou a culpa pelo mico na produtora que fez o vídeo:
– Eles usaram uma imagem de arquivo da produtora que fez o vídeo, mas entendemos que o mais importante é a mensagem que ele passa.
A mensagem: está tudo ok com a Amazônia.
As queimadas, em sua maioria, de “pequenas proporções”, são culturais e provocadas por populações locais. O mais que se diga é invenção dos que ambicionam se apossar da Amazônia, que é nossa e sempre será.
O ator e ativista americano Leonardo DiCaprio postou o vídeo na internet. Com as hashtags: “Desfinancie Bolsonaro”, “Amazônia ou Bolsonaro” e “de que lado você está?”.
N.E.: o vídeo não conta do post do Noblat no Blog, foi acrescentado para complementar o post…
Fonte: Blog do Noblar – Facebook