Sou alucinado com a palavra, profissão, título: Brazilianist.
A primeira vez que tomei conhecimento de um Brasilianist, Brasilianista ou Brazilianista foi lendo jornal.
Depois de extenso blá blá blá de principiantes e fracos, a assinatura: fulano de tal é brasilianista. Juramentado.
O que é? Grosso modo, um estrangeiro especialista em Brasil. Uma pessoa que, em teoria, estuda, pesquisa, dá aulas, escreve e publica sobre o Brasil. Inocente…
E escreve sobre tudo: cultura, comportamento, política, economia, história e mais um monte de etc.
É o pHoDão em Brasil!
Isso, num planeta, em que raros gênios da raça brasileira entendem o Brasil.
Com algumas exceções, claro. Eu mesmo, conheço muito pouco o Brasil. E conheço o suficiente para ter certeza de que é Cronicamente Inviável. Para mim, não tem jeito que dê jeito no Brasil.
Aqui nada de bom dá certo. Nada civilizado funciona. E quando funciona, funciona errado ou ao contrário.
Por estas e outros guardo severa antipatia, por exemplo, destes jogadores da seleção brasileira. Da maioria, sei nem o nome. Eles, como certos candidatos à Presidência da República, só dão as caras de bunda à tapa, de quatro em quatro anos. E juntos, porque Copa do Mundo e presidenciais, desde 2002, acontecem no mesmo ano, de quatro, literalmente.
Os jogadores de futebol, todos “estrangeiros” e brasilianistas milionários, vivem na civilização com o bom e o melhor, mas, de quatro em quatro anos, voltam a ser brasileiros orgulhosos e uniformizados. É a famosa Pátria de Chuteiras, como diria meu farol, Nelson Rodrigues.
Geral e ultimamente também, eles jogam, pagam micos e gorilas como um 7 x 1, depois voltam para suas tatuagens e cabelos ridículos, festas, carrões, mulherões, mansões e pagode em Londres, Madri, Paris… Pérolas aos porcos.
Não à toa, futebol, política e religião, coisas que “não devem ser discutidas”, principalmente entre amigos, se dão tão bem. São o ópio e o pio do povo.
Não à toa, políticos, presidentes da CBF e alguns bispos andam de mãos dadas com o ilícito e, de quando em vez, vão presos.
Mas meus brazilianistas de estimação são os amigos que, há anos, moram fora do Brasil e também, de quatro em quatro anos, saem de suas tumbas douradas e começam a nos ensinar, lá dos Estados Unidos ou da Europa, como nós, neste Eldorado de Merda, temos que pensar, agir e votar.
Eles, logo eles, que saíram do Brasil espontaneamente, porque puderam, tiveram sorte e dinheiro para fugir daqui.
Eles logo eles que não conseguiram sobreviver no dia a dia brasileiro e agora, de longe, comendo caviar, arrotam mortadela nas nossas caras de bobos, os infelizes que não puderam ou não conseguiram sair do Brasil.
Eles, logo eles, que vivem das mordomias e benesses dos países mais capitalistas do mundo, lá de longe, vêm dar conselhos e ensinamentos sobre o Brasil.
Socialistas de domingo!
Falo do que sei, porque já morei seis anos fora do Brasil (França, não, Paris, mesmo). Realmente, devemos e podemos, à distância, ver o Brasil com mais imparcialidade, com menos paixão e amor de corno. Mas esta gentalha não vê. O Brasil é ótimo, mas esta gentinha não mora aqui. Ah! E já fui e amei Cuba, não, Havana mesmo; exatamente, diretamente entre duas estadias no oposto total, Nova York.
Tem muito brasileiro rico e esperto o suficiente para ficar lá fora, quietinho, curtindo a vida sem dar sermão nos infelizes que ficaram neste país amaldiçoado que desperdiça e mata esperança, futuro e vidas, diariamente.
Tem muito brasileiro rico e esperto também, que trabalha ou não, gosta e leva vida de estrangeiro no Brasil, mas duas vezes por ano vai passar férias e fazer compras pelo mundo.
Sinto inveja saudável de ambos.
Agora, a maioria dos brasileiros que vive lá fora e se acha brasilianista, principalmente de quatro em quatro anos, é apenas bando de asnos fazendo discurso sobre um tijolo ou caixote.
Conheço muito bem o tipinho.
Gente que nunca trabalhou ou estudou, nem aqui, nem lá. Ou se estudou, matou o “curso de Brasil”, sempre pensando em sair daqui. Em conseguir uma boquinha lá fora; um empreguinho, depois de ralar muito em subemprego ou um casamento com algum(a) bobão (bobona) que vai encher o saco com sotaque durante vários anos até o (a) esperto (a) conseguir cidadania, passaporte… Amor sincero custa caro.
Vale a pena mais um pouco de Nelson Rodrigues na cara da Canalha: “A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa. O padre de passeata é hoje, uma ordem tão definida, tão caracterizada como a dos beneditinos, dos franciscanos, dos dominicanos e qualquer outra. E está a serviço do ódio”.
Padres de passeatas e pintores de domingo, tão ligados?
Resposta do Posto Ipiranga do Google: “Pintor-de-domingo, tradução literal do francês ‘peintre du dimanche’, quer dizer, artista de fim de semana, amador e sem formação, que pratica a pintura não profissionalmente, mas por distração e prazer”. Tem conotação depreciativa, claro, graças aos céus, quando alguém se refere a um artista profissional como um pintor do domingo.
Assistentes sociais de sexta feira. Distribuidores de sopa em feriado que fazem propaganda da própria caridade. Doadores de Médicos Sem Fronteira pela Internet. Brasileiros esquerdinhas de passeata e de domingo, que se reproduzem em cativeiro, que “amam” e deixam o Brasil; salvem as baleias e poupem-me!
PS: PT saudações, nunca mais! 17 beijos e abraços.
Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.