19 de abril de 2024
Colunistas Marco Angeli

A imagem de um herói em sua lápide


O retrato de Óscar que desenhei no dia 15 de janeiro de 2018. No dia 15 de janeiro de 2018 eu acompanhava, junto com Emma Sarpentier e o resto do mundo o cerco à Óscar Pérez, em Junquito.
(Por Emma Sarpentier e Marco Angeli)
Uma força descomunal de militares e criminosos a serviço do tirano Maduro cercava a casa onde Óscar havia se refugiado e se mantido – escondido – longe das garras do assassino Nicolás Maduro.
Muito antes desse fatídico 15 de janeiro, eu já acompanhava as ações de Óscar através de nossa amiga em comum, Emma.
Já em 2017, eu aprendia a admirar a coragem desse rapaz idealista, investigador da CICPC, agência de investigação da Venezuela, que havia se rebelado contra a tirania de Maduro.
E agia.
Na tarde do dia 27 de junho de 2017, Óscar fez o famoso voo de helicóptero sobre o Supremo Tribunal de Justiça, enfrentando as forças de Maduro.
O helicóptero carregava uma grande faixa onde se lia ‘350 Libertad’, referência direta ao artigo 350 da Constituição venezuelana que afirma que o povo da Venezuela deve renegar qualquer regime que viole os valores democráticos ou os direitos humanos.
Óscar disparou contra o edifício, sem causar vítimas.
Mais tarde, declarou em redes sociais que a ação havia sido planejada de forma a não ferir ninguém.
Outras ações de Pérez foram acontecendo, nos meses seguintes, desafiando o poder do narco-traficante que condenava o país à fome e à miséria absolutas.
Pérez se transformou num foragido, caçado pelos coletivos do tirano.
Em dezembro de 2017, Pérez desafiou pela última vez o poder de Maduro.
No comando de uma operação da resistência, tomou sem luta um quartel da Guarda Nacional Venezuelana e o evento foi gravado como sempre pelo próprio Pérez.
Pouco menos de um mês depois, denunciado por traidores que entregaram o local onde se encontrava, Óscar foi localizado e cercado por um enorme aparato militar com mais de 600 homens, a maioria criminosos contratados por Maduro para formar um exército paramilitar.
No dia 15 de janeiro, Óscar filmou tudo e colocou no Instagram, como era seu costume, e o mundo assistiu pasmo o seu assassinato.
Apesar de tentar de todas as formas negociar e se render, já que haviam mulheres e crianças na casa, a ordem de Maduro era clara: assassinar a todos!
E assim foi feito, diante do mundo.
Crianças, mulheres, Óscar e seus companheiros… todos abatidos covardemente.Na noite do mesmo dia, Emma conversava comigo, desconsolada e completamente abatida.
Me pediu para que desenhasse um retrato de Óscar para ser colocado em seu túmulo, se conseguissem.
Eu já tinha outros estudos dele, mas era preciso um especial, naquele momento.
Não havia tempo, e usei uma das fotos de Pérez para desenhar o que seria uma homenagem de todos ao homem que agora era reconhecido com um grande herói.
A imagem triste da lápide de Óscar que rodou o mundo.
A triste imagem rodou o mundo e os jornais nos dias seguintes.
Chegou ao New York Times da América Latina e dezenas de outros jornais do mundo.
Hoje, depois de dois anos, conversando como sempre com Emma, me vem a sensação triste que este foi um retrato que eu gostaria de nunca ter desenhado.
Nem o mundo nem o povo venezuelano mereciam essa triste imagem encostada numa lápide com o nome de um jovem herói cujo único crime foi lutar pela liberdade.
Servirá, no futuro, apenas para atestar a crueldade e os crimes de um tirano que assassina seus inimigos, como fez com vários que ousaram se opor a ele além de Óscar Pérez.
Maduro estará para sempre nos livros de história como um tirano assassino, como foram antes dele Che Guevara ou Fidel Castro.
E Óscar Pérez como um símbolo da luta pela liberdade entre seu povo.
E de todo o povo da América Latina, como o herói que foi e sempre será.
De EMMA SARPENTIER, sobre o 15 de janeiro de 2018:
‘É importante esclarecer que naquele fatídico 15 de Janeiro Óscar foi cercado ao amanhecer por mais que 600 homens: as forças chavistas, cubanas, russas, chinesas e iranianas atacaram soldados que já tinham se rendido. Óscar Pérez filmou aquele ataque e disse: “Estamos encurralados, superados em número pelas outras forças, queremos nos entregar mas já disseram que vão nos executar. Eu peço que não continuem atirando, há civis e uma mulher aqui”
As forças de ocupação que estão dentro de Venezuela continuaram atirando até com misseis.
Esse foi o pior massacre desse século mostrado ao mundo pelo mártir Óscar Pérez.
Em algum momento de sua curta mas heroica carreira disse: ” Eu quero fazer a diferença!”
Sem duvidas ele fez a diferença.
Enfrentou não apenas o chavismo mas também os interesses da China, Rússia, Irã e a todos os paramilitares que pertencem ao Foro de São Paulo.
Óscar lutou e sonhou com uma Venezuela e América livres.

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