A progressão global das redes sociais não se coaduna com a estupidez provinciana dos trogloditas que transitam pelo planeta. É incrível, mas, mesmo diante do avanço da intercomunicação pessoal ainda persistem tribos de imbecis que usam um poderoso aparato de comunicação como se fossem bordunas. Não estou falando dos pedófilos, dos difamadores compulsivos, dos marginais em rede, dos traficantes de influência e proxenetas que só gozam quando desmoralizam os oponentes e ofendem o prestigio pessoal dos opositores. Esses são caso de polícia.
Estou falando de um ‘bando’ de ignorantes, intelectualmente incapazes de dar um salto qualitativo da educação básica para a cultura digital, mas que, paradoxalmente, têm condições econômicas para suprir os gastos de uma viagem para a Rússia e. de lá – de tão longe se fazem tão perto – postando nas redes sociais ‘gracinhas’ repulsivas com as mulheres russas.
Depois que seus atos deploráveis ganharam dimensão global – muito acima do que suas cabecinhas estúpidas poderiam supor – os analfabetos digitais pedem desculpas. Falam que estão sendo prejudicados no trabalho e que são pessoas de bem e pais de família.
Se o subdesenvolvimento clássico somado ao analfabetismo monstro já atravanca o país, prejudica a cultura e lesa a sociedade, o subdesenvolvimento digital trará consequências ainda mais duras para a sociedade brasileira.
Antes de se exibir para os ‘amiguinhos’ com gracinhas ofensivas, os delinquentes digitais deveriam se informar com mais afinco. Para isso não precisariam sequer desembolsar muita grana. A informação em rede é de graça. Até mesmo as mais qualificadas.
Se não fossem tão estúpidos, arrogantes e, claro, despojados de humor, evitariam ofender as pessoas para depois se vitimizarem ao modo dos covardes.
O trem da política brasileira está lotado de energúmenos assim!
Bastava que se lembrassem – caso se dedicassem a ler – um episódio sombrio que aconteceu em 2013 e custou o emprego e a estima pessoal da Justine Sacco, então diretora de comunicação da InterActive.
Momentos antes de embarcar, já no aeroporto, a fim de dar uma relaxada antes da longa viagem dos EUA para a África do Sul, Justine postou uma ‘gracinha’ no Twitter que arrasou sua vida profissional e pessoal: “Indo para a África. Espero não contrair Aids. Brincadeira. Sou branca! ”.
Na sua ‘branca’ inocência, Justine achou que sua mensagem seria lida apenas pelos seus 200 seguidores.
Porém, um dos seus ‘amigos’, era funcionário do site Buzzfeed.com, que compartilhou de montão até chegar na mesa de um editor de um grande veículo da imprensa norte americana.
Um pouco antes de desembarcar no destino, Justine já tinha sido demitida em voo. Ela apagou a mensagem e a própria conta no Twitter. Entretanto, nesse curto espaço de tempo ela já era alvo de insultos nas redes sociais a ponto de se tornar a hashtag #JustineSacco, no período uma das mais debatidas no Twitter.
A demissão da executiva não abrandou a ira dos ofendidos. Durante um longo tempo a mensagem da Justine continuava sendo comentada nas redes.
A ABC News abriu uma pauta para ela se justificar: “Palavras não podem expressar o quanto me arrependo e o quanto é necessário para eu pedir desculpas ao povo sul-africano, que ofendi com uma mensagem desnecessária e insensível. ”
Na ocasião, a executiva lembrou que nasceu na África do Sul. Até isso foi inútil.
Ela desprezou um fato que os torcedores brasileiros ignorantes também desprezaram: A Internet é uma rede global. Não se trata mais de uma ofensa restrita aos africanos, aidéticos, russas e brasileiros.
Na cultura digital é difícil – para não dizer impossível – se desculpar e ser perdoado por todo povo da internet.
Talvez – tenho esperança- adentramos uma fase da cultura humana que torna as pessoas mais adultas e responsáveis por suas palavras, atos e ações e as ofensas boçais aos judeus, postadas por cínicos ideologizados que se apresentam como progressistas mas são claramente antissemitas.
Contra os negros, por pessoas que se dizem antirracistas. Aos gays, por pessoas que se consideram tolerantes e às mulheres e crianças de todas as etnias, porque são mulheres e crianças, revele, com crueza, o lado mais sombrio dos ‘bonzinhos’ e a maldade que ‘ingenuamente’ são capazes de perpetrar contra pessoas indefesas.
Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial “Em Busca da Essência” Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.